Amigos da Alcova

domingo, 24 de janeiro de 2016

De um fauno


Emiliano Pernetta (1866-1921)


Ah! quem me dera, quando passa em meu caminho
Juno! com seu andar de névoa que flutua,
Poder despi-la dessa túnica de linho...
E vê-la nua! Eu só compreendo estátua nua!

Nua! essa corça nua é branca, e é como a Lua...
Ser eu Apolo! embriagá-la do meu vinho!
Porém se estendo no ar os meus braços, recua,
Esquiva a dama apressa o passo miudinho...

A dama foge, não deseja que eu avance...
Meu desejo, porém, é um gamo. De relance,
Vendo-a, corre a querer sugar-lhe o claro mel...

Despe-a; carrega-a, assim, despida, para o leito...
E, nua, em flor, bem como um sátiro perfeito,
Sobre o feno viola essa Virgem cruel!

domingo, 3 de janeiro de 2016

Lábios que beijei 54


Zemaria Pinto
Nana



Mais velha que eu – ela dizia mais experiente –, Nana apareceu no banco pedindo-me conselhos sobre aplicações financeiras. O marido pagava-lhe uma boa pensão, depois de anos de justas legais, e ela mantinha um bom emprego como professora universitária, em meio expediente, o que lhe sobrava tempo para atuar em projetos especiais de secretarias de educação. As crianças estavam na faculdade e ela, no ápice da beleza, esbanjava vitalidade e bom humor. Um comentário tolo meu quase põe uma barreira entre nós: disse que não achava certo o sujeito ter que pagar pensão para uma mulher independente e resolvida. Sem deixar de sorrir e destilando fina ironia, ela justificou-se: seu marido cresceu profissionalmente enquanto ela ficava em casa, cuidando das crias, procurando emprego quando já passara dos 30 e as duas meninas já se viravam sozinhas; aquilo era uma indenização pelo tempo perdido. Para me desculpar, convidei-a a um almoço. Não tenho tempo, mas aceito um happy hour, locução que à época entrava na moda. Nana era toda lúbrica. Com o físico de uma Vênus de Rubens, tinha um fôlego de atleta e explorava com sabedoria o seu corpo maduro e belo. Não tinha pressa para nada. Pedia para eu parar de mexer dentro dela, enquanto me comprimia, contraindo os músculos, pélvicos ou glúteos, dependendo de onde eu estava. Poucas vezes gozei com tanto furor quanto com Nana, que ainda tinha um algo mais: ejaculava. Eu nunca vira nada igual: quando ela gozava, um jato aquoso e transparente saía – pude ver depois – pela sua uretra. Era diferente de outras que secretavam um creme branco, parecido com esperma, dentro da vagina. Já naquela primeira noite eu percebera que o colchão estava molhado, depois de dois ou três orgasmos de Nana. Pedi para ela gozar na minha boca e me afoguei naquele jato quente, que não parecia nada além de água: nem cor, nem cheiro, nem sabor. Nana disse-me, entre gargalhadas, que essa fora a desculpa para o marido trocá-la por outra 20 anos mais jovem. Mas ficou um tanto triste ao dizer que nenhum médico jamais soube explicar aquilo. Explicar para quê? Você é diferente, apenas. Trepar com Nana era uma festa para os sentidos, com direito a jatos de amor, como ela apropriadamente batizou o seu singular modo de gozar.    

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