Amigos da Alcova

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Lábios que beijei 36


Zemaria Pinto

Doroteia


Evangélica, a tímida Doroteia foi se achegando aos poucos, descobrindo – ou fazendo com que eu descobrisse – interesses comuns, como livros e discos, que trocávamos por empréstimo. Ficamos amigos, dentro do ambiente de trabalho, mantendo a distância necessária entre superior e subordinada. Em um serão, o que não era incomum, ficamos apenas os dois, finalizando um relatório a ser enviado à matriz, quando Doroteia começou um longo discurso, que, pelo tom, eu já adivinhava como acabaria. Enquanto ela desfiava suas dúvidas existenciais – a missionária, virgem, apaixonada pelo homem mais velho, casado, seu superior hierárquico –, comecei a tocá-la, a despi-la, e ela, toda úmida, não oferecia resistência. Nua, coloquei-a contra a mesa e penetrei-a com força, por trás. O gemido pungente aguçou a minha violência, até o esporro. O corpo moreno, carnudo, que a roupa recatada escondia era belo. Doroteia não ficou muito tempo no banco, mas durante dois anos nos encontramos regularmente. A doce Doroteia gostava de palmadas e mordidas na bunda e nas coxas. Enquanto eu a enrabava, ela pedia, sôfrega: – bate, meu amor, bate com força!... Bate, porra! Exigia que eu deixasse as marcas dos meus dentes nela e que nosso próximo encontro acontecesse antes que as marcas anteriores apagassem. A voz rouca de Doroteia ainda ecoa, entre a dor e a volúpia, na noite dentro de mim.
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