Amigos da Alcova

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Você meu mundo meu relógio de não marcar horas


Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

 

Você meu mundo meu relógio de não marcar horas; de esquecê-las. Você meu andar meu ar meu comer meu descomer. Minha paz de espadas acesas. Meu sono festival meu acordar entre girândolas. Meu banho quente morno frio quente pelando. Minha pele total. Minhas unhas afiadas aceradas aciduladas. Meu sabor de veneno. Minhas cartas marcadas que se desmarcam e voam. Meu suplício. Minha mansa onça pintada pulando. Minha saliva minha língua passeadeira possessiva meu esfregar de barriga em barriga. Meu perder-me entre pelos algas águas ardências. Meu pênis submerso. Túnel cova cova cova cada vez mais funda estreita mais mais. Meus gemidos gritos uivos guais guinchos miados ofegos ah oh ai ui nhem ahah minha evaporação meu suicídio gozoso glorioso.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Lúbrica


 
Cesário Verde (1855-1886)

 

Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás-de por mim morrer,
Morrer muito contente.

Lançaste no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!

Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!

Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:

Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.

Teus olhos sensuais
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.

As grandes comoções
Tu, neles, sempre espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...

Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais,
Que muitas bibliotecas!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Carme 32


Catulo (87-54 a.C.)




Te peço, minha doce Ipsilila,

delícias minhas, graça, mimos meus,

ordena, que finda a sesta, eu te procure,

e caso ordenes, cogita tais cuidados:

despe de trava ou tranca a tua porta,

não te assaltem coceiras de sair.

Mas fica em casa, em raro preparo

de nove, gota a gota, nove fodas.

Se assim quiseres, pressa!, não hesites,

que eu, já almoçado, e farto à farta,

perfuro a um só tempo toga e túnica!


(Trad. Luiz António de Figueiredo e Ênio Aloísio Fonda)

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Sonetos Luxuriosos – 1


Aretino (1492-1556)

 
 

Mais que sonetos este livro[1] aninha,
Mais que éclogas, capítulos, canções.
Tu, Bembo ou Sannazaro, aqui não pões
Nem líquidos cristais e nem florinhas. 

Marignan madrigais não escrevinha
Aqui, onde há caralhos sem bridões,
Que em cu ou cona lépidos dispõem-se
Como confeitos dentro da caixinha. 

Gente aqui há que fode e que é fodida,
De conas e caralhos há caudal
E pelo cu muita alma já perdida. 

Fodese aqui com graça sem igual,
Alhures nunca assaz reproduzida
Por toda a jerarquia putanal. 

Enfim loucura tal
Que até dá nojo essa iguaria toda,
E Deus perdoe a quem no cu não foda.



(Trad. José Paulo Paes)

[1] Leia-se blog...

domingo, 4 de novembro de 2012

Epigrama 3

 
João Sebastião
 
 
 
 
No teu cu, ó doce amada,
 
repousa a minha alegria,
 
adormece o meu prazer,
 
dia e noite, noite e dia.

sábado, 27 de outubro de 2012

Epigrama 2

 
 
João Sebastião
 
 
Senta no meu colo, baby
sente a força do meu pau
te invadindo latejante
num desvario animal.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Epigrama 1


João Sebastião



Chupar boceta é tão doce:

sabe a seiva, sabe a mel;

chupar a tua boceta

abre-me as portas do céu.


terça-feira, 2 de outubro de 2012

Quarto crescente


Bruna Lombardi

 


Ainda sou o cavalo selvagem
que tu sabias que eu era
ainda tenho essa lua de feitiço
me brilhando nas entranhas
e esses olhos de animal
à espreita.

Carrego ainda esse sentido estranho
nessa trama intrincada dos instintos.
No prazer e no perigo o meu contágio
desenfreada a minha liberdade
vem do sangue o meu conhecimento
salgado como o suor.

Ainda sou da mesma lâmina de aço
que te recorta o corpo. Do mesmo brilho
azul que te fascina. Da mesma fúria desmedida
de derrubar as cercas. E trago ainda as mesmas marcas
o mesmo gosto, o mesmo cheiro feroz
de terra e mato.

