Hilda Hilst (1930-2004)
De pau em riste
O anão Cidão
Vivia triste.
Além do chato de ser anão
Nunca podia
Meter o ganso na tia
Nem na rodela do negrão.
É que havia um problema:
O porongo era longo
Feito um bastão.
E quando ativado
Virava... a terceira perna do anão.
Um dia... sentou-se o anão triste
Numa pedra preta e fria.
Fez então uma reza
Que assim dizia:
Se me livrasses, Senhor,
Dessa estrovenga
Prometo grana em penca
Pras vossas igrejas.
Foi atendido.
No mesmo instante
Evaporou-se-lhe
O mastruço gigante.
Nenhum tico de pau
Nem bimba nem berimbau
Pra contar o ocorrido.
E agora
Além do chato de ser anão
Sem mastruço, nem fole
Foi-se-lhe todo o tesão.
Um douto bradou: ó céus!
Por que no pedido que fizeste
Não especificaste pras Alturas
Que te deixasse um resto?
Porque Pra Deus
O anão respondeu
Qualquer dica
É compreensão segura.
Ah, é, negão? Então procura.
E até hoje
Sentado na pedra preta
O anão procura as partes pudendas,
Olhando a manhã fria.
Moral da estória:
Ao pedir, especifique tamanho
grossura e quantia.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
A imagem do meu homem
Angelica de Lis (1984-2009)
No espelho o reflexo da paixão.
O seu corpo sob o meu, os toques,
Suas mãos, nos olhos a expressão
Do desejo, do fogo queimando,
O suor, as faces, o cheiro, os pelos,
O beijo, os gritos, o tesão,
– O nosso gozo.
Nossa imagem
O reflexo do desejo que nos une
O calor que queima nossos corpos, nossas almas
A minha fome insaciável
Meu sexo que nunca se cansa
Teu sexo a me penetrar,
Teu sexo me fazendo gozar.
Nossa imagem
A segunda metade de nós
Onde eu vejo meu sorriso brilhando por te ter dentro de mim.
Eu olhando em teus olhos enquanto me penetras.
Nossa imagem
Nosso amor
Refletido no espelho
A miragem da cena sagrada
– do deleite, da expressão de nos corpos, nossas faces,
Olhando nosso amor.
No espelho o reflexo da paixão.
O seu corpo sob o meu, os toques,
Suas mãos, nos olhos a expressão
Do desejo, do fogo queimando,
O suor, as faces, o cheiro, os pelos,
O beijo, os gritos, o tesão,
– O nosso gozo.
Nossa imagem
O reflexo do desejo que nos une
O calor que queima nossos corpos, nossas almas
A minha fome insaciável
Meu sexo que nunca se cansa
Teu sexo a me penetrar,
Teu sexo me fazendo gozar.
Nossa imagem
A segunda metade de nós
Onde eu vejo meu sorriso brilhando por te ter dentro de mim.
Eu olhando em teus olhos enquanto me penetras.
Nossa imagem
Nosso amor
Refletido no espelho
A miragem da cena sagrada
– do deleite, da expressão de nos corpos, nossas faces,
Olhando nosso amor.
domingo, 26 de dezembro de 2010
Corpoenigma – coxas
Zemaria Pinto
portal dos segredos
intraduzíveis do tempo
– delírio e torpor
colinas que se erguem
num poema de Neruda
– rochedos de sonho
colunas de fogo
no fulcro das catedrais
– mistério e paixão
portal dos segredos
intraduzíveis do tempo
– delírio e torpor
colinas que se erguem
num poema de Neruda
– rochedos de sonho
colunas de fogo
no fulcro das catedrais
– mistério e paixão
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Safo e Alceu, 3
Rogel Samuel
deitaram-se nuas
no meio da noite
as meninas virgens
deitaram-se nuas
as doces meninas
e ainda eram virgens
e os seus esposos
acenaram logo
com as mãos erguidas
e logo chegaram
no meio da noite
como que perdidos
deitaram-se nuas
todas as meninas
escondendo as graças
e os seus consortes
logo as sucederam
e imprimiram o selo
estavam tão nuas
e eram mais puras
que longínqua estrela
e na amena noite
só fugiu o tempo
envolto num lenço
e depois de amor
daquele conúbio
choveram diamantes
o fecundo hino
daquelas meninas
musas citadinas
naquela noite toda
caem as flores finas
deusas fesceninas
e os seus amigos
inventaram lira
e os seus caprichos
deitaram-se nuas
no meio da noite
as meninas virgens
deitaram-se nuas
as doces meninas
e ainda eram virgens
e os seus esposos
acenaram logo
com as mãos erguidas
e logo chegaram
no meio da noite
como que perdidos
deitaram-se nuas
todas as meninas
escondendo as graças
e os seus consortes
logo as sucederam
e imprimiram o selo
estavam tão nuas
e eram mais puras
que longínqua estrela
e na amena noite
só fugiu o tempo
envolto num lenço
e depois de amor
daquele conúbio
choveram diamantes
o fecundo hino
daquelas meninas
musas citadinas
naquela noite toda
caem as flores finas
deusas fesceninas
e os seus amigos
inventaram lira
e os seus caprichos
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Pivete
Cândida Alves
Na ponte velha da sete
esbarrei com um pivete
cheirando cola
e tocando punheta
Com o olhão arregalado
dando pinta de careta
resmungou todo abusado
hummm! Senti cheiro de boceta!
Na ponte velha da sete
esbarrei com um pivete
cheirando cola
e tocando punheta
Com o olhão arregalado
dando pinta de careta
resmungou todo abusado
hummm! Senti cheiro de boceta!
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Coito in/ver/tido 2
Marcus Accioly
por detrás o prazer é diferente
do gozo pela frente (e pela boca
e nas mãos e nas) toda a carne é pouca
para tanto desejo (pela frente
o amor ao próprio amor se satisfaz)
mas é diverso o coito por detrás
da fêmea (é como os animais copulam)
existe um cio por detrás (um jeito
de puxar os cabelos quando ondulam
como crinas) e o gozo insatisfeito
precisa de mais gozo para ser
em sua plenitude e goza mais
(se uma só vez o amor acontecer
é preciso que seja por detrás)
por detrás o prazer é diferente
do gozo pela frente (e pela boca
e nas mãos e nas) toda a carne é pouca
para tanto desejo (pela frente
o amor ao próprio amor se satisfaz)
mas é diverso o coito por detrás
da fêmea (é como os animais copulam)
existe um cio por detrás (um jeito
de puxar os cabelos quando ondulam
como crinas) e o gozo insatisfeito
precisa de mais gozo para ser
em sua plenitude e goza mais
(se uma só vez o amor acontecer
é preciso que seja por detrás)
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Corpoenigma – púbis
Zemaria Pinto
secreta jazida
lavada em lava e desejo
– sacrário do corpo
poema emoldurado
pelos pelos da manhã
– chispas da paixão
vale natural
universo em movimento
– essências e mel
secreta jazida
lavada em lava e desejo
– sacrário do corpo
poema emoldurado
pelos pelos da manhã
– chispas da paixão
vale natural
universo em movimento
– essências e mel
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Erótica batalha
Sebastião Nunes
Tua latejante buceta palpitante.
Meu amargo cacete perfilado.
Ovos batem continência à beira do saco.
Como um guerreiro de merda
o cu recua ante a dura ofensiva.
Grandes e pequenos lábios
batem palmas e riem.
Meu cacete é a bandeira nacional.
A guerra é santa e eu avanço.
Tua latejante buceta palpitante.
Meu amargo cacete perfilado.
Ovos batem continência à beira do saco.
Como um guerreiro de merda
o cu recua ante a dura ofensiva.
Grandes e pequenos lábios
batem palmas e riem.
Meu cacete é a bandeira nacional.
A guerra é santa e eu avanço.
domingo, 12 de dezembro de 2010
a metafísica é uma mocinha
Simão Pessoa
a metafísica é uma mocinha
muito bonita e prendada
não tivesse um caso nebuloso
com o processo ôntico do tempo
juro que trepava com ela
a metafísica é uma mocinha
muito bonita e prendada
não tivesse um caso nebuloso
com o processo ôntico do tempo
juro que trepava com ela
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Corpoenigma – ventre
Zemaria Pinto
verbo aprisionado
nas fronteiras do indizível
– mística metáfora
seara do tempo
tecida em gestos de amor
– sementes de luz
nicho de esperanças
desenhadas sob o sol
– repouso do sonho
verbo aprisionado
nas fronteiras do indizível
– mística metáfora
seara do tempo
tecida em gestos de amor
– sementes de luz
nicho de esperanças
desenhadas sob o sol
– repouso do sonho
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Corisco
Bruna Lombardi
Vem pra cá cavalo doido
que eu vou te beber todo
atravessa esse meu fogo
te arremessa nesse jogo
de cabeça.
Que cresça a tua vontade
que seja feita a tua vaidade
nessa terra de homens e mistério.
Te quero
na relva molhada
me quero ver derrubada
me transpassa
a arco e flecha
lança e mordaça.
Te fecha o trinco
Te tranca
barra a passagem. Espanta
a última solidão que te ameaça
– que o ritual comece –
(ah se eu fosse se eu pudesse)
que este tal de amor se faça.
Vem pra cá cavalo doido
que eu vou te fazer a festa
que eu vou conhecer a tua raça
Cigano. Mestiço.
Teu pulso arisco
o risco do teu jugo
o perigo de tua caça
eu arrisco.
Me faça que eu fico contigo
me cobre no dia da graça.
Vem pra cá cavalo doido
que eu vou te beber todo
atravessa esse meu fogo
te arremessa nesse jogo
de cabeça.
Que cresça a tua vontade
que seja feita a tua vaidade
nessa terra de homens e mistério.
Te quero
na relva molhada
me quero ver derrubada
me transpassa
a arco e flecha
lança e mordaça.
Te fecha o trinco
Te tranca
barra a passagem. Espanta
a última solidão que te ameaça
– que o ritual comece –
(ah se eu fosse se eu pudesse)
que este tal de amor se faça.
Vem pra cá cavalo doido
que eu vou te fazer a festa
que eu vou conhecer a tua raça
Cigano. Mestiço.
Teu pulso arisco
o risco do teu jugo
o perigo de tua caça
eu arrisco.
Me faça que eu fico contigo
me cobre no dia da graça.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Sonetos Luxuriosos – 3
Aretino (1492-1556)
Para gozar Europa, em boi mudou-se
Jove, pelo desejo compelido,
E em mais formas bestiais, posta no olvido
A sua divindade, transformou-se.
Marte perdeu também aquele doce
Repouso a um Deus somente consentido.
Por seu muito trepar foi bem punido,
Qual rato que na rede embaraçou-se.
Este que ora mirais, em contradita,
Podendo, sem perigo, a vida inteira
Trepar, a cu nem cona se habilita.
Por isso, que é sem dúvida uma asneira
Inaudita, solene, verdadeira,
Nunca mais neste mundo se repita.
Insossa brincadeira!
Pois não sabes, meu puto, que é malsão
Fazer boceta e cu da própria mão?
(Trad. José Paulo Paes)
Para gozar Europa, em boi mudou-se
Jove, pelo desejo compelido,
E em mais formas bestiais, posta no olvido
A sua divindade, transformou-se.
Marte perdeu também aquele doce
Repouso a um Deus somente consentido.
Por seu muito trepar foi bem punido,
Qual rato que na rede embaraçou-se.
Este que ora mirais, em contradita,
Podendo, sem perigo, a vida inteira
Trepar, a cu nem cona se habilita.
Por isso, que é sem dúvida uma asneira
Inaudita, solene, verdadeira,
Nunca mais neste mundo se repita.
Insossa brincadeira!
Pois não sabes, meu puto, que é malsão
Fazer boceta e cu da própria mão?
(Trad. José Paulo Paes)
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Corpoenigma – seios
Zemaria Pinto
expostas ao sol,
transparências de alabastro
latejam vulcões
raízes plantadas
no vasto campo do corpo
– casulo de sonhos
úmidas de orvalho
na floração matinal
– pétalas rosáceas
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Rapaz de libra
Clotilde Tavares
Seu destino
é ser amado por toda a vida
por uma sagitariana maluca
com ancas de besta
e boca de menina.
Seu destino
é ser amado por toda a vida
por uma sagitariana maluca
com ancas de besta
e boca de menina.
domingo, 28 de novembro de 2010
Soneto 344 Feminista
Glauco Mattoso
“Mulher tem que chupar sem reclamar!”
A banda de Brasília não perdoa.
Seu rock a fêmea humilha, e o que apregoa
reflete algum machismo em cada lar.
“Mulher tem que gemer! Tem que apanhar!”
Insiste o rock, e zoa, inda que doa
na séria consciência da pessoa
humana, que não cabe em seu lugar.
Parir, amamentar, dar gozo, é tudo
que os homens lhe concedem, grita a dita,
afora o afã doméstico, que é mudo.
Às vezes, uma ou outra se habilita
nas artes, no poder, no amor, no estudo...
Mas só se faz capaz se for bonita.
“Mulher tem que chupar sem reclamar!”
A banda de Brasília não perdoa.
Seu rock a fêmea humilha, e o que apregoa
reflete algum machismo em cada lar.
“Mulher tem que gemer! Tem que apanhar!”
Insiste o rock, e zoa, inda que doa
na séria consciência da pessoa
humana, que não cabe em seu lugar.
Parir, amamentar, dar gozo, é tudo
que os homens lhe concedem, grita a dita,
afora o afã doméstico, que é mudo.
Às vezes, uma ou outra se habilita
nas artes, no poder, no amor, no estudo...
Mas só se faz capaz se for bonita.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Corpoenigma – boca
Zemaria Pinto
tecida em cetim
no jardim que desabrocha
– veludo carmim
florais do desejo
inauguram a manhã
na febre do beijo
sangrando, o morango
desfaz-se em cor e volúpia
submisso ao marfim
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Bicho Arredio
Anne Lucy
Eu sou um bicho arredio
passo fome, passo frio
mas nunca desamor
Fui criada mal amada
desci morro, subi escada
pra aprender a não ter paz
Sou mistura de índia-branca
com o resto de outras raças
pra ser sempre tua caça
Sou feroz e sou mansa
silvestre e doméstica
de brincar nunca se cansa
Em dias que estou no cio
nego fogo, quero o rio
pra acalmar os demônios
E nessa busca insana
por parca racionalidade
aonde há só instinto selvagem
Um corre outro alcança
e se enroscam nessa dança
de acasalar bobagens.
