Cesário Verde (1855-1886)
Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,Que hás-de por mim morrer,
Morrer muito contente.
Lançaste no papel
As mais lascivas frases;A carta era um painel
De cenas de rapazes!
Ó cálida mulher,
Teus dedos delicadosTraçaram do prazer
Os quadros depravados!
Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:
Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandosTraduzem menos mal
Os vícios execrandos.
Teus olhos sensuais
Libidinosa Marta,Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.
As grandes comoções
Tu, neles, sempre espelhas;São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...
Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,Teus olhos dizem mais,
Que muitas bibliotecas!