Ainda a mesma paixão me uiva dentro
quando é noite de verde e desespero.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

quero mamar


Dori Carvalho
 

 

quero mamar

tuas tetas

abrir a flor

entre teus grandes lábios

passear a língua

pelas tuas curvas

teus mamilos

montes, selva

molhada de desejo

meu gargalo em tua boca

tua gruta em minha boca

tua língua em minha língua

teu gozo, meu gozo

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Soneto CXXIII

António Lobo de Carvalho (1730-1787)
 
Ao Paca do Rio de Janeiro, indo de Lisboa são,
do muito gálico que trouxe

Putaria do sul, gentinha fraca,
Convosco falo, cagaçais do Rio;
Que vendo ao longe as vergas de um navio
Altos vivas cantais ao vosso Paca:

Não tarda muito, vai numa sumaca
Que em horror do pirata e do gentio,
No tope leva um piçalhão de brio,
Que o vento açouta ao modo da matraca:

Vista a senha, rapai todas a crica,
Que o duro batedor, que nunca enjoa,
Lá no signo de virgo em terra fica:

Que para esfrega de uma moça boa
Sararam-lhe os colhões, cresceu-lhe a pica
Por milagre das deusas de Lisboa.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Posse


Leonor de Almeida

 

Vem cá! Assim, verticalmente!
Achega-te... Docemente...
Vou olhar-te... E, no teu olhar, colher
promessas do que quero prometer,
até à síncope do amor na alma!
Colemos as mãos, palma a palma!
A minha boca na tua, sem beijo...
Desejo-te, até o desejo
se queixar que dói.

E sou tua, assim, como nenhuma foi!

domingo, 19 de agosto de 2012

Canção para a moça clara


Zemaria Pinto





felino sorriso branco
no chão de cal da memória
alva em seu vestido neve
diáfana caçadora
nasce a moça na candura
da manhã feita de anil 

cabelos de longa dança
e suaves tons amarelos
sopram seda sobre o colo
casulo onde a moça guarda
com rigores de clausura
vontades elementares 

à sombra do véu que a veste
adivinho o ventre lânguido
feito de leite e de espuma
quando a moça num meneio
gira em torno da canção
que se revela aos meus olhos 

em largos gestos de adeus
a moça cavalga o vento
gargalhando epifanias
deserdando-me de mim
clara clara plurialva
sob o sol do meio-dia 

(mas os pentelhos da moça
só depois eu pude ver
são da cor noite-sem-lua
selva de negra folhagem
limalha palha fuligem
vertigens de anoitecer)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O lascivo


António Nobre (1867-1903)



Corpo de ebúrnea pele, ó carne de alva infância!
entorna sobre mim o teu sangue pisado...
enlaça-me o pescoço em voluptuosa ânsia,
como se enlaça a corda à gorja do enforcado!

Morde-me o corpo, flor! Com teus espinhos de aço,
morde-me o olhar que chora e os lábios que dão ais...
Morde-me a fronte, os pés! Arranca-me um pedaço!
Queres auxilio? Pede o sabre aos generais.

Aguça a boca! Afia os dentes como espadas,
Sabá! na pedra amoladora do meu seio
e, após as fundas, cruéis e vermelhas dentadas,
chupa-me o sangue a arder, abre-me o corpo ao meio!

Vamos! Trovões! O meu noivado ilustre!
À Carne! À Ceia! A mesa está posta, anda ver:
o céu aceso de relâmpagos é o lustre:
nosso padrinho, Deus, já o mandou acender...

Os convidados são os tigres, as panteras,
que de Além-Mar vêm assistir às nossas bodas...
E tu, naquela orgia olímpica de feras,
devora-me, também, fera maior que todas!

Ó meu amor! Atende aos meus uivos funéreos!
Piedade! Vem! Sossega-os: dá mais pasto aos leões,
grita: façamos acordar os cemitérios!
E os defuntos uivar dentro dos seus caixões.