Eu sou um bicho arredio
passo fome, passo frio
mas nunca desamor
Fui criada mal amada
desci morro, subi escada
pra aprender a não ter paz
Sou mistura de índia-branca
com o resto de outras raças
pra ser sempre tua caça
Sou feroz e sou mansa
silvestre e doméstica
de brincar nunca se cansa
Em dias que estou no cio
nego fogo, quero o rio
pra acalmar os demônios
E nessa busca insana
por parca racionalidade
aonde há só instinto selvagem
Um corre outro alcança
e se enroscam nessa dança
de acasalar bobagens.
Lua de mel
Leila Miccolis
Nossa primeira noite foi a melhor de todas.
Preparei-te cicuta no café,
espalhaste tarântulas pela cama.
Apagada a luz,
eu esperava, de quatro, que viessem mil homens
trazendo em cada mão seus vibradores.
Por fim, a violação:
em posições exóticas
pelos cinco sentidos te gozei,
currei-te sete vezes e mais sete,
e me arrancaste o hímen com gilete.
Nossa primeira noite foi a melhor de todas.
Preparei-te cicuta no café,
espalhaste tarântulas pela cama.
Apagada a luz,
eu esperava, de quatro, que viessem mil homens
trazendo em cada mão seus vibradores.
Por fim, a violação:
em posições exóticas
pelos cinco sentidos te gozei,
currei-te sete vezes e mais sete,
e me arrancaste o hímen com gilete.
sábado, 20 de novembro de 2010
Soneto XXXV
Bocage (1765-1805)
Se tu visses, Josino, a minha amada
Havias de louvar o meu bom gosto;
Pois seu nevado, rubicundo rosto
Às mais formosas não inveja nada:
Na sua boca Vênus faz morada:
Nos olhos tem Cupido as setas posto;
Nas mamas faz Lascívia o seu encosto,
Nela, enfim, tudo encanta, tudo agrada:
Se a Ásia visse coisa tão bonita
Talvez lhe levantasse algum pagode
A gente, que na foda se exercita!
Beleza mais completa haver não pode:
Pois mesmo o cono seu, quando palpita,
Parece estar dizendo: "Fode, fode!"
Se tu visses, Josino, a minha amada
Havias de louvar o meu bom gosto;
Pois seu nevado, rubicundo rosto
Às mais formosas não inveja nada:
Na sua boca Vênus faz morada:
Nos olhos tem Cupido as setas posto;
Nas mamas faz Lascívia o seu encosto,
Nela, enfim, tudo encanta, tudo agrada:
Se a Ásia visse coisa tão bonita
Talvez lhe levantasse algum pagode
A gente, que na foda se exercita!
Beleza mais completa haver não pode:
Pois mesmo o cono seu, quando palpita,
Parece estar dizendo: "Fode, fode!"
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Poemeto erótico
Manuel Bandeira (1886-1968)
Teu corpo claro e perfeito,
– Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...
Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...
Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...
Teu corpo é a brasa do lume...
Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...
É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Quem em cantigas se derrama...
Volúpia da água e da chama...
A todo o momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...
Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...
Teu corpo claro e perfeito,
– Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...
Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...
Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...
Teu corpo é a brasa do lume...
Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...
É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Quem em cantigas se derrama...
Volúpia da água e da chama...
A todo o momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...
Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Teus seios
Eno Theodoro Wanke (1929-2001)
Não posso me esquecer, por mais que tente,
dos teus seinhos, numa nostalgia
de tê-los, de aninhar na mão vazia
a doce redondez, macia e quente.
E que ternura quando, humildemente,
a minha rude mão te acaricia....
– A carne do teu seio é tão macia,
e que meiguice linda põe na gente!...
Porém, se afago em minha ardente mão
teus seios, maus presságios te atormentam
e choras... mas não tens porque chorar!
– Adoro-te, e na minha devoção
os meus pobres carinhos representam
meu rito, e teus seios, meu altar!
Não posso me esquecer, por mais que tente,
dos teus seinhos, numa nostalgia
de tê-los, de aninhar na mão vazia
a doce redondez, macia e quente.
E que ternura quando, humildemente,
a minha rude mão te acaricia....
– A carne do teu seio é tão macia,
e que meiguice linda põe na gente!...
Porém, se afago em minha ardente mão
teus seios, maus presságios te atormentam
e choras... mas não tens porque chorar!
– Adoro-te, e na minha devoção
os meus pobres carinhos representam
meu rito, e teus seios, meu altar!
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Quero
Anne Lucy
Quero teu gosto suave
Na minha boca a derreter
Quero tua pele macia
Pro meu corpo aquecer
Quero ser o motivo
Do teu enrijecimento
Quero te guardar por inteiro
E realizar cada lamento
Vou virar concubina, freira
Seja o que for estarei a seu dispor
Serei carne exposta na feira
Leve-me aonde sabes me fazer chegar
Sem mais delongas
Vem me fazer suspirar.
Quero teu gosto suave
Na minha boca a derreter
Quero tua pele macia
Pro meu corpo aquecer
Quero ser o motivo
Do teu enrijecimento
Quero te guardar por inteiro
E realizar cada lamento
Vou virar concubina, freira
Seja o que for estarei a seu dispor
Serei carne exposta na feira
Leve-me aonde sabes me fazer chegar
Sem mais delongas
Vem me fazer suspirar.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Soneto CL
Antônio Lobo de Carvalho (1730-1787)
A certo alferes, cuja mulher tinha mais maridos.
Não me quero calar, senão abafo:
Eu declaro quem és, ó bode humano,
Que da cobiça vil no altar profano
Sacrificando estás de injúria gafo:
Eu declaro quem és, eu já te estafo,
E com raivosas sátiras te esgano;
Depois mijando em ti, cuco magano,
Deixo os cabrões, e com os tafuis me safo:
Não me posso conter, e sem suborno,
Digo que és dos alferes lixo e borra,
Oh tu, que trazes militar adorno!
Ora quero aprontar antes que morra
Dois mimos; – para ti, corno e mais corno;
Para tua mulher, porra e mais porra.
A certo alferes, cuja mulher tinha mais maridos.
Não me quero calar, senão abafo:
Eu declaro quem és, ó bode humano,
Que da cobiça vil no altar profano
Sacrificando estás de injúria gafo:
Eu declaro quem és, eu já te estafo,
E com raivosas sátiras te esgano;
Depois mijando em ti, cuco magano,
Deixo os cabrões, e com os tafuis me safo:
Não me posso conter, e sem suborno,
Digo que és dos alferes lixo e borra,
Oh tu, que trazes militar adorno!
Ora quero aprontar antes que morra
Dois mimos; – para ti, corno e mais corno;
Para tua mulher, porra e mais porra.
domingo, 7 de novembro de 2010
A medida para o malho
Gregório de Matos (1633-1696)
Mote: Não quero mais do que tenho.
A medida para o malho,
Pela taxa da Cafeira,
Que tem do malho a craveira,
São dois palmos de caralho:
Não quer nisto dar um talho,
E eu zombo do seu empenho,
Pois tendo um palmo de lenho,
Com que outras putas desalmo,
Inda que tenha um só palmo,
Não quero mais do que tenho.
Mote: Não quero mais do que tenho.
A medida para o malho,
Pela taxa da Cafeira,
Que tem do malho a craveira,
São dois palmos de caralho:
Não quer nisto dar um talho,
E eu zombo do seu empenho,
Pois tendo um palmo de lenho,
Com que outras putas desalmo,
Inda que tenha um só palmo,
Não quero mais do que tenho.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Amor em japonês
Eliakin Rufino
Aí você me convidou
para beber saquê
e eu saquei seu astral.
Percebi
que nós íamos ter
uma noite oriental.
Retirei do quarto a cama
arranjei um ikebana
escrevi um haikai.
Arrumei o tatami
fiz um origami
podei o bonsai.
Acendi a lanterna
esquentei o saquê
servi o sushi.
O cheiro do incenso
até parecia
que o Japão é aqui.
O vento do outono
abriu teu quimono
pela primeira vez.
Bebendo saquê
fizemos amor
em japonês.
Aí você me convidou
para beber saquê
e eu saquei seu astral.
Percebi
que nós íamos ter
uma noite oriental.
Retirei do quarto a cama
arranjei um ikebana
escrevi um haikai.
Arrumei o tatami
fiz um origami
podei o bonsai.
Acendi a lanterna
esquentei o saquê
servi o sushi.
O cheiro do incenso
até parecia
que o Japão é aqui.
O vento do outono
abriu teu quimono
pela primeira vez.
Bebendo saquê
fizemos amor
em japonês.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Trepada trepidante
Eduardo Kac
quando você me chupa toda
eu adoro te beijar
e respirar na tua boca
cheiro de xereca
uma lambida de lambuja
uma linguada na libido
eu quero tudo que é proibido
molha o meu cu a tua língua
o prazer não conhece o nojo
e eu te beijo em pleno gozo
uma lambida de lambuja
uma linguada na libido
eu quero tudo que é proibido
Aaaiiiii..., que trepada tttrrreeepppiiidddaaannnttteee
quando você me chupa toda
eu adoro te beijar
e respirar na tua boca
cheiro de xereca
uma lambida de lambuja
uma linguada na libido
eu quero tudo que é proibido
molha o meu cu a tua língua
o prazer não conhece o nojo
e eu te beijo em pleno gozo
uma lambida de lambuja
uma linguada na libido
eu quero tudo que é proibido
Aaaiiiii..., que trepada tttrrreeepppiiidddaaannnttteee
sábado, 30 de outubro de 2010
Ela é uma delícia
Claufe Rodrigues (Baby the Billy)
Ela tem curvas que nem Oscar Niemeyer ousaria imaginar...
Provocante, passa a língua sobre os lábios,
lambuzados de chantilly.
Os seios são sorvetes de morango,
onde pousam duas estrelas.
Um mago míope, observando,
pensou que fossem rubis.
Os cabelos de seda e luz dão de ombros para os mortais,
e nem as Dez Mais desfilam com tanta elegância.
...Sem falar na xoxotinha,
que por várias vezes eu tive o prazer de desfrutar!...
Ela é uma delícia!
Mais inteligente que a Lúcia,
mais estimulante que a Márcia,
mais ardente que a Patrícia.
Mas é uma gata difícil,
cheia de tiques nervosos,
ataques de riso,
não sabe o que diz, o que faz,
o que quer de nós dois.
Todos os homens babam de prazer
só de vê-la passear pela orla marítima.
Quem será a próxima vítima
da sua luxúria?
Quantos rapazes serão capazes de domar
a sua fúria sexual?
Estas e outras perguntas
ficarão flanando na estratosfera,
só mesmo um cara fera em astrologia
poderá um dia decifrar.
Enquanto isso
eu cuido das minhas plantas,
esqueço as contas, preparo a janta
e espero ela chegar...
Ela tem curvas que nem Oscar Niemeyer ousaria imaginar...
Provocante, passa a língua sobre os lábios,
lambuzados de chantilly.
Os seios são sorvetes de morango,
onde pousam duas estrelas.
Um mago míope, observando,
pensou que fossem rubis.
Os cabelos de seda e luz dão de ombros para os mortais,
e nem as Dez Mais desfilam com tanta elegância.
...Sem falar na xoxotinha,
que por várias vezes eu tive o prazer de desfrutar!...
Ela é uma delícia!
Mais inteligente que a Lúcia,
mais estimulante que a Márcia,
mais ardente que a Patrícia.
Mas é uma gata difícil,
cheia de tiques nervosos,
ataques de riso,
não sabe o que diz, o que faz,
o que quer de nós dois.
Todos os homens babam de prazer
só de vê-la passear pela orla marítima.
Quem será a próxima vítima
da sua luxúria?
Quantos rapazes serão capazes de domar
a sua fúria sexual?
Estas e outras perguntas
ficarão flanando na estratosfera,
só mesmo um cara fera em astrologia
poderá um dia decifrar.
Enquanto isso
eu cuido das minhas plantas,
esqueço as contas, preparo a janta
e espero ela chegar...
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Soneto da cópula, gozos e coitos...
Alaor Tristante
Há uma fera capciosa em mim
que de quando em quando é amansada
que de quando em quando bem mais ousada
retorna desejosa e mais a fim.
Tem gente que a chama sem-vergonhice
minha puta me chama troglodita
mas com a fera não tem pieguice
some num ímpeto e após ressuscita.
Seus gestos loucos são sempre incontidos
cega por inteira não dá ouvidos
sobrevém sorrateira e cospe fogo.
Deixando-me abstrato após o logro
feições de bobo e com cara-de-pau
faz-me crer que sou mesmo um animal.
Há uma fera capciosa em mim
que de quando em quando é amansada
que de quando em quando bem mais ousada
retorna desejosa e mais a fim.
Tem gente que a chama sem-vergonhice
minha puta me chama troglodita
mas com a fera não tem pieguice
some num ímpeto e após ressuscita.
Seus gestos loucos são sempre incontidos
cega por inteira não dá ouvidos
sobrevém sorrateira e cospe fogo.
Deixando-me abstrato após o logro
feições de bobo e com cara-de-pau
faz-me crer que sou mesmo um animal.
domingo, 24 de outubro de 2010
Soneto
François de Malherbe (1555-1628)
Quinze anos eu passara, os primeiros da vida,
Sem ter sabido nunca o que era esse furor
Em que a dança do cu deixa na alma um torpor
Após a ânsia viril na cona ser remida.
Não que a morte tão doce e tão apetecida
Não me impelisse um forte, juvenil ardor,
Mas o membro que eu tinha, embora lutador
Não chegava a deixar a Dama bem servida.
Trabalho desde então com pertinácia rara
Por compensar a perda e o tempo que não pára,
Pois o sol no Poente ameaça os meus dias.
Oh Deus, venho rogar-te, meu zelo ajudai:
Para tão doce agir, meus anos alongai
Ou devolvei-me o tempo em que inda eu não fodia!
(Trad. José Paulo Paes)
Quinze anos eu passara, os primeiros da vida,
Sem ter sabido nunca o que era esse furor
Em que a dança do cu deixa na alma um torpor
Após a ânsia viril na cona ser remida.
Não que a morte tão doce e tão apetecida
Não me impelisse um forte, juvenil ardor,
Mas o membro que eu tinha, embora lutador
Não chegava a deixar a Dama bem servida.
Trabalho desde então com pertinácia rara
Por compensar a perda e o tempo que não pára,
Pois o sol no Poente ameaça os meus dias.
Oh Deus, venho rogar-te, meu zelo ajudai:
Para tão doce agir, meus anos alongai
Ou devolvei-me o tempo em que inda eu não fodia!
(Trad. José Paulo Paes)
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Eu vi um muiraquitã
João Sebastião
I
Eu vi um muiraquitã
no colo duma caboca.
Aquele bicho verdoso
era promessa de foda,
de foda duma caboca
de corpo mui feiticeiro
peitos, ancas, coxas, bunda
– nada falto, tudo farto –
amazona dos meus sonhos
princesa dos meus desejos.
Meu cacete latejou.
Tomou-me uma ânsia louca:
dominar aquele corpo
viajar naquela dona
me lambuzar no seu mel
me afogar na sua cona
lamber-lhe a flor do cuzinho
me derreter de carinho
e no auge da agonia
esporrar na sua boca.
II
Como um lobo solitário
acerquei-me da potranca.
Uns cinco chopes depois
somos amigos de infância.
A língua que me lambia
os lábios que me chupavam
os dentes que me mordiam
os braços que me prendiam
os membros se confundindo
no doce embate dos corpos:
pau no cu, pau na boceta
e enfim o gozo gritado!
Um banho reconfortante
e a caboca estava intata
insaciável, sedenta
esfregando em minha cara
boca, língua, cu, boceta
– e eu só língua, dedo e pau...
A refrega enfim se finda
com os corpos desfalecidos...
III
Na hora do desenlace
a caboca desatou
de seu colo de bacaba
a pedra muiraquitã
e prendeu-a em meu pescoço
dizendo que voltaria
desde que eu estivesse usando
aquele símbolo mago.
Lambeu-me a cara e os mamilos
e beijou o muiraquitã.
Passaram-se já 3 anos
e a malvada não voltou...
Não há um dia que passe
sem que eu lembre da caboca;
sem eu lembre da mulher
da foda mais prazerosa;
sem que eu lembre da alegria
que eu senti quando, um dia,
no colo duma caboca
eu vi um muiraquitã.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Uma noite com meu homem
Angelica de Lis (1984-2009)
Eu quero ser tua esta noite.
Quero que me possuas sem pudor,
sem carinho, sem medo de me machucar
e até mesmo sem amor.
Quero te entregar o meu corpo, o meu sangue e a minha carne,
e não quero que sintas dó e nem piedade,
quero apenas que me enrabes.
Que na minha boceta teu pau seja realizado,
e jorre em mim todo o teu gozo, deixando o meu tesão saciado.
E enquanto me penetras, quero ouvir sacanagens,
bobagens, loucuras que só se diz
numa foda selvagem.
Que todos os dedos de tuas mãos em mim sejam introduzidos,
que procurem em meus orifícios o prazer desconhecido.
Que tuas mãos, depois de me baterem, deixem seus sinais.
– A lembrança marcada no meu corpo, depois de nossos uis e ais.
Que minha boceta seja chupada, lambida, mordida,
que tua língua me deixe enlouquecida,
pedindo que me enterre teu pau e teus medos.
– Esta noite eu quero gozar, fodendo de todos os jeitos.
Eu quero ser tua esta noite.
Quero que me possuas sem pudor,
sem carinho, sem medo de me machucar
e até mesmo sem amor.
Quero te entregar o meu corpo, o meu sangue e a minha carne,
e não quero que sintas dó e nem piedade,
quero apenas que me enrabes.
Que na minha boceta teu pau seja realizado,
e jorre em mim todo o teu gozo, deixando o meu tesão saciado.
E enquanto me penetras, quero ouvir sacanagens,
bobagens, loucuras que só se diz
numa foda selvagem.
Que todos os dedos de tuas mãos em mim sejam introduzidos,
que procurem em meus orifícios o prazer desconhecido.
Que tuas mãos, depois de me baterem, deixem seus sinais.
– A lembrança marcada no meu corpo, depois de nossos uis e ais.
Que minha boceta seja chupada, lambida, mordida,
que tua língua me deixe enlouquecida,
pedindo que me enterre teu pau e teus medos.
– Esta noite eu quero gozar, fodendo de todos os jeitos.
domingo, 17 de outubro de 2010
Vem sentar-te
Marcus Vinicius de Freitas
Vem sentar-te comigo, Lídia, ali
no canto mais escuro da varanda.
O refrescante cheiro da vianda
tornará chã a Arcádia de rubi
inventada por poetas eunucos
a quem bastava a mão na tua mão.
Para mim, vale muito mais o muco
da tua boceta ardida de tesão.
O toque da tua mão seria bom
se fosse, segurando no cacete,
para tocar punheta infinita.
E o leite escorreria num filete
que beberias, licor de bombom,
balindo – árcade – como cabrita.
Vem sentar-te comigo, Lídia, ali
no canto mais escuro da varanda.
O refrescante cheiro da vianda
tornará chã a Arcádia de rubi
inventada por poetas eunucos
a quem bastava a mão na tua mão.
Para mim, vale muito mais o muco
da tua boceta ardida de tesão.
O toque da tua mão seria bom
se fosse, segurando no cacete,
para tocar punheta infinita.
E o leite escorreria num filete
que beberias, licor de bombom,
balindo – árcade – como cabrita.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Zoofilia – Touro
Nei Leandro de Castro
O touro dá lições de sexo
ao puritano babaca.
Antes da belíssima trepada
ele lambe docemente
a boceta da vaca.
O touro dá lições de sexo
ao puritano babaca.
Antes da belíssima trepada
ele lambe docemente
a boceta da vaca.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Alguns gostam de fiofó
Chico Doido de Caicó (1922-1991)
Alguns gostam de fiofó
Outros de suco de mangaba
Eu, mais modesto,
Gosto mesmo é de uma
Xiranhanhanhanhã em noite de luar.
Alguns gostam de fiofó
Outros de suco de mangaba
Eu, mais modesto,
Gosto mesmo é de uma
Xiranhanhanhanhã em noite de luar.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
A gueixa I
Paulo Franchetti
Uma gueixa velhota, tosca e burra,
Um dia quis bater uma punheta.
Como buscasse em vão alguma curra
E não achasse pinto, fez mutreta:
Enfiou pelo cu vasto salame,
Agasalhou um nabo bem folhudo,
Um cru pedaço de toucinho, inhame,
E um braço de japona de veludo.
Guarda-chuva, abajur, pano de prato,
Pé de cadeira, cabo de martelo,
Torneira, mangueirinha, telefone:
Tudo comeu seu velho rabo ingrato,
Sem lhe dar paz, sem se aplacar o anelo
De tal olho, voraz como um ciclone!
Uma gueixa velhota, tosca e burra,
Um dia quis bater uma punheta.
Como buscasse em vão alguma curra
E não achasse pinto, fez mutreta:
Enfiou pelo cu vasto salame,
Agasalhou um nabo bem folhudo,
Um cru pedaço de toucinho, inhame,
E um braço de japona de veludo.
Guarda-chuva, abajur, pano de prato,
Pé de cadeira, cabo de martelo,
Torneira, mangueirinha, telefone:
Tudo comeu seu velho rabo ingrato,
Sem lhe dar paz, sem se aplacar o anelo
De tal olho, voraz como um ciclone!
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Ah, uma bunda branca...
Marcus Vinicius de Freitas
Ah, uma bunda branca me emociona!
O traço, a curva, desenho preciso.
Matemático muro, alvo e liso,
estandarte e brasão da bela dona.
A bunda-ícone, bunda de neve,
onde a luz da seda sinta-se sombra,
onde o corpo role pela alfombra
e viva de prazer, que a vida é breve.
Oh, praça onde danço em apoteose!
Que geômetra te sonhou na bruma?
Estou tonto e quero mais, mais uma dose
dessa bunda-mulher que me desanca.
Se digo anca, a arma se apruma:
quem diz anca, diz bunda, bunda branca.
Ah, uma bunda branca me emociona!
O traço, a curva, desenho preciso.
Matemático muro, alvo e liso,
estandarte e brasão da bela dona.
A bunda-ícone, bunda de neve,
onde a luz da seda sinta-se sombra,
onde o corpo role pela alfombra
e viva de prazer, que a vida é breve.
Oh, praça onde danço em apoteose!
Que geômetra te sonhou na bruma?
Estou tonto e quero mais, mais uma dose
dessa bunda-mulher que me desanca.
Se digo anca, a arma se apruma:
quem diz anca, diz bunda, bunda branca.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Coito in/ver/tido
Marcus Accioly
Sobre duzentas almofadas postas
em seu colchão (já livre de mil panos)
o amor se deita e (sob mim) de costas
deixa que eu tente possuir seu ânus
(vou penetrando devagar) molhado
está meu pênis de saliva (desço
pelo avesso da carne) do outro lado
(a dois dedos da vulva) eu reconheço
que aquela região (o amor suporta
a dor do seu prazer) estava intata
e (violento) arrombo a sua porta
como se fosse um bárbaro (se fosse
no seu corpo um aríete) “ó mata-
me” (diz o amor) “que o gozo dói de doce”
Sobre duzentas almofadas postas
em seu colchão (já livre de mil panos)
o amor se deita e (sob mim) de costas
deixa que eu tente possuir seu ânus
(vou penetrando devagar) molhado
está meu pênis de saliva (desço
pelo avesso da carne) do outro lado
(a dois dedos da vulva) eu reconheço
que aquela região (o amor suporta
a dor do seu prazer) estava intata
e (violento) arrombo a sua porta
como se fosse um bárbaro (se fosse
no seu corpo um aríete) “ó mata-
me” (diz o amor) “que o gozo dói de doce”
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Nome
Olga Savary
Dar às coisas outro nome
que não o vosso, amor, não pude.
Nem pude ser mais doce e sim mais rude
por conta das lamentações mais ásperas,
por causa do agravo que pensei ser vosso.
Amor era o nome de tudo, estava em tudo,
era o nome do macho cheirando a esterco,
a frutos passados e as raízes raras.
De posse da intimidade da água
e da intimidade da terra,
a animais vorazes é a que sabíamos.
Amor é com quem me deito e deixo montar
minhas coxas em forma de forquilha e onde
amor abre caminho pelas minhas águas.
Dar às coisas outro nome
que não o vosso, amor, não pude.
Nem pude ser mais doce e sim mais rude
por conta das lamentações mais ásperas,
por causa do agravo que pensei ser vosso.
Amor era o nome de tudo, estava em tudo,
era o nome do macho cheirando a esterco,
a frutos passados e as raízes raras.
De posse da intimidade da água
e da intimidade da terra,
a animais vorazes é a que sabíamos.
Amor é com quem me deito e deixo montar
minhas coxas em forma de forquilha e onde
amor abre caminho pelas minhas águas.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Na hora da posse minha febre é tanta
Samantha Rios
Na hora da posse minha febre é tanta,
Que quando estás dentro de mim, querido,
Todo o meu corpo fica incandescido
E em êxtase de amor, minh’alma canta.
Teu corpo quente serve-me de manta
E teu calor me passa tanto fluido
Que louca fico a ouvir em meu ouvido
Tua voz sussurrar: “ – te amo, Samantha!...”
Eu não me lembro, amor, então de nada...
No peito pulsa pleno o coração
E minha mente fica alucinada.
– Enche de vida, amor, minhas entranhas,
Com teus beijos sufoca minhas manhas,
Com teu prazer sufoca-me a emoção!
Na hora da posse minha febre é tanta,
Que quando estás dentro de mim, querido,
Todo o meu corpo fica incandescido
E em êxtase de amor, minh’alma canta.
Teu corpo quente serve-me de manta
E teu calor me passa tanto fluido
Que louca fico a ouvir em meu ouvido
Tua voz sussurrar: “ – te amo, Samantha!...”
Eu não me lembro, amor, então de nada...
No peito pulsa pleno o coração
E minha mente fica alucinada.
– Enche de vida, amor, minhas entranhas,
Com teus beijos sufoca minhas manhas,
Com teu prazer sufoca-me a emoção!
domingo, 26 de setembro de 2010
Soneto 139 oroerótico (ou oroteórico)
Glauco Mattoso
Segundo especialistas, a chupeta
depende da atitude do chupado:
se o pau recebe tudo, acomodado,
ou fode a boca feito uma boceta.
Pratica “irrumação” o pau que meta
e foda a boca até ter esporrado;
Pratica “felação” se for mamado
e a boca executar uma punheta.
Em ambos casos, mesma conclusão.
O esperma ejaculado na garganta
destino certo tem: deglutição.
Segunda conclusão: de nada adianta
negar que a boca sofra humilhação,
pois, só de pensar nisso, o pau levanta.
Segundo especialistas, a chupeta
depende da atitude do chupado:
se o pau recebe tudo, acomodado,
ou fode a boca feito uma boceta.
Pratica “irrumação” o pau que meta
e foda a boca até ter esporrado;
Pratica “felação” se for mamado
e a boca executar uma punheta.
Em ambos casos, mesma conclusão.
O esperma ejaculado na garganta
destino certo tem: deglutição.
Segunda conclusão: de nada adianta
negar que a boca sofra humilhação,
pois, só de pensar nisso, o pau levanta.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Papaixão
Leopoldino Talento
Desde pequena até grandinha,
amo todos os papais:
Papai Noel, Papai do Céu
são todos iguais!
Nenhum é mau e me dão o que preciso:
presente de Natal e lugar no Paraíso...
Gigante minha necessidade brota:
uma vontade estranha
de sapecar minha xoxota!
Nenhum desses me dá,
uma piroca bem grossa
pra trepar!
Desde pequena até grandinha,
amo todos os papais:
Papai Noel, Papai do Céu
são todos iguais!
Nenhum é mau e me dão o que preciso:
presente de Natal e lugar no Paraíso...
Gigante minha necessidade brota:
uma vontade estranha
de sapecar minha xoxota!
Nenhum desses me dá,
uma piroca bem grossa
pra trepar!
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Acrosticus
Rayder Coelho
Com vaselina, jeito e carinho...
Um sutil apelo, e a virgem cede.
Completamente aquém à sutil ação.
Um descuido... Ninfeta desvirginada.
Com vaselina, jeito e carinho...
Um sutil apelo, e a virgem cede.
Completamente aquém à sutil ação.
Um descuido... Ninfeta desvirginada.
domingo, 19 de setembro de 2010
Soneto CLXVII
Antônio Lobo de Carvalho (1730-1787)
Não te escondo a guedelha encanecida,
Nem da rugosa fronte a cor já baça;
Conheço que o meu lustre, a minha graça,
Foi por duros Janeiros destruída.
Confesso inda que é já bem conhecida
Que a idade minha dos cinquenta passa;
Mas juro que ainda tenho grossa massa,
Que teso mastaréu a pino erguida.
Se és hidrópica mestra fodedora,
Daquelas que procuram com trabalho
Lanzuda porra, porra aterradora:
Minhas cãs não te sirvam de espantalho;
Põe à prova o teu cono, e sem demora
Verás então se é velho o meu caralho.
