Amigos da Alcova

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A carnal tentação desenfreada

Nicolau Tolentino (1740-1811)



A carnal tentação desenfreada
Que ao sangue quente alta justiça pede,
Fez com que eu, embrulhando-me na rede,
Subisse de uma puta a infame escada.


Ligeiras pulgas saltam de emboscada
Fartando em mim de sangue humano a sede;
Arde a vela pregada na parede,
Já de antigos morrões afogueada.


Saiu da alcova a desgrenhada fúria
Respirando venal sensualidade,
Vil desalinho, sórdida penúria:


Muito pode a pobreza e a porquidade;
Abati as bandeiras à luxúria,
Jurei no altar de Vênus castidade.

domingo, 26 de junho de 2011

Pornográfico

Leo Pinto



Todo mundo quer ler pornografia,
todo mundo quer ver, mas não assume,
e em mis enganos bobos se resume
nosso desejo pela putaria!

O que há de errado, pois, na sacanagem?
Se todo mundo gosta, que pudores
são estes que nos travam a engrenagem
do tesão em seus mais finos sabores?

Bucetas e caralhos, censurados,
desmascaram a tola realidade
de seres que, insistindo-se castrados,

destroem-se e, corroídos de vontade,
enquanto bons prazeres lhes escorrem,
perdidos em seus preconceitos morrem!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Soneto 374 Ninfeta

Glauco Mattoso


 
Dedico-te esta dádiva, ó Dolores,
musa divina, diva doidivanas!
Recebe de presente estes sacanas
bichinhos de pelúcia chupadores!
 
Serão teus companheiros quando fores
brincar de bestialismo. Sem as xanas
de tuas amiguinhas ou das manas,
te sentes tão sozinha e tens tremores!
 
Coitada da Dolô! Quem dera fosse
dotada duma mansa passarinha!
Mas não! É uma ninfômana precoce!
 
Já desde pequenina se entretinha
em jogos. Ao invés da bala doce,
chupava e era chupada na tetinha.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

No ritmo dessa festa

Bruna Lombardi



Vem cá, meu bonito
que eu te solto os arreios
que eu te faço, te encaro
e te alucino
a minha paixão não cabe no teu seio
não cabe no teu quarto
o meu destino.
Nem cabem na palma da minha mão
todas as linhas
que eu vou traçando nos caminhos
todas as contradições em que acredito
a liberdade que te proponho
a loucura de improvisar ninhos
e desprender os pássaros do sonho.

Que é que há, meu bonito
que medo é esse
que te segura à terra
te prende e até parece
que você não tem luar.
Vem pra cá te enfeitar de festa
que eu vou te esfregar com areia
que eu vou te marcar na testa.

Vou aprender teu jeito esquisito
de mexer com essas franjas
de balançar as arestas
te mostrar como se dança
o ritmo desse deboche
Tem que ter ferro e trato
Tem que ter desejo ardido
pra poder soltar esse bicho
escondido nesse mato.

Tem que soltar essa fera
que dentro do peito te amarra
pra dançar como se dança
no ritmo dessa farra.

Vem cá meu bonito prepara
o bote. Afia teu corpo pro corte
Vem, se larga se espalha
que eu sei lidar com teu porte
Vem, que eu sou da tua laia.

domingo, 12 de junho de 2011

Soneto IX

Bocage (1765-1805)



Arreitada donzela em fofo leito
Deixando erguer a virginal camisa,
Sobre as roliças coxas se divisa
Entre sombras sutis pachocho estreito.

De louro pelo um círculo imperfeito
Os papudos beicinhos lhe matiza;
E a branda crica, nacarada e lisa,
Em pingos verte alvo licor desfeito.

A voraz porra, as guelras encrespando,
Arruma a focinheira, e entre gemidos
A moça treme, os olhos requebrando.

Como é ainda boçal, perde os sentidos;
Porém vai com tal ânsia trabalhando,
Que os homens é que vêm a ser fodidos.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A uma mulher mal fodida, e, por isso, muito ranzinza e muito malvada

Paulo Franchetti



Mordendo o próprio rabo a pescadinha
É servida em Lisboa, pelas tascas;
Haja sol, faça frio, uivem borrascas,
E comida, co’o rabo na boquinha.

Ali encontrei u’a dona bem mesquinha,
Dos livros beliscando algumas lascas,
De alguns velhos papéis roendo as cascas,
Até julgar-se em seu saber rainha.

E era tão feia, que nem para freira
Servira. E escrota de corpo e tão fera
De humor, que alguém lhe disse um dia: “Espera!

Por que, ao invés de cuspir tanta asneira,
Já que ninguém te quer comer a cona,
Não tapas co’a bundinha essa bocona?”

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Poema d’amiga

Chico Doido de Caicó (1922-1991)



Amiga de bem trepar

Queres foder hoje

Até o mundo acabar?

Ou queres foder depois

Pros lados d’além-mar?

Amiga de bem querer

Queres ser chupada hoje

Até parar de chover?

Ou que queres ser chupada depois

Pra ser fodida e foder?

Oh amiga, minha amiga,

O que seria de mim sem você...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A rave

Marco Catalão



Só o ruído é real, só o vácuo existe
nessa estrambótica estroboscopia
que os jovens chamