Amigos da Alcova

domingo, 15 de maio de 2016

Nota biográfica IV


Gastão de Holanda (1919-1997)


Cantar as excelências desta puta
É captar do ser a transcendência
É tecer um exemplo de imprudência
Onde alma e carne se traduzem em luta.

Navio de pedra, às vezes dúctil fruta
Resolve-se em pecado e conivência,
Clito, pentelhos, lábios sem clemência,
Um segredo infernal que sabe a gruta.

Suspenso pela ideia que fulmina
Sequestro na cama repetindo
Aos gritos a linguagem da vagina.

Sofro a grelha de fogo consumindo
Exangue pênis, falo de morfina
Que o cego já castrado vai carpindo.

domingo, 1 de maio de 2016

Cântico dos cânticos


Renata Pallottini


O meu amor é meu e eu sou dele.
O linho horizontal é nossa casa
e eu me aninho a dormir sob sua asa;
amo-o com minha boca e minha pele.

Ele é quem vela e não me diz que vele
porque sua é a chama e minha a brasa.
O seu fervor ao meu fervor se casa,
clara coma de luz que nos impele.

Desci ao campo raso: ele é meu campo
onde me deito e a erva se derrama;
é meu olhar que voa, pirilampo.

Sem terra, irei por terra; ele me chama.
Vou sem saber por onde, ao mar ou monte.
Sem sua boca eu já não sei ser fonte.

Voyeurs desde o Natal de 2009