A certa moça, chamando de velho o autor, que não se tinha por tal.
Não te escondo a guedelha encanecida,
Nem da rugosa fronte a cor já baça;
Conheço que o meu lustre, a minha graça,
Foi por duros Janeiros destruída.
Confesso inda que é já bem conhecida
Que a idade minha dos cinquenta passa;
Mas juro que ainda tenho grossa massa,
Que teso mastaréu a pino erguida.
Se és hidrópica mestra fodedora,
Daquelas que procuram com trabalho
Lanzuda porra, porra aterradora:
Minhas cãs não te sirvam de espantalho;
Põe à prova o teu cono, e sem demora
Verás então se é velho o meu caralho.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
o dedo
Cynthia Teixeira
os lábio mornos do homem
andam em todo corpo,
beijam a rubra face,
lambem o ventre gordo.
o membro morno do homem
cresce e se enterra.
é sonho, é sonho, diz ele
estou aqui a vida inteira.
já gozado, já encerrado,
estando ele cansado,
deita-se de bruços, geme, dorme
– dez minutos exatos durou seu sonho.
eterno suor de leito,
merecido descanso da vida
com o ronco saindo no peito,
ele agora jazendo adormecido,
entra em ação o amantíssimo
querido amado potente dedo,
que durante minutos eternos
amou aquela mulher e seu infinito desejo.
os lábio mornos do homem
andam em todo corpo,
beijam a rubra face,
lambem o ventre gordo.
o membro morno do homem
cresce e se enterra.
é sonho, é sonho, diz ele
estou aqui a vida inteira.
já gozado, já encerrado,
estando ele cansado,
deita-se de bruços, geme, dorme
– dez minutos exatos durou seu sonho.
eterno suor de leito,
merecido descanso da vida
com o ronco saindo no peito,
ele agora jazendo adormecido,
entra em ação o amantíssimo
querido amado potente dedo,
que durante minutos eternos
amou aquela mulher e seu infinito desejo.
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Eu vi uma pentelheira
Chico Doido de Caicó (1922-1991)
Eu vi uma pentelheira
No corpo daquela dona
Que quase caí pra trás
Era pentelho de ruma
Que não acabava mais
Era uma mata profunda
Que começava no imbigo
E terminava na bunda.
Pra descobrir o priquito
Por detrás daquela mata
Fiz um esforço tão grande
O coração quase me mata
Os pentelhos da mulher
Era uma mata de cipó
Tudo muito emaranhado
Cheio de trança e de nó.
Me fiz de bom caçador
Na frente do cipoal
E rompi aquela mata
Com a força do meu pau.
Eu vi uma pentelheira
No corpo daquela dona
Que quase caí pra trás
Era pentelho de ruma
Que não acabava mais
Era uma mata profunda
Que começava no imbigo
E terminava na bunda.
Pra descobrir o priquito
Por detrás daquela mata
Fiz um esforço tão grande
O coração quase me mata
Os pentelhos da mulher
Era uma mata de cipó
Tudo muito emaranhado
Cheio de trança e de nó.
Me fiz de bom caçador
Na frente do cipoal
E rompi aquela mata
Com a força do meu pau.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Corpo
Maria Teresa Horta
É pêssego
tangerina
e é limão
Tem sabor a damasco
e a alperce
Toma o gosto da canela
de manhã
e à noite a framboesa que se despe
De maça guarda o pecado
e a sedução
Do mel
o açúcar que reveste
Do licor
a febre que no seu rasgão
me invade me inunda e me apetece
Mergulho depressa a minha boca
e bebo a sede
onde em mim já cresce
Delírio que me enche
de prazer
tomando ponto num lume que umedece
Devagar mexo sem tino
as minhas mãos
Provando de ti
se de ti viesse
O anis do esperma
o doce odor do pão
que o teu corpo espalha e me enlouquece
É pêssego
tangerina
e é limão
Tem sabor a damasco
e a alperce
Toma o gosto da canela
de manhã
e à noite a framboesa que se despe
De maça guarda o pecado
e a sedução
Do mel
o açúcar que reveste
Do licor
a febre que no seu rasgão
me invade me inunda e me apetece
Mergulho depressa a minha boca
e bebo a sede
onde em mim já cresce
Delírio que me enche
de prazer
tomando ponto num lume que umedece
Devagar mexo sem tino
as minhas mãos
Provando de ti
se de ti viesse
O anis do esperma
o doce odor do pão
que o teu corpo espalha e me enlouquece
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Bacante
Iracema Macedo
Em meu ninho longínquo
inicio ventos
invento cios
canto e danço em volta do fogo
transformo meu leite em vinho
e ofereço meu corpo
para os lobos
Em meu ninho longínquo
inicio ventos
invento cios
canto e danço em volta do fogo
transformo meu leite em vinho
e ofereço meu corpo
para os lobos
sábado, 4 de setembro de 2010
Soneto safado
Nei Leandro de Castro
Eram duas amigas muito boas
que botavam aranhas pra brigar.
Saíam de mãos dadas, bem à toa,
indo juntinhas a qualquer lugar.
Uma era jovem, a outra uma coroa
calçada em sapatões pra caminhar.
Nem ligavam às maldizentes loas
dos machões, que falavam ao passar
por elas, muito embevecidas, lindas,
olhos nos olhos, a paixão infinda
tão deslumbrante como o amor das rosas.
De noite, entre suspiros e artimanhas,
ficavam nuazinhas. E as aranhas
comiam-se nas teias pegajosas.
Eram duas amigas muito boas
que botavam aranhas pra brigar.
Saíam de mãos dadas, bem à toa,
indo juntinhas a qualquer lugar.
Uma era jovem, a outra uma coroa
calçada em sapatões pra caminhar.
Nem ligavam às maldizentes loas
dos machões, que falavam ao passar
por elas, muito embevecidas, lindas,
olhos nos olhos, a paixão infinda
tão deslumbrante como o amor das rosas.
De noite, entre suspiros e artimanhas,
ficavam nuazinhas. E as aranhas
comiam-se nas teias pegajosas.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Se você me põe de quatro
Clara Nihil
Se você me põe de quatro
o mundo vira do avesso
pela manhã me retardo
à tarde me desconcerto
à noite desamanheço
se você me põe de quatro
Se você me põe de quatro
me enluaro me alumio
me encouraço e me entreteço
mais que égua sou manada
delirando em pleno cio
se você me põe de quatro
Se você me põe de quatro
o avesso do avesso vira
e o meu corpo macerado
cosmoagoniza no gozo
grita e chora canta e ri
se você me põe de quatro
sábado, 28 de agosto de 2010
Poetriz
Valéria Tarelho
Dentro de mim
mora uma vadia
que trepa com rimas
a troco de poesia
dentro de mim
habita uma pueta
que de esquina em esquina
se estrepa em estrofes
(só se fode)
dentro de mim avança
essa mulher à margem
à minha imagem
e semelhança
Dentro de mim
mora uma vadia
que trepa com rimas
a troco de poesia
dentro de mim
habita uma pueta
que de esquina em esquina
se estrepa em estrofes
(só se fode)
dentro de mim avança
essa mulher à margem
à minha imagem
e semelhança
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Bom dia
Vivi Fernandes de Lima
Não há bom dia mais perfeito
do que a minha cara de bem comida
refletida no espelho.
Não há bom dia mais perfeito
do que a minha cara de bem comida
refletida no espelho.
domingo, 22 de agosto de 2010
Tô fudido
Chico Doido de Caicó (1922-1991)
Tô fudido
A onça virou jacaré
E botaram a culpa em mim
Tô fudido
O azul ficou vermelho
E botaram a culpa em mim
Tô fudido
O general deu a bunda
E botaram a culpa em mim
Tô fudido
Comeram a mulher do bispo
E botaram a culpa em mim
Tô fudido
Cristo não é mais Cristo
Poesia não é mais poesia
Caicó não é mais Caicó
E botaram a culpa em quem?
Em quem botaram a culpa?
No prefeito de Cruzeta
Que não gosta de buceta?
No delegado de Jardim
Que não gosta de jasmim?
Não não e não
A culpa botaram em mim
Um tal de Chico Doido
Doidão por um xibiu
Quente e aveludado
Com sabor de mel e romã
Quente e aconchegante
Com sabor de mel e manhã
Assim como o xibiu
Da puta Rosalva
A maior devoradora de picas
Que este Chico Doido
Já viu provou e gostou.
Tô fudido
Ou fudido não estou?
Tô fudido
A onça virou jacaré
E botaram a culpa em mim
Tô fudido
O azul ficou vermelho
E botaram a culpa em mim
Tô fudido
O general deu a bunda
E botaram a culpa em mim
Tô fudido
Comeram a mulher do bispo
E botaram a culpa em mim
Tô fudido
Cristo não é mais Cristo
Poesia não é mais poesia
Caicó não é mais Caicó
E botaram a culpa em quem?
Em quem botaram a culpa?
No prefeito de Cruzeta
Que não gosta de buceta?
No delegado de Jardim
Que não gosta de jasmim?
Não não e não
A culpa botaram em mim
Um tal de Chico Doido
Doidão por um xibiu
Quente e aveludado
Com sabor de mel e romã
Quente e aconchegante
Com sabor de mel e manhã
Assim como o xibiu
Da puta Rosalva
A maior devoradora de picas
Que este Chico Doido
Já viu provou e gostou.
Tô fudido
Ou fudido não estou?
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Parto
Laura Esteves
Me pari aos sessenta anos.
Rompi a confortável casca
Onde eu própria me enfiara.
Larguei a casa e a samambaia.
E, com um pavor danado,
Fui ao encontro da aventura.
Sambei. Fiz teatro.
Bebi. Caí na gandaia!
Até arrumei namorado.
Sessenta anos hibernada.
Onde é que já se viu?
Moralismo, convenções...
Para a puta que pariu!
Me pari aos sessenta anos.
Rompi a confortável casca
Onde eu própria me enfiara.
Larguei a casa e a samambaia.
E, com um pavor danado,
Fui ao encontro da aventura.
Sambei. Fiz teatro.
Bebi. Caí na gandaia!
Até arrumei namorado.
Sessenta anos hibernada.
Onde é que já se viu?
Moralismo, convenções...
Para a puta que pariu!
domingo, 15 de agosto de 2010
Ária Più Soave
Anibal Beça (1946-2009)
As minhas mãos são pentagramas
acordando sons no teu corpo.
Ponta de dedos ímã o tato se vai
percutindo notas descobrindo poros
um toque de cheiro no silêncio úmido.
Nos teus cabelos teço a fina partitura
feita de duas claves:
A mão direita
sola um sol agudíssimo
na tua verbena escondida;
a esquerda se faz em fá
o grave fado
o gesto do teu tesão
fala no meu pulsar.
(Um sopro morno fala baixo
no bafo abafado em tua boca)
O suor dos nossos corpos
– enquanto garoa no lençol –
lava por um instante
o tempo de um ritmo sem metrônomo
um cheiro concreto de amêndoas.
As minhas mãos são pentagramas
acordando sons no teu corpo.
Ponta de dedos ímã o tato se vai
percutindo notas descobrindo poros
um toque de cheiro no silêncio úmido.
Nos teus cabelos teço a fina partitura
feita de duas claves:
A mão direita
sola um sol agudíssimo
na tua verbena escondida;
a esquerda se faz em fá
o grave fado
o gesto do teu tesão
fala no meu pulsar.
(Um sopro morno fala baixo
no bafo abafado em tua boca)
O suor dos nossos corpos
– enquanto garoa no lençol –
lava por um instante
o tempo de um ritmo sem metrônomo
um cheiro concreto de amêndoas.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Amizade cor-de-rosa
Simão Pessoa
do lugar em que estou me dou inteira
ao teu corpo nu minha paixão gelada
me debruçar em ti sobre teu alvo seio
e esquecer na dor qualquer moral idade
quero pousar meus lábios nessa xana doce
bebendo a volúpia que te grassa tanta
tremeremos lúcidas no mesmo espasmo presas
e nos confundiremos entre carícias vivas
do céu por um clarão no teu desperto sexo
nessa hora de vertigem a sofreguidão é tudo
percebendo aos poucos teu gemer contente
ao lamber ligeira teu clitóris quente
do lugar em que estou me dou inteira
ao teu corpo nu minha paixão gelada
me debruçar em ti sobre teu alvo seio
e esquecer na dor qualquer moral idade
quero pousar meus lábios nessa xana doce
bebendo a volúpia que te grassa tanta
tremeremos lúcidas no mesmo espasmo presas
e nos confundiremos entre carícias vivas
do céu por um clarão no teu desperto sexo
nessa hora de vertigem a sofreguidão é tudo
percebendo aos poucos teu gemer contente
ao lamber ligeira teu clitóris quente
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Teu corpo
Eno Theodoro Wanke (1929-2001)
A thing of beauty is a joy forever
(Keats)
Teu corpo, quando o despes para o amor,
é tudo o que meus olhos querem ver!
Meus pobres olhos, fartos de viver
olhando o mundo feio e incolor...
E quando exibes, luxuriosa, a flor
da tua carne jovem, o meu ser
transmuda-se, no eterno renascer
do sexo – do meu sexo sofredor!
E esqueço, num momento, que lutar
é a Lei Suprema – e sei, de novo, rir
do mundo... esqueço as lágrimas de dor...
E todo o meu impulso é te agarrar,
trazer-te para mim, gozar... Sentir
teu corpo, quando o despes para o amor!
A thing of beauty is a joy forever
(Keats)
Teu corpo, quando o despes para o amor,
é tudo o que meus olhos querem ver!
Meus pobres olhos, fartos de viver
olhando o mundo feio e incolor...
E quando exibes, luxuriosa, a flor
da tua carne jovem, o meu ser
transmuda-se, no eterno renascer
do sexo – do meu sexo sofredor!
E esqueço, num momento, que lutar
é a Lei Suprema – e sei, de novo, rir
do mundo... esqueço as lágrimas de dor...
E todo o meu impulso é te agarrar,
trazer-te para mim, gozar... Sentir
teu corpo, quando o despes para o amor!
sábado, 7 de agosto de 2010
Não lamentes, oh Nise, o teu estado
Bocage (1765-1805)
Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:
Dido foi puta, e puta dum soldado;
Cleópatra por puta alcança a coroa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:
Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:
Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques pois, oh Nise, duvidosa
Que isto de virgo e honra é tudo peta.
Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:
Dido foi puta, e puta dum soldado;
Cleópatra por puta alcança a coroa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:
Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:
Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques pois, oh Nise, duvidosa
Que isto de virgo e honra é tudo peta.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Três instrumentos
Glauco Mattoso
Mote
Buceta, cu e caralho:
Três instrumentos de foda.