Quero-te ver, assim, estatelada, nua,
capaz de seduzir os mortos com desejos...
Ah, que o teu cio chegue aos astros, flor da Rua!
Que Jesus desça à Terra, a cobrir-te de beijos,
que o oceano aperte, enfim, em seus braços a Lua!...

terça-feira, 24 de julho de 2012

colhe os colhões a boca

E. M. de Melo e Castro



colhe os colhões a boca
o barco a flor o mastro
a língua louca louca
o satro[1] glande monstro

que na água que mostro
laiva o sabor do ouro
álcool que vem do mosto
leite que sabe a louro

pelo de pele colhida
jeito informe que pica
alga onda comprida
que treme e foge e fica

colhe no ar e foge
a árvore da vida.



[1] Satro: contração de sátiro.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

a minha amada


Dori Carvalho



a minha amada
tem cheiro de flor do campo

a minha amada
tem pele de seda chinesa

a minha amada
tem gosto de damasco espanhol

a minha amada
invade todos os meus sonhos
e faz meu coração chorar de saudade

a minha amada
entra por todos os meus poros
e faz meu corpo tremer de desejo

a minha amada
faz minh’alma vagar todas as noites
entre o inferno e o paraíso

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A cantora gritante

Hilda Hilst (1930-2004)





Cantava tão bem

Subiam-lhe oitavas

Tantas tão claras

Na garganta alva

Que toda vizinhança

Passou a invejá-la.

(As mulheres, eu digo,

porque os maridos

às pampas excitados

de lhe ouvir os trinados,

a cada noite

em suas gordas consortes

enfiavam os bagos).

Curvadas, claudicantes

De xerecas inchadas

Maldizendo a sorte

Resolveram calar

A cantora gritante.

Certa noite... de muita escuridão

De lua negra e chuvas

Amarraram o jumento Fodão a um toco negro.

E pelos gorgomilos

Arrastaram também

A Garganta Alva

Pros baixios do bicho.

Petrificado

O jumento Fodão

Eternizou o nabo

Na garganta-tesão... aquela

Que cantava tão bem

Oitavas tão claras

Na garganta alva.



Moral da estória:

Se o teu canto é bonito,

Cuida que não seja um grito.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

eu


Dori Carvalho



eu
quero
ser
feito
vinho
tinto
entrar
em
tuas
veias
e
me
perder
em
tua
vulva
violenta

domingo, 17 de junho de 2012

As ilusões


Múcio Teixeira (1857-1928)




A primeira ilusão da minha vida

Caiu um dia aos pés

De uma pequena, ardente e sacudida,

Que fodia por dez.



A segunda durou como uma bolha

De escuma de sabão:

A terceira morreu, novinha em folha,

Num dia de pifão.



A quarta, quinta, a sexta.... Mas quem há-de

Contar as ilusões?

Fugiram todas, sem levar saudade,

Nem dar explicações.



Nem umazinha só, por despedida,

Se lembraram de dar...

Eis-me, porém, sem elas, mas com vida,

A foder e a cantar.



Sim, que as tais ilusões, no fim de contas,

Não passam de ilusão....

São como as leves cabecinhas tontas

De putas de estadão:



Que são as que nos deixam cicatrizes

No membro jururu...

São como o fogo-fátuo das atrizes...

Que têm ramela até no olho do cu.

sábado, 9 de junho de 2012

Mário Faustino


Manuel Bandeira (1886-1968)



Mário Faustino de Veras

Se és deveras veado

Por que não assinas logo

Pra quem dás ou pra quem deras

Ou darás, Faustino amado:

Em vez de Mário Faustino,

Mário Deveras Veado?

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A um poeta medíocre

Francisco Eugênio dos Santos Tavares (1913-1963)


A um poeta medíocre que lhe mandou um folheto de versos,
Torturas da Vida, pedindo a sua opinião



No dia dois de Novembro
vi-o numa leitaria:
achei-lhe cara de membro...
de membro da Academia.

Se você procura assunto
para um futuro trabalho
não puxe pelo bestunto
nem torture mais a vida:
vá torturar o caralho!

domingo, 20 de maio de 2012

Cantiga


Múcio Teixeira (1857-1928)




Certa menina muito galante
Fez a punheta ao seu amante.


Foi numa sala de grande luxo
Que a delambida caiu no buxo...


O felizardo, com ar de sono,
Sem mais aquela, palpou-lhe o cono.

A delambida, mostrando a greta,
Disse, arreitada: – Se quiser, meta...



As calças ele desabotoa
E mostra a coisa... Que coisa boa!


Ela as mãozinhas põe no caralho...
– “Sacode, aperta” – diz-lhe o bandalho.

Começa a história, dando risadas,
Com as mãozinhas logo esporradas...


Se o pai soubesse da putaria,
Desse brinquedo não gostaria.


Se a mãe soubesse da vil punheta,
Preferiria que ela lhe desse a greta.


E ela dizia, depois, sem sono:
Porra nos dedos... dedos no cono!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O canto do puto


Paulo Veloso (1909-1977)




Minha voz dengosa

Ó fanchos, ouvi!

Sou fruta gostosa

E fruta nasci.

Ó fanchos, meu macho

Era o Jurandi;

O macho sebento

De pau de jumento

Que pra meu tormento

Ó fanchos, perdi!



Já vi bons caralhos

De amigos bandalhos

E os doces trabalhos

Da foda provei!

Das picas calhordas

Senti pelas bordas

Contactos de cordas

Das picas que amei!



Sou puto, confesso!

Bichocas não meço

Quando a alguém peço

Para me enrabar!

Da bunda ao buraco,

Ou então no sovaco,

Não dou o cavaco,

Eu quero é gozar!



O Fontes guloso,

O Paulo Veloso,

O Staerke, jeitoso,

Comeram-me nu!

O Elpídio surdina,

O Cortes bolina

E o Lápis canina

Me foram ao cu!



Agora, cansado,

Todo engalicado,

Ficou isolado

Meu cu infeliz!

Se acaso não acho

Alguém para macho,

No cu atarraxo

Meu grande nariz...  



Meu canto de puta

Ó fanchos, ouvi!

Sou fresco! Sou fruta!

Veado nasci!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Canto da bugra


Múcio Teixeira (1857-1928)

  

I


Não chores, ó filha,
Não chores, que a vida
É foda renhida
Viver é foder.
A foda é combate
Que a porra rebate,
Que o cu da donzela
Só peida, a foder…
 

II
 

Um dia fodemos!
O homem que fode,
Mais gostos não pode
Na vida sentir.
Na porra que entesa
Tem sempre uma presa,
Quer suja francesa,
Galinha ou tapir.
 

III
 

A fêmea, abrasada,
O macho deseja
Vencer na peleja,
Garbosa e feroz;
E os trêmulos velhos
Dão falsos conselhos,
Coçando os pentelhos,
Vencidos coiós…
 

IV

Domina quem fode:
Se esporra, descansa,
Na doce esperança
De alegre se vir;
De cono lavado,
O mais não te importe:
Sê puta do norte,
Sem nunca parir.
 

V
 

Já que és minha filha,
Meus brios reveste:
Tamoia nasceste,
Fodida serás;
Engole o tacape
Robusto, fagueiro,
Do duro guerreiro,
Na guerra e na paz.
 

VI
 

Teu grito de bunda
Retumbe aos ouvidos
De imigos trazidos
Por forte tesão;
E treme de ouvi-lo
Pior que o sibilo
Da cobra e do grilo,
Pior que o trovão
 

VII
 

E a fêmea nas tabas
Querendo esfalfados
Os bugres criados
Na lei do tesão,
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez na barriga
Te meta o seu grão.
 

VIII


Porém se um rabicho,
Traindo-te os passos,
Te atire nos braços
De imigo falaz,
Da foda na hora
Teus gostos memora
Verás como chora,
Lambendo-te – o ás!
 

IX


E cai, como o tronco
Do raio tocado,
Fodido, esporrado,
Já murcho o colhão…
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa a consorte
De extinto cabrão.
 

X
 

Tens cu, cono e boca,
Penetra na vida
Fodendo ou fodida,
Que a vida é foder!
A vida é combate
Que a foda rebate,
Cacique ou mascate…
Querer é poder.

Voyeurs desde o Natal de 2009