Glosas
Em vez de estudo e trabalho,
A molecada travessa
Tem três coisas na cabeça:
Buceta, cu e caralho!
Na falta da buça, eu calho
E foder-me a boca é moda
A que a turma se acomoda!
A boca dum cego escroto;
A rola e o pé dum garoto:
Três instrumentos de foda!
Já velho, no meu borralho
Nenhum Cinderelo pisa,
Mas meu verso inda pesquisa
Buceta, cu e caralho!
Num piscar, no espaço espalho
(Pois que o “virtual” é moda):
“Sou ninfeta!” – E a peta roda!
Assim gozo, sem que meta:
Verve, internet e punheta,
Três instrumentos de foda!
Fora os olhos, nos quais falho,
Fascinam na anatomia
Dois furos e o que se enfia:
Buceta, cu e caralho.
Já nos versos que trabalho
Cona pouco me incomoda,
Cu mais culto é de outra roda;
Na prática, mesmo, são
Meu pau, meu pé, minha mão
Três instrumentos de foda...
Mote
Buceta, cu e caralho:
Três instrumentos de foda.
Glosas
Em vez de estudo e trabalho,
A molecada travessa
Tem três coisas na cabeça:
Buceta, cu e caralho!
Na falta da buça, eu calho
E foder-me a boca é moda
A que a turma se acomoda!
A boca dum cego escroto;
A rola e o pé dum garoto:
Três instrumentos de foda!
Já velho, no meu borralho
Nenhum Cinderelo pisa,
Mas meu verso inda pesquisa
Buceta, cu e caralho!
Num piscar, no espaço espalho
(Pois que o “virtual” é moda):
“Sou ninfeta!” – E a peta roda!
Assim gozo, sem que meta:
Verve, internet e punheta,
Três instrumentos de foda!
Fora os olhos, nos quais falho,
Fascinam na anatomia
Dois furos e o que se enfia:
Buceta, cu e caralho.
Já nos versos que trabalho
Cona pouco me incomoda,
Cu mais culto é de outra roda;
Na prática, mesmo, são
Meu pau, meu pé, minha mão
Três instrumentos de foda...
domingo, 1 de agosto de 2010
Visão do paraíso
João Sebastião
e do lado oposto a Deus
O rego de Catarina
No rego de Catarina
Fechei os olhos com fé:
Abri os olhos e vi
lábios de polpa carnuda
De bruços, pude rever
(Minha língua percorreu
Dia desses, distraído
meus olhos se depararam
com a mais bela das visões:
o rego de Catarina
entrevisto num relance
jogou-me em transe transido
das mais loucas sensações:
eu vi Deus descer dos céus
eu vi a terra se abrindo
eu vi crianças brotando
das árvores feito frutos
os autos desgovernados
as casas se incendiando
edifícios desabando
mulheres correndo nuas
homens se digladiando
pássaros mortos chovendo
animais de toda espécie
entre si se devorando
e do lado oposto a Deus
eu vi o próprio Diabo
gigantesco, triunfante
zombando dos olhos meus
Meu Deus, pensei, é possível
que uma visão tão bela
que uma visão tão pura
se torne assim tão terrível?
O rego de Catarina
é o templo de um cuzinho
só possível nos meus sonhos
O rego de Catarina
divide em dois hemisférios
a bunda mais sensual
com a qual posso sonhar
O rego de Catarina
vai descendo vai descendo
até encontrar o mel
que escorre da bocetinha
cujo gosto toda noite
eu teimo em saborear
No rego de Catarina
não há mancha de pecado
(nos meus sonhos manchas há
mas das mordidas que dou
em sua bundinha macia)
No rego de Catarina
só há lugar pra poesia:
é uma floresta de símbolos
é meu jardim de delícias
o cofre do meu prazer
Fechei os olhos com fé:
aquelas visões terríveis
não podiam perdurar.
Aos poucos todo o barulho
foi cessando e o cheiro mau
foi também se esvanecendo
Abri os olhos e vi
estendida sobre a relva
minha doce Catarina
nuinha, me convidando
para deitar junto dela:
lábios de polpa carnuda
peitinhos intumescidos
coxas grossas, coxas fartas
pezinhos tão graciosos
e a bocetinha escondida
entre os pentelhos revoltos
De bruços, pude rever
se abrindo, o rego divino
mostrando o lindo cuzinho
piscando convidativo
(Minha língua percorreu
cada poro desse corpo
que em instantes me levou
do centro do apocalipse
a sentir as sensações
de habitar no paraíso)
Ia alta a madrugada
quando acordei do bom sonho
o coração palpitando
a cama toda esporrada
e o cacete latejando
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Sei que em alguma cidade deste planeta em ruínas
Claufe Rodrigues (Baby the Billy)
Sei que em alguma cidade deste planeta em ruínas
uma pequena me ama de verdade.
Posso sentir seu bafo no meu cangote
quando saio pra tomar um trago.
Sei que num puteiro perdido qualquer
uma mulher se embriaga por minha causa.
Posso ver seus olhos brilhando de bebedeira,
nos faróis dos automóveis.
Nós bebemos tanto porque estamos distantes
um do outro, nessa geografia dos instintos.
Mas ela sabe o que eu sinto,
eu sei o que ela sente,
e assim nos amamos desesperadamente,
dia após dia.
O resto é poesia.
Foda-se.
Sei que em alguma cidade deste planeta em ruínas
uma pequena me ama de verdade.
Posso sentir seu bafo no meu cangote
quando saio pra tomar um trago.
Sei que num puteiro perdido qualquer
uma mulher se embriaga por minha causa.
Posso ver seus olhos brilhando de bebedeira,
nos faróis dos automóveis.
Nós bebemos tanto porque estamos distantes
um do outro, nessa geografia dos instintos.
Mas ela sabe o que eu sinto,
eu sei o que ela sente,
e assim nos amamos desesperadamente,
dia após dia.
O resto é poesia.
Foda-se.
terça-feira, 27 de julho de 2010
Dos epigramas venezianos
Goethe (1749-1832)
Gosto de rapazes, mas muito mais de moças:
satisfaço a moça e ela me serve de rapaz.
(Trad. José Paulo Paes)
Gosto de rapazes, mas muito mais de moças:
satisfaço a moça e ela me serve de rapaz.
(Trad. José Paulo Paes)
domingo, 25 de julho de 2010
sexta-feira, 23 de julho de 2010
A cópula
Marco Adolfs
Após a primeira foda, meio nervosa,
Ela, com a boceta toda melosa,
Querendo uma nova foda,
Incontinente, pediu:
– Me fode direito, viu?!
Mete bem metido, viu!? Puta que pariu!
Depois de lhe beijar, impaciente,
Ela tomou-o na boca e mordeu;
Ele então reclamou: – Porra, meu!
Mas, logo em seguida, rijo, alteou-se;
E fodeu-a como pediu.
Ela, sentindo que ia morrer;
Ele, com o tição aceso a foder;
Quando terminou a foda,
Lá pelas altas horas da aurora,
Ela pediu um copo d’água e dormiu;
Ele levantou-se, arrumou-se todo e partiu...
Após a primeira foda, meio nervosa,
Ela, com a boceta toda melosa,
Querendo uma nova foda,
Incontinente, pediu:
– Me fode direito, viu?!
Mete bem metido, viu!? Puta que pariu!
Depois de lhe beijar, impaciente,
Ela tomou-o na boca e mordeu;
Ele então reclamou: – Porra, meu!
Mas, logo em seguida, rijo, alteou-se;
E fodeu-a como pediu.
Ela, sentindo que ia morrer;
Ele, com o tição aceso a foder;
Quando terminou a foda,
Lá pelas altas horas da aurora,
Ela pediu um copo d’água e dormiu;
Ele levantou-se, arrumou-se todo e partiu...
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Bodas
Nei Leandro de Castro
Com os dedos, quase bruto, vou tocar
a carnadura dos teus grandes lábios
e vou além explorador abrindo
as redondas clareiras do teu gozo,
onde entrarei com o ímpeto sereno
de macho que afaga e que deflora.
Quero te ver no cio, putana, virgem,
me machucando com os teus caninos,
afiando as garras no meu lombo.
Em represália, eu te parto ao meio,
coisa frágil que és, corça de louça,
que fustigada investe com tal fúria,
me engole todo, me mata, me mastiga
e me devolve trapo: homem após gozo.
Com os dedos, quase bruto, vou tocar
a carnadura dos teus grandes lábios
e vou além explorador abrindo
as redondas clareiras do teu gozo,
onde entrarei com o ímpeto sereno
de macho que afaga e que deflora.
Quero te ver no cio, putana, virgem,
me machucando com os teus caninos,
afiando as garras no meu lombo.
Em represália, eu te parto ao meio,
coisa frágil que és, corça de louça,
que fustigada investe com tal fúria,
me engole todo, me mata, me mastiga
e me devolve trapo: homem após gozo.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
De “As ferrugens engaioladas”
Benjamin Péret (1899-1959)
Ah! as mocinhas que erguem o vestido
para se esfregarem na moita
ou então nos museus
atrás de Apolos de gesso
enquanto a mãe delas compara a vara da estátua
com a do marido
e suspira
Ah! se meu marido fosse parecido
Um dia a mãe voltará sozinha ao museu
mas a filha dela fugirá pelo outro lado
vara na mão
e a mãe desolada
roubará de uma porta
a maçaneta de cristal
(Trad. José Paulo Paes)
Ah! as mocinhas que erguem o vestido
para se esfregarem na moita
ou então nos museus
atrás de Apolos de gesso
enquanto a mãe delas compara a vara da estátua
com a do marido
e suspira
Ah! se meu marido fosse parecido
Um dia a mãe voltará sozinha ao museu
mas a filha dela fugirá pelo outro lado
vara na mão
e a mãe desolada
roubará de uma porta
a maçaneta de cristal
(Trad. José Paulo Paes)
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Soneto
Francisco Moniz Barreto (1804-1868)
Eu – “Eugênia! vamos nós muito em segredo,
Já que todos lá dentro estão dormindo,
Gozar no campo do luar tão lindo,
Deitadinhos debaixo do arvoredo?”
Eug. – “Ó! quem dera! Mas eu... eu tenho medo,
Porque pode a mãezinha estar ouvindo...”
Eu – “Qual mãe, qual nada: vamos já saindo.
Previne a escrava; voltaremos cedo.
Eugênia! quer você... mas... com cautela....”
Eug. – “Eu não... Jesus!...” Contudo a tal deidade
Nem no cu de cagar era donzela.
Fornicamos três horas, à vontade;
A putinha – com cio de cadela,
E eu – com cio e tesão de burro ou frade.
Diálogo entre mim e uma jovem, que passava por donzela,
e cujo cabaço andava sabe Deus por onde.
Eu – “Eugênia! vamos nós muito em segredo,
Já que todos lá dentro estão dormindo,
Gozar no campo do luar tão lindo,
Deitadinhos debaixo do arvoredo?”
Eug. – “Ó! quem dera! Mas eu... eu tenho medo,
Porque pode a mãezinha estar ouvindo...”
Eu – “Qual mãe, qual nada: vamos já saindo.
Previne a escrava; voltaremos cedo.
Eugênia! quer você... mas... com cautela....”
Eug. – “Eu não... Jesus!...” Contudo a tal deidade
Nem no cu de cagar era donzela.
Fornicamos três horas, à vontade;
A putinha – com cio de cadela,
E eu – com cio e tesão de burro ou frade.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Elegia
Paulo Franchetti
Meu tesão não gastei na foda insana
Evitando a putada, que chamava...
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Sempre dura esta vara, que é humana!
Da broxice fatal a mente ufana
Dos efeitos de agora não curava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que é o tempo e que tudo dana!
Este pinto, que em tempos foi soberbo,
Já não se recompõe, não ergue a crista,
E, pois, esta sentença dura averbo:
Fodi pouco, afinal, pois tudo é nada,
Se após a ronda, o sítio e a conquista,
Fica mole esta pica desgraçada!
Meu tesão não gastei na foda insana
Evitando a putada, que chamava...
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Sempre dura esta vara, que é humana!
Da broxice fatal a mente ufana
Dos efeitos de agora não curava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que é o tempo e que tudo dana!
Este pinto, que em tempos foi soberbo,
Já não se recompõe, não ergue a crista,
E, pois, esta sentença dura averbo:
Fodi pouco, afinal, pois tudo é nada,
Se após a ronda, o sítio e a conquista,
Fica mole esta pica desgraçada!
sábado, 10 de julho de 2010
As catedrais da paixão
João Sebastião
A vós dedico, Senhora
esta balada indecente
renovando com fervor
meu amor profano e crente!
Senhora de meus desejos,
esperai-me esta manhã
como em todas as manhãs
deste amor calmo e profundo;
desfeita a trava da porta,
pra que entre sem demora,
foda-se o mundo lá fora,
fodamos em nosso mundo!
Esperai-me sem calcinha
mas não de todo despida
conservando sobre o corpo
o transparente organdi,
pra que possa aos bocadinhos,
exercitando os sentidos,
descobrir os pentelinhos
que envolvem vossa boceta;
minha língua feita em vento
varrerá vosso grelinho
sorvendo cada momento
que passar dentro de vós;
quero sentir-vos pulsante
na febre que antecede
o amor que esculpiremos
com braços, pernas e dentes.
É vosso perfume feito
de florais do amormanhã,
colhidos junto à saliva
da madrugada furtiva;
em vosso hálito, a menta
cujo frescor natural
vai fazer gelar-me o pau
ao colocá-lo na boca.
Eu serei vosso corcel,
vós sereis égua ligeira
e num galope apressado
saltareis por sobre abismos
de incontidos orgasmos,
tornando grito em canção,
gemido em sinfonia,
silêncio em revolução!
Nas romãs de vossos peitos
germinam mamilos túmidos
sobre a pele de avelã,
onde tatuarei mordidas
que farão de mim lembrar-vos
até que se cumpra o ciclo
do próximo amorencontro
amanhã pela manhã.
E nesses seios tão doces,
fecho os olhos e me vejo
mamando jabuticabas
que no tempo de eu menino,
Rosa colhia pra mim;
hoje, sublime consolo,
amada senhora minha,
recolho-as em vosso colo.
São vossas coxas colunas
a sustentar imponentes
as catedrais que se erguem
a alguns suspiros do ventre;
místico som do silêncio,
vórtice louco e voraz:
de um lado gótica gruta
umedecida de mel,
cercada pela ravina
dos vossos pelos revoltos;
doutro, barrocas abóbadas
separadas mas unidas
pelo altar de vosso cu,
onde rezo com fervor,
querubim entronizado,
prostrado aos pés do Senhor!
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Declaração ao meu homem
Angelica de Lis (1984-2009)
Como eu gosto de foder
Como eu gosto de trepar
com você
teu jeito de me enrrabar
teu jeito de me comer
só você.
Teu sorriso é meu sorriso
teu olhar é meu olhar
teus músculos me apertando
estremecendo meu corpo
teus toques multiplicados
a me fazer gozar gozar gozar gozar...
Tua pele em minha pele
nossos corpos são um só
Minha língua em tua boca
lambichupa e chupalambi
dentes cravados no peito
tatoo de vermelhosangue.
Teus abraços carinhosos
meu prazer insaciado
teu desejo realizado
meu corpo todo marcado
minha xana tão ardente
o teu pau todo contente.
Como eu gosto de foder
Como eu gosto de trepar
com você
teu jeito de me enrrabar
teu jeito de me comer
só você.
Teu sorriso é meu sorriso
teu olhar é meu olhar
teus músculos me apertando
estremecendo meu corpo
teus toques multiplicados
a me fazer gozar gozar gozar gozar...
Tua pele em minha pele
nossos corpos são um só
Minha língua em tua boca
lambichupa e chupalambi
dentes cravados no peito
tatoo de vermelhosangue.
Teus abraços carinhosos
meu prazer insaciado
teu desejo realizado
meu corpo todo marcado
minha xana tão ardente
o teu pau todo contente.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Chovia no teu coração de merda
Roberto Piva (25/09/1937-03/07/2010)
Big Jim Colosimo / metranca do Saber / Aureus asinus against Catilina / Bugios no quintal / Ida & volta do Cu Constelado / Mambo no sintetizador do Timbuctu / varíola entre os piratas / varrido pelos piratas / Long John Silver / 15 homens no baú do morto / Exu Gargarejo / fodendo o garoto no buritizal / cachaça & vaselina / espelhos nascendo num outro tremor / anjo doente & licoroso / luas de bolso / Riobaldo & Diadorim: heróis-escaravelhos / com quantos punhais construiremos o quarteirão da Paixão? / cuíca-cascavel / garoto bêbado chupando pau do travesti / Santa Cecília by night / cafungando / Jorge de Lima com seu girassol de coalhada fresca / Batuque / Exu comeu Tarubá / John Cage & a violeta de Parma / deus submerso / de manhã estrelas verdes / Vous êtes de faux négres.
Big Jim Colosimo / metranca do Saber / Aureus asinus against Catilina / Bugios no quintal / Ida & volta do Cu Constelado / Mambo no sintetizador do Timbuctu / varíola entre os piratas / varrido pelos piratas / Long John Silver / 15 homens no baú do morto / Exu Gargarejo / fodendo o garoto no buritizal / cachaça & vaselina / espelhos nascendo num outro tremor / anjo doente & licoroso / luas de bolso / Riobaldo & Diadorim: heróis-escaravelhos / com quantos punhais construiremos o quarteirão da Paixão? / cuíca-cascavel / garoto bêbado chupando pau do travesti / Santa Cecília by night / cafungando / Jorge de Lima com seu girassol de coalhada fresca / Batuque / Exu comeu Tarubá / John Cage & a violeta de Parma / deus submerso / de manhã estrelas verdes / Vous êtes de faux négres.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Circe moderna
Marco Catalão
Um paquiderme dentro de uma tanga
é mais sexy do que ela de biquíni;
mas gosta de usar fio-dental e mini
saia, e se zombam disso, ela se zanga.
Mais feia do que o cão chupando manga,
mais gorda do que as musas de Fellini,
um adjetivo só não a define:
é macambúzia, é horrípila, é baranga.
Feia como se a ciência e a natureza,
dando-se as mãos, juntassem seus horrores
num Frankenstein sem glória e sem grandeza;
tem mais de dez leais admiradores.
Que áurea magia guarda em sua bolsa,
que torna a feia bela, e a velha, moça?
Um paquiderme dentro de uma tanga
é mais sexy do que ela de biquíni;
mas gosta de usar fio-dental e mini
saia, e se zombam disso, ela se zanga.
Mais feia do que o cão chupando manga,
mais gorda do que as musas de Fellini,
um adjetivo só não a define:
é macambúzia, é horrípila, é baranga.
Feia como se a ciência e a natureza,
dando-se as mãos, juntassem seus horrores
num Frankenstein sem glória e sem grandeza;
tem mais de dez leais admiradores.
Que áurea magia guarda em sua bolsa,
que torna a feia bela, e a velha, moça?
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Sonetos Luxuriosos – 5
Aretino (1492-1556)
Põe-me um dedo no cu, velho pimpão,
Mete-lhe dentro o pau, mas sem afogo;
Levanta bem a perna, faz bom jogo,
Depois mexe, mas sem repetição.
Por minha fé, isto é melhor ração
Do que pão com alho e óleo junto ao fogo;
Se a cona te desgosta, muda logo.
Há homem que não seja um mau vilão?
Na cona hei de foder-te boa data
De vezes, pois em cona ou cu entrando,
O pau faz-me feliz e a ti beata.
Quem quer ser mestre é louco e é tolo quando
Por alheios prazeres malbarata
O tempo em que devia estar trepando.
Pois finda-te, esperando
Num palácio, que o tal morra, senhor
Cortesão, que eu sacio meu ardor.
(Trad. José Paulo Paes)
Põe-me um dedo no cu, velho pimpão,
Mete-lhe dentro o pau, mas sem afogo;
Levanta bem a perna, faz bom jogo,
Depois mexe, mas sem repetição.
Por minha fé, isto é melhor ração
Do que pão com alho e óleo junto ao fogo;
Se a cona te desgosta, muda logo.
Há homem que não seja um mau vilão?
Na cona hei de foder-te boa data
De vezes, pois em cona ou cu entrando,
O pau faz-me feliz e a ti beata.
Quem quer ser mestre é louco e é tolo quando
Por alheios prazeres malbarata
O tempo em que devia estar trepando.
Pois finda-te, esperando
Num palácio, que o tal morra, senhor
Cortesão, que eu sacio meu ardor.
(Trad. José Paulo Paes)
domingo, 27 de junho de 2010
Cantata
Nei Leandro de Castro
Farei tudo que você quiser.
Serei palhaço, ladrão de mulher,
encantador de serpentes,
travesti: usarei tua calcinha e sutiã
para te ver rasgá-los com violência
e violentar-me numa suave manhã.
Serei besta, sodomita, uma fera
selvagem, em urros e pinotes
com os quadris lanhados de chicote.
Terno, dócil, cordeiro de Deus,
lamberei todos os teus pecados:
o feno e a palha dos teus pentelhos,
a fonte de sal dos teus sovacos,
o cheiro de curral amanhecido do teu sexo,
o poço profundo do teu ânus, agnus serei.
E serei fauno com flauta mágica,
vibrador, punho cerrado, pênis,
dedos da mão, dedos dos pés, língua ouriçada
pra não te deixar um só minuto descansada.
Demônio, Satanás, Lúcifer, Belzebu,
te farei anjo sob todas as tentações
de te entregares todinha, mesmo o cu
que talvez queiras preservar para a eternidade.
A minha língua serão duas, dez, cem
para entrar, serpente, beija-flor, em todos
os orifícios que o teu corpo contém. Alicate
de torturador, os meus dedos
vão arrancar teu gozo, confissões,
gritos de dor e de prazer: – Me mate!
Vou cavalgar a tua bunda e o teu ventre
e tu também cavalgarás em mim, sem fim,
égua no cio, cavalo, ginete, centauro,
seremos dois perseguindo a mesma caça:
o estertor do gozo, a explosão da graça
de foder com luxúria e com a amor.
Vem. Farei tudo o que você quiser,
seja o que for.
Farei tudo que você quiser.
Serei palhaço, ladrão de mulher,
encantador de serpentes,
travesti: usarei tua calcinha e sutiã
para te ver rasgá-los com violência
e violentar-me numa suave manhã.
Serei besta, sodomita, uma fera
selvagem, em urros e pinotes
com os quadris lanhados de chicote.
Terno, dócil, cordeiro de Deus,
lamberei todos os teus pecados:
o feno e a palha dos teus pentelhos,
a fonte de sal dos teus sovacos,
o cheiro de curral amanhecido do teu sexo,
o poço profundo do teu ânus, agnus serei.
E serei fauno com flauta mágica,
vibrador, punho cerrado, pênis,
dedos da mão, dedos dos pés, língua ouriçada
pra não te deixar um só minuto descansada.
Demônio, Satanás, Lúcifer, Belzebu,
te farei anjo sob todas as tentações
de te entregares todinha, mesmo o cu
que talvez queiras preservar para a eternidade.
A minha língua serão duas, dez, cem
para entrar, serpente, beija-flor, em todos
os orifícios que o teu corpo contém. Alicate
de torturador, os meus dedos
vão arrancar teu gozo, confissões,
gritos de dor e de prazer: – Me mate!
Vou cavalgar a tua bunda e o teu ventre
e tu também cavalgarás em mim, sem fim,
égua no cio, cavalo, ginete, centauro,
seremos dois perseguindo a mesma caça:
o estertor do gozo, a explosão da graça
de foder com luxúria e com a amor.
Vem. Farei tudo o que você quiser,
seja o que for.
terça-feira, 22 de junho de 2010
o corpo do meu amor
Zemaria Pinto
são as mãos do meu amor
as coxas do meu amor
o corpo do meu amor
é o templo do meu desvelo
minha alvorada, meu sol
crepúsculo plenilúnio
coivara do meu enredo
uirapuru ararinha
água corrente lagoa
perau sem fim nem começo
ai que eu me morro de amor
no corpo do meu amor
os olhos do meu amor
são dois pássaros ariscos
são dois pássaros noturnos
são dois cometas errantes
são a luz do meu caminho
os olhos do meu amor
a boca do meu amor
tem a língua mais gostosa
que a minha boca beijou
tem palavras amorosas
tem um hálito de rosas
a boca do meu amor
são as mãos do meu amor
guarida do meu afeto
alívio do meu desejo
selo da minha alegria
estrelas do meu destino
são as mãos do meu amor
são os pés do meu amor
um cofre moldado em vento
onde súdito me curvo
e guardo beijos diários
dois felinos peregrinos
são os pés do meu amor
as costas do meu amor
têm das flores o frescor
das plumas a maciez
e após as lutas do amor
quedam-se em banhos de orvalho
as costas do meu amor
os seios do meu amor
são duas ilhas encantadas
onde repouso das lutas
do banal cotidiano
são fontes de vinho e mel
os seios do meu amor
as coxas do meu amor
são como dois monumentos
sobre os quais se equilibram
os mistérios da existência
são o portal do paraíso
as coxas do meu amor
a bunda do meu amor
é nave dos meus delírios
e cais da minha agonia
é refúgio e é degredo
dos meus sonhos, dos meus medos
a bunda do meu amor
a boceta do meu amor
me deixa a métrica torta
entorpece-me, extasia-me
levita-me em sua glória
hosana-me nas alturas
a boceta do meu amor
o corpo do meu amor
é uma extensão do meu corpo
vibrando ao mínimo gesto
das minhas mãos, dos meus dedos
da minha língua, meu sexo
meus nervos em combustão
abismo dos meus gemidos
repouso dos meus sentidos
ai que eu me morro de amor
no corpo do meu amor
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Sonhando com meu homem
Angelica de Lis (1984-2009)
Hoje eu acordei toda molhada
sonhei que te comia
sonhei que me enrabavas
trepávamos por toda a noite
até nascer o dia.
No sonho eu te chupava e te engolia
e a minha boca transbordava
e eu me lambuzava
feito louca.
Depois me penetravas
uma força descomunal
cavalgando meus sentidos
subjugando meu corpo submetido.
Eu gritava dor e gozo
gozo dorido dor gozoza
égua no cio endoidecida
fodendo e sendo fodida...
Acordei passando mal
extenuada
de tanto foder teu pau.
Hoje eu acordei toda molhada
sonhei que te comia
sonhei que me enrabavas
trepávamos por toda a noite
até nascer o dia.
No sonho eu te chupava e te engolia
e a minha boca transbordava
e eu me lambuzava
feito louca.
Depois me penetravas
uma força descomunal
cavalgando meus sentidos
subjugando meu corpo submetido.
Eu gritava dor e gozo
gozo dorido dor gozoza
égua no cio endoidecida
fodendo e sendo fodida...
Acordei passando mal
extenuada
de tanto foder teu pau.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
A Chapéu
Hilda Hilst (1930-2004)
Leocádia era sábia.
Sua neta “Chapéu”
De vermelho só tinha a gruta
E um certo mel na língua suja.
Sai bruaca
Da tua toca imunda! (dizia-lhe a neta)
Aí vem Lobão!
Prepara-lhe confeitos
Carnes, esqueletos
Pois bem sabes
Que a bichona peluda
É o nosso ganha-pão.
A velha Leocádia estremunhada
Respondia à neta:
Ando cansada de ser explorada
Pois da última vez
Lobão deu pra três
E eu não recebi o meu quinhão!
E tu, e tu Chapéu, minha nega
Não fazendo nada
Com essa choca preta.
Preta de choca, nona,
Mas irmã do capeta.
Lobão: Que discussões estéreis
Que azáfama de línguas!
A manhã está clara e tão bonita!
Voejam andorinhas
Não vedes?
Tragam-me carnes, cordeiros,
Salsas verdes.
E por que tens, ó velha,
Os dentes agrandados?
Pareces de mim um arremedo!
Às vezes te miro
E sinto que tens um nabo
Perfeito pro meu buraco.
AAAAIII! Grita Chapéu.
Num átimo percebo tudo!
Enganaram-me! Vó Leocádia
E Lobão
Fornicam desde sempre
Atrás do meu fogão!
Moral da estória:
Um id oculto mascara o seu produto.
Leocádia era sábia.
Sua neta “Chapéu”
De vermelho só tinha a gruta
E um certo mel na língua suja.
Sai bruaca
Da tua toca imunda! (dizia-lhe a neta)
Aí vem Lobão!
Prepara-lhe confeitos
Carnes, esqueletos
Pois bem sabes
Que a bichona peluda
É o nosso ganha-pão.
A velha Leocádia estremunhada
Respondia à neta:
Ando cansada de ser explorada
Pois da última vez
Lobão deu pra três
E eu não recebi o meu quinhão!
E tu, e tu Chapéu, minha nega
Não fazendo nada
Com essa choca preta.
Preta de choca, nona,
Mas irmã do capeta.
Lobão: Que discussões estéreis
Que azáfama de línguas!
A manhã está clara e tão bonita!
Voejam andorinhas
Não vedes?
Tragam-me carnes, cordeiros,
Salsas verdes.
E por que tens, ó velha,
Os dentes agrandados?
Pareces de mim um arremedo!
Às vezes te miro
E sinto que tens um nabo
Perfeito pro meu buraco.
AAAAIII! Grita Chapéu.
Num átimo percebo tudo!
Enganaram-me! Vó Leocádia
E Lobão
Fornicam desde sempre
Atrás do meu fogão!
Moral da estória:
Um id oculto mascara o seu produto.
domingo, 13 de junho de 2010
Paraíso
Astrid Cabral
Aqui, esquecidos do mítico
fundamos o real paraíso
quando o calor de nosso corpo
desafia os ventos do inverno
e as árvores do éden perto
súbito são porta fechada
cúmplice cama, cadeira
onde pousam peles pijamas.
Aqui, pelados bichos de pelo
cavalgamos léguas cavalo égua
por entre flores de algodão
encantadas vivas na relva
dos lençóis sobre o colchão.
Aqui, implumes aves voando
roubando maçãs proibidas
no próximo pomar terrestre
onde repastamos a fome
que até tarde da noite arde
na fonte do prazer jorrando
das entranhas da carne.
Aqui, esquecidos do mítico
fundamos o real paraíso
quando o calor de nosso corpo
desafia os ventos do inverno
e as árvores do éden perto
súbito são porta fechada
cúmplice cama, cadeira
onde pousam peles pijamas.
Aqui, pelados bichos de pelo
cavalgamos léguas cavalo égua
por entre flores de algodão
encantadas vivas na relva
dos lençóis sobre o colchão.
Aqui, implumes aves voando
roubando maçãs proibidas
no próximo pomar terrestre
onde repastamos a fome
que até tarde da noite arde
na fonte do prazer jorrando
das entranhas da carne.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Videotape
Eliane Stoducto (?-2007)
Ai quem me dera que o fogo das paixões
de novo me tomasse por inteiro,
incendiada, no calor da discussão,
atiraria em você algum cinzeiro
(e botaria você) da porta a fora
jurando não querer ver sua cara,
nem ter seu corpo nunca mais, nem nada, nada!
Você iria embora e eu choraria
tal e qual uma criança desgraçada.
Para esquecer eu tomaria vinte uísques
e cairia, no sofá, já desmaiada.
Quando acordasse, abandonada e de ressaca,
me sentiria doente e mal-amada
pois te queria ao meu lado, me cuidando,
me dando um sonrisal e uma trepada...
E aí me sentiria, como se estivesse,
num pronto socorro da Zona Oeste:
com frio, triste e desamparada.
Fecharia os olhos e pediria
a Deus para levar a minha alma...
Depois de dias de desespero
chegaria a conclusão de que você era o meu tempero
e então faria planos para te reconquistar,
mas você me ligaria antes de eu telefonar.
Com o coração aos pulos eu diria, calmamente,
que a gente precisava conversar.
Você concordaria e marcaríamos dia, hora e lugar...
E eu botaria a minha roupa mais gostosa
fingindo ser a coisa mais banal e você,
com sua camisa mais charmosa,
fingiria não notar.
No bar concluiríamos que não dava:
eu não gostava de você, mas te amava.
Você não me amava, mas gostava.
Era urgente que acabássemos com toda aquela loucura passional.
Como adultos de bom-tom brindaríamos à separação
com vinho e algumas lágrimas disfarçadas.
Você me levaria para casa e, depois do longo abraço de adeus
você estaria teso e eu molhada, prontos a repetirmos
a nossa estranha jornada.
Ai quem me dera que o fogo das paixões
de novo me tomasse por inteiro,
incendiada, no calor da discussão,
atiraria em você algum cinzeiro
(e botaria você) da porta a fora
jurando não querer ver sua cara,
nem ter seu corpo nunca mais, nem nada, nada!
Você iria embora e eu choraria
tal e qual uma criança desgraçada.
Para esquecer eu tomaria vinte uísques
e cairia, no sofá, já desmaiada.
Quando acordasse, abandonada e de ressaca,
me sentiria doente e mal-amada
pois te queria ao meu lado, me cuidando,
me dando um sonrisal e uma trepada...
E aí me sentiria, como se estivesse,
num pronto socorro da Zona Oeste:
com frio, triste e desamparada.
Fecharia os olhos e pediria
a Deus para levar a minha alma...
Depois de dias de desespero
chegaria a conclusão de que você era o meu tempero
e então faria planos para te reconquistar,
mas você me ligaria antes de eu telefonar.
Com o coração aos pulos eu diria, calmamente,
que a gente precisava conversar.
Você concordaria e marcaríamos dia, hora e lugar...
E eu botaria a minha roupa mais gostosa
fingindo ser a coisa mais banal e você,
com sua camisa mais charmosa,
fingiria não notar.
No bar concluiríamos que não dava:
eu não gostava de você, mas te amava.
Você não me amava, mas gostava.
Era urgente que acabássemos com toda aquela loucura passional.
Como adultos de bom-tom brindaríamos à separação
com vinho e algumas lágrimas disfarçadas.
Você me levaria para casa e, depois do longo abraço de adeus
você estaria teso e eu molhada, prontos a repetirmos
a nossa estranha jornada.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Nobre
Paulo Franchetti
Minha santa ovelhinha, que saudade
Eu tenho dos passeios pelo monte!
Do teu gesto e do olhar de piedade,
No esquecido caminho sob a ponte!
Ias balindo, em toda a puridade,
Houvesse sol ou nuvens no horizonte,
Sempre tão doce, sem qualquer maldade,
Pastando a erva e bebendo à fonte!
E quando o sol descia, ao fim do dia,
Já no local vezeiro me buscavas,
E quietinha de mim te aproximavas!
Como me lembra, boa criatura:
Quando te enfiava a minha pica dura,
Nem berravas, e tanto te doía!
Minha santa ovelhinha, que saudade
Eu tenho dos passeios pelo monte!
Do teu gesto e do olhar de piedade,
No esquecido caminho sob a ponte!
Ias balindo, em toda a puridade,
Houvesse sol ou nuvens no horizonte,
Sempre tão doce, sem qualquer maldade,
Pastando a erva e bebendo à fonte!
E quando o sol descia, ao fim do dia,
Já no local vezeiro me buscavas,
E quietinha de mim te aproximavas!
Como me lembra, boa criatura:
Quando te enfiava a minha pica dura,
Nem berravas, e tanto te doía!
domingo, 6 de junho de 2010
Metamorfose
Simão Pessoa
Ao amanhecer, sou bicho-preguiça
lá pelas dez horas, estou quase burro
chega o meio-dia, sou hiena histérica
e às seis da tarde, um taciturno urso
oito horas em ponto, sou macaco prego
meia-noite, estou mais pra gambá
já de madrugada, cego sou morcego
mas me faço fauno para te trepar
sexta-feira, 4 de junho de 2010
O urubu
Eduardo Kac
muito baseado
num POEma de Edgar Allan
muito baseado
num POEma de Edgar Allan
eu tocava punheta quando apareceu
um urubu doidão torcendo a maçaneta
agarrou a minha bunda e dizia: “nu cu mais”
“nu cu mais” e a dor era profunda
tanto q de longe se ouviam “ais”
debruçado no meu cu ficou o urubu baco
dizendo a todo instante “nu cu mais, nu cu mais”
tanto meu encheu o saco q um dia
o peguei por trás e ele pedia q eu botasse
uma vez amais nunca era demais
depois daquela alegria começamos uma orgia
q não acabou jamais hoje somos
eu e o urubu o mais feliz dos casais
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Intervalo
Denise Teixeira Viana
nossos corpos perplexos
complexos
de nexos e infecções
nossos anexos
esgotados úmidos abismados
de gozo e cio
sob esta sonolência
enxoval avental carências afins
te machucar de alfinetes
vigas patins
(intervalo)
ah que bom
tá tão gostoso
ai ai ai ai
ai amor
delícia
ai ai
tesudo
ai
te amo tanto
desce desce amor
me culpa me chupa com pressa
(nesta remessa de saliva compressas gengivas)
não para
estou gozando
ai amor ai ai
ai
(intervalo)
toda a maravilhosa sensação
de braços abraços pentelhos
riscando o espelho
toda a maravilhosa loucura
de dedos nervos glande
cobrindo meu útero
todo o maravilhoso silêncio
do teu silêncio
buscando meus seios
nossos corpos perplexos
complexos
de nexos e infecções
nossos anexos
esgotados úmidos abismados
de gozo e cio
sob esta sonolência
enxoval avental carências afins
te machucar de alfinetes
vigas patins
(intervalo)
ah que bom
tá tão gostoso
ai ai ai ai
ai amor
delícia
ai ai
tesudo
ai
te amo tanto
desce desce amor
me culpa me chupa com pressa
(nesta remessa de saliva compressas gengivas)
não para
estou gozando
ai amor ai ai
ai
(intervalo)
toda a maravilhosa sensação
de braços abraços pentelhos
riscando o espelho
toda a maravilhosa loucura
de dedos nervos glande
cobrindo meu útero
todo o maravilhoso silêncio
do teu silêncio
buscando meus seios
segunda-feira, 31 de maio de 2010
O homem mais a mulher
Gregório de Matos (1633-1696)
MOTE
O cono é fortaleza,
O caralho é capitão,
Os colhões são bombardeiros,
O pentelho é o murrão.
O homem mais a mulher
Guerra entre si publicaram,
Porque depois que pecaram,
Um a outro se malquer:
E como é de fraco ser
A mulher por natureza,
Por sair bem desta empresa,
Disse que donde em rigor
O caralho é batedor,
O cono é fortaleza.
Neste forte recolhidos
Há mil soldados armados
À custa de amor soldados,
E à força de amor rendidos:
Soldados tão escolhidos,
Que o General disse então,
De membros de opinião,
Que assistem com tanto abono
Na fortaleza do cono,
O caralho é capitão.
Aquartelaram-se então
Com seu capitão caralho
Todos no quartel do alho,
Guarita do cricalhão:
E porque na ocasião
Haviam de ir por primeiros,
Além dos arcabuzeiros
Os bombardeiros, se disse,
Do que serve esta parvoíce?
Os colhões são bombardeiros.
Marchando por um atalho
Este exército das picas,
Toda a campanha das cricas
Se descobriu de um carvalho:
Quando o capitão caralho
Mandou disparar então
Ao bombardeiro colhão,
Que se achou sem bota-fogo,
Porém gritou-se-lhe logo,
O pentelho é o murrão.
domingo, 30 de maio de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
As armas do meu homem
Angelica de Lis (1984-2009)
Te sentir dentro de mim
membro e dedos
me provoca turbulências
instabilidades incontinências
e estremece-me e calafria-me
depois de passadas horas
(o meu corpo repousado
de gozosa dupla foda)
teus dedos galopando minha vulva
teus dedos explorando meus desertos
teus dedos minhas minas
teus dedos minhas fontes
teus dedos minhas pntes
teu membro docemente traiçoeiro
estocadas de dor – fogo e gelo
teu membro
submetendo-me
teu membro
arrebatando-me
teu membro
arremessando-me
teu membro escravo meu senhor de mim
Como eu te amo meu amor!
(Mas amo ainda mais teu pau
e teus dedos em fúria
– todos dentro de mim!)
Te sentir dentro de mim
membro e dedos
me provoca turbulências
instabilidades incontinências
e estremece-me e calafria-me
depois de passadas horas
(o meu corpo repousado
de gozosa dupla foda)
teus dedos galopando minha vulva
teus dedos explorando meus desertos
teus dedos minhas minas
teus dedos minhas fontes
teus dedos minhas pntes
teu membro docemente traiçoeiro
estocadas de dor – fogo e gelo
teu membro
submetendo-me
teu membro
arrebatando-me
teu membro
arremessando-me
teu membro escravo meu senhor de mim
Como eu te amo meu amor!
(Mas amo ainda mais teu pau
e teus dedos em fúria
– todos dentro de mim!)
terça-feira, 25 de maio de 2010
A rainha careca
Hilda Hilst (1930-2004)
De cabeleira farta
De rígidas ombreiras
De elegante beca
Ula era casta
Porque de passarinha
Era careca.
À noite alisava
O monte lisinho
Co’a lupa procurava
Um tênue fiozinho
Que há tempos avistara.
Ó céus! Exclamava.
Por que me fizeram
Tão farta de cabelos
Tão careca nos meios?
E chorava.
Um dia...
Passou pelo reino
Um biscate peludo
Vendendo venenos.
(Uma gota aguda
Pode ser remédio
Pra uma passarinha
De rainha.)
Convocado ao palácio
Ula fez com que entrasse
No seu quarto.
Não tema, cavalheiro,
Disse-lhe a rainha
Quero apenas pentelhos
Pra minha passarinha.
Ó Senhora! O biscate exclamou.
É pra agora!
E arrancou do próprio peito
Os pelos
E com saliva de ósculos
Colou-os
Concomitante penetrando-lhe os meios.
UI!UI!UI! gemeu Ula
De felicidade.
Cabeluda ou não
Rainha ou prostituta
Hei de ficar contigo
A vida toda!
Evidente que aos poucos
Despregou-se o tufo todo.
Mas isso o que importa?
Feliz, mui contentinha
A Rainha Ula já não chora.
Moral da estória:
se o problema é relevante,
apela pro primeiro passante.
De cabeleira farta
De rígidas ombreiras
De elegante beca
Ula era casta
Porque de passarinha
Era careca.
À noite alisava
O monte lisinho
Co’a lupa procurava
Um tênue fiozinho
Que há tempos avistara.
Ó céus! Exclamava.
Por que me fizeram
Tão farta de cabelos
Tão careca nos meios?
E chorava.
Um dia...
Passou pelo reino
Um biscate peludo
Vendendo venenos.
(Uma gota aguda
Pode ser remédio
Pra uma passarinha
De rainha.)
Convocado ao palácio
Ula fez com que entrasse
No seu quarto.
Não tema, cavalheiro,
Disse-lhe a rainha
Quero apenas pentelhos
Pra minha passarinha.
Ó Senhora! O biscate exclamou.
É pra agora!
E arrancou do próprio peito
Os pelos
E com saliva de ósculos
Colou-os
Concomitante penetrando-lhe os meios.
UI!UI!UI! gemeu Ula
De felicidade.
Cabeluda ou não
Rainha ou prostituta
Hei de ficar contigo
A vida toda!
Evidente que aos poucos
Despregou-se o tufo todo.
Mas isso o que importa?
Feliz, mui contentinha
A Rainha Ula já não chora.
Moral da estória:
se o problema é relevante,
apela pro primeiro passante.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Exaltação
Eno Theodoro Wanke (1929-2001)
Eu quero teu corpinho de veludo!
Ah, quero acariciar-te, enlouquecer
-te a carne, até que veja no teu ser
a dádiva, o convite, o gesto mudo...
Rasgar o teu vestido, arrancar tudo!
Deitar-te nua e branca... – E me deter
um pouco, prelibando o meu prazer
ao saborear teu beijo bom, polpudo...
E penetrar-te comovidamente,
sentir teu corpo morno, nu e fremente,
dobrar todo em meus braços, com meneios
de fêmea voluptuosa... Sim! Gozar!
Sorver num beijo lúbrico, o manjar
das pequeninas taças dos teus seios...
Eu quero teu corpinho de veludo!
Ah, quero acariciar-te, enlouquecer
-te a carne, até que veja no teu ser
a dádiva, o convite, o gesto mudo...
Rasgar o teu vestido, arrancar tudo!
Deitar-te nua e branca... – E me deter
um pouco, prelibando o meu prazer
ao saborear teu beijo bom, polpudo...
E penetrar-te comovidamente,
sentir teu corpo morno, nu e fremente,
dobrar todo em meus braços, com meneios
de fêmea voluptuosa... Sim! Gozar!
Sorver num beijo lúbrico, o manjar
das pequeninas taças dos teus seios...
terça-feira, 18 de maio de 2010
Carmina Burana – CLXXXV
(Autor desconhecido)
Moça alegre, eu vivia,
uma virgem em flor,
toda gente me sorria,
me levava em andor.
– Ai, que dor,
ó tílias malfadadas,
à beira da senda alinhadas.
Ia passear no prado
e flores ajuntar,
chegou um rapaz malvado
pra me deflorar.
– Ai, que dor...
ó tílias malfadadas,
à beira da senda alinhadas.
Minha branca mão tomou
inocentemente,
ao verde prado me levou
maliciosamente.
– Ai, que dor!...
ó tílias malfadadas,
à beira da senda alinhadas.
A alva roupa segurou,
indecentemente,
pela mão me arrastou,
violentamente.
– Ai, que dor...
Disse: “Mulher, venha comigo,
na mata estamos seguros.”
– triste senda, te maldigo –
chorei nestes apuros.
– Ai, que dor...
“Existem ali tílias formosas
à beira das estradas,
minh’harpa e lira maviosas
ali estão guardadas.”
– Ai, que dor...
Quando nas tílias chegou,
disse: “Descansemos...”
– Vênus dele se apoderou –
“agora juntos brinquemos.”
– Ai, que dor...
Meu alvo corpo ele agarrou,
de medo estava louca,
“Faço-te mulher” falou
“doce é tua boca!”
– Ai, que dor...
Minha camisa ele arrancou,
fiquei toda despida,
em meu castelo penetrou
de espada erguida.
– Ai, que dor!...
Com a flecha fez pontaria
no alvo atirou!
comigo fez patifaria.
“O jogo acabou!”
– Ai, que dor...
(Trad. Maurice van Woensel)
Moça alegre, eu vivia,
uma virgem em flor,
toda gente me sorria,
me levava em andor.
– Ai, que dor,
ó tílias malfadadas,
à beira da senda alinhadas.
Ia passear no prado
e flores ajuntar,
chegou um rapaz malvado
pra me deflorar.
– Ai, que dor...
ó tílias malfadadas,
à beira da senda alinhadas.
Minha branca mão tomou
inocentemente,
ao verde prado me levou
maliciosamente.
– Ai, que dor!...
ó tílias malfadadas,
à beira da senda alinhadas.
A alva roupa segurou,
indecentemente,
pela mão me arrastou,
violentamente.
– Ai, que dor...
Disse: “Mulher, venha comigo,
na mata estamos seguros.”
– triste senda, te maldigo –
chorei nestes apuros.
– Ai, que dor...
“Existem ali tílias formosas
à beira das estradas,
minh’harpa e lira maviosas
ali estão guardadas.”
– Ai, que dor...
Quando nas tílias chegou,
disse: “Descansemos...”
– Vênus dele se apoderou –
“agora juntos brinquemos.”
– Ai, que dor...
Meu alvo corpo ele agarrou,
de medo estava louca,
“Faço-te mulher” falou
“doce é tua boca!”
– Ai, que dor...
Minha camisa ele arrancou,
fiquei toda despida,
em meu castelo penetrou
de espada erguida.
– Ai, que dor!...
Com a flecha fez pontaria
no alvo atirou!
comigo fez patifaria.
“O jogo acabou!”
– Ai, que dor...
(Trad. Maurice van Woensel)
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Autor desconhecido,
Carmina Burana,
Maurice van Woensel
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Bandalhismo
Aldir Blanc
Meu coração tem botequins imundos,
Antros de ronda, vinte-e-um, porrinha,
Onde trêmulas mãos de vagabundos
Batucam samba-enredo na caixinha.
Perdigoto, cascata, tosse, escarro,
Um choro soluçante que não para,
Piada suja, bofetão na cara
E essa vontade de soltar um barro...
Como os pobres otários da Central
Já vomitei sem lenço e sonrisal
O PF de rabada com agrião...
Mais amarelo do que arroz-de-forno,
Voltei pro lar, e em plena dor de corno
Quebrei o vídeo da televisão.
Meu coração tem botequins imundos,
Antros de ronda, vinte-e-um, porrinha,
Onde trêmulas mãos de vagabundos
Batucam samba-enredo na caixinha.
Perdigoto, cascata, tosse, escarro,
Um choro soluçante que não para,
Piada suja, bofetão na cara
E essa vontade de soltar um barro...
Como os pobres otários da Central
Já vomitei sem lenço e sonrisal
O PF de rabada com agrião...
Mais amarelo do que arroz-de-forno,
Voltei pro lar, e em plena dor de corno
Quebrei o vídeo da televisão.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
O conto da cigana
Claufe Rodrigues (aliás, Baby the Bylly)
A cigana pegou minha mão
aí eu pensei comigo:
“Ela vai ler o meu destino”
Mas a cigana desabotoou o vestido
roçou a trança na minha cara
e enfiou a língua no meu ouvido
... Aí eu pensei comigo:
“Agora ela vai ler o meu destino”
Mas a cigana fez um beicinho
e me lambeu como se ela fosse uma gata
e eu fosse um passarinho
meio perdido na mata
... Aí eu pensei comigo:
“Agora ela vai ler o meu destino”
Mas a cigana me beijou na boca
começou a tirar minha roupa
e fez assim com o dedo na minha mão...
... Aí eu pensei comigo:
“Agora ela vai ler o meu destino”
Mas a cigana me acendeu com um fogo brando
se enroscou entre as minhas pernas
e eu senti o ventre dela
latejando, latejando...
... Aí eu pensei comigo:
A cigana pegou minha mão
aí eu pensei comigo:
“Ela vai ler o meu destino”
Mas a cigana desabotoou o vestido
roçou a trança na minha cara
e enfiou a língua no meu ouvido
... Aí eu pensei comigo:
“Agora ela vai ler o meu destino”
Mas a cigana fez um beicinho
e me lambeu como se ela fosse uma gata
e eu fosse um passarinho
meio perdido na mata
... Aí eu pensei comigo:
“Agora ela vai ler o meu destino”
Mas a cigana me beijou na boca
começou a tirar minha roupa
e fez assim com o dedo na minha mão...
... Aí eu pensei comigo:
“Agora ela vai ler o meu destino”
Mas a cigana me acendeu com um fogo brando
se enroscou entre as minhas pernas
e eu senti o ventre dela
latejando, latejando...
... Aí eu pensei comigo:
sábado, 8 de maio de 2010
Visão de São Paulo à noite
Poema Antropófago sob Narcótico
Roberto Piva
Na esquina da rua São Luís uma procissão de mil pessoas
acende velas no meu crânio
há místicos falando bobagens ao coração das viúvas
e um silêncio de estrela partindo em vagão de luxo
fogo azul de gim e tapete colorindo a noite, amantes
chupando-se como raízes
Maldoror em taças de maré alta
na rua São Luís o meu coração mastiga um trecho da minha vida
a cidade com chaminés crescendo, anjos engraxates com sua gíria
feroz na plena alegria das praças, meninas esfarrapadas
definitivamente fantásticas
há uma floresta de cobras verdes nos olhos do meu amigo
a lua não se apoia em nada
eu não me apoio em nada
sou ponte de granito sobre rodas de garagens subalternas
teorias simples fervem minha mente enlouquecida
há bancos verdes aplicados no corpo das praças
há um sino que não toca
há anjos de Rilke dando o cu nos mictórios
reino-vertigem glorificado
espectros vibrando espasmos
beijos ecoando numa abóbada de reflexos
torneiras tossindo, locomotivas uivando, adolescentes roucos
enlouquecidos na primeira infância
os malandros jogam ioiô na porta do Abismo
eu vejo Brama sentado em flor de lótus
Cristo roubando a caixa dos milagres
Chet Baker ganindo na vitrola
eu sinto o choque de todos os fios saindo pelas portas
partidas do meu cérebro
eu vejo putos putas patacos torres chumbo chapas chopes
vitrinas homens mulheres pederastas e crianças cruzam-se e
abrem-se em mim como lua gás rua árvores lua medrosos repuxos
colisão na ponte cego dormindo na vitrina do horror
disparo-me como uma tômbola
a cabeça afundando-me na garganta
chove sobre mim a minha vida inteira, sufoco ardo flutuo-me
nas tripas, meu amor, eu carrego teu grito como um tesouro afundado
quisera derramar sobre ti todo meu epiciclo de centopeias libertas
ânsia fúria de janelas olhos bocas abertas, torvelins de vergonha,
correrias de maconha em piqueniques flutuantes
vespas passeando em voltas das minhas ânsias
meninos abandonados nus nas esquinas
angélicos vagabundos gritando entre as lojas e os templos
entre a solidão e o sangue, entre as colisões, o parto
e o Estrondo
Roberto Piva
Na esquina da rua São Luís uma procissão de mil pessoas
acende velas no meu crânio
há místicos falando bobagens ao coração das viúvas
e um silêncio de estrela partindo em vagão de luxo
fogo azul de gim e tapete colorindo a noite, amantes
chupando-se como raízes
Maldoror em taças de maré alta
na rua São Luís o meu coração mastiga um trecho da minha vida
a cidade com chaminés crescendo, anjos engraxates com sua gíria
feroz na plena alegria das praças, meninas esfarrapadas
definitivamente fantásticas
há uma floresta de cobras verdes nos olhos do meu amigo
a lua não se apoia em nada
eu não me apoio em nada
sou ponte de granito sobre rodas de garagens subalternas
teorias simples fervem minha mente enlouquecida
há bancos verdes aplicados no corpo das praças
há um sino que não toca
há anjos de Rilke dando o cu nos mictórios
reino-vertigem glorificado
espectros vibrando espasmos
beijos ecoando numa abóbada de reflexos
torneiras tossindo, locomotivas uivando, adolescentes roucos
enlouquecidos na primeira infância
os malandros jogam ioiô na porta do Abismo
eu vejo Brama sentado em flor de lótus
Cristo roubando a caixa dos milagres
Chet Baker ganindo na vitrola
eu sinto o choque de todos os fios saindo pelas portas
partidas do meu cérebro
eu vejo putos putas patacos torres chumbo chapas chopes
vitrinas homens mulheres pederastas e crianças cruzam-se e
abrem-se em mim como lua gás rua árvores lua medrosos repuxos
colisão na ponte cego dormindo na vitrina do horror
disparo-me como uma tômbola
a cabeça afundando-me na garganta
chove sobre mim a minha vida inteira, sufoco ardo flutuo-me
nas tripas, meu amor, eu carrego teu grito como um tesouro afundado
quisera derramar sobre ti todo meu epiciclo de centopeias libertas
ânsia fúria de janelas olhos bocas abertas, torvelins de vergonha,
correrias de maconha em piqueniques flutuantes
vespas passeando em voltas das minhas ânsias
meninos abandonados nus nas esquinas
angélicos vagabundos gritando entre as lojas e os templos
entre a solidão e o sangue, entre as colisões, o parto
e o Estrondo
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Fofoca
Cândida Alves
Casos com os chefes
já me arranjaram vários.
Foda é que nenhum deles
aumentou o meu salário!
Casos com os chefes
já me arranjaram vários.
Foda é que nenhum deles
aumentou o meu salário!
terça-feira, 4 de maio de 2010
Captus est Libidine
Lúcia Nobre
Aqua
Benedicta
Unctione
Cabelos
Olhos
Narinas
Boca
Dorso
Mamilos
Ventre
Umbigo
Clitóris
Vagina
Abençoa
Me
Orgamos
In
Extremis
Aqua
Benedicta
Unctione
Cabelos
Olhos
Narinas
Boca
Dorso
Mamilos
Ventre
Umbigo
Clitóris
Vagina
Abençoa
Me
Orgamos
In
Extremis
domingo, 2 de maio de 2010
Os segredos do caralho
Laurindo Rabelo (1826-1864)
Mote
Os segredos do caralho
Ninguém os pode entender;
Alegre quando tem fome,
Triste depois de comer!
Glosa
De pedreiro oficial
Contratou um casamento,
E guardava (oh! que portento!)
Um estado virginal.
Em a véspera nupcial
Acabou o seu trabalho,
E, à sombra de um carvalho,
Disse, vendo a terna irmã:
– Eu vou saber amanhã
Os segredos do caralho.
Passando a noite ditosa
Desse prazer tão completo,
Que, para o tal arquiteto,
Tinha sido deleitosa,
Deixa um pouco a terna esposa,
Vai da irmã à casa ter;
E, ao vi-lo receber,
Diz-lhe ele baixo à orelha:
– Mana, segredos d'abelha
Ninguém os pode entender.
– É verdade, lhe replica
A irmã, que a foder é destra;
Nem com ser abelha-mestra
Sei os segredos da pica...
Não viste tu como fica
Antes e depois que come?
É uma cousa sem nome!...
Nota bem que não gracejo;
É só o bicho que vejo
Alegre, quando tem fome!
– Reparei, irmã querida,
E fez-me grande impressão
Vir-lhe aquela indigestão
Logo depois da comida!
Cansado da dura lida
Parece que vai morrer;
Embalde tenta se erguer
Porque a fraqueza o tolhe,
E entre os colhões se recolhe,
Triste depois de comer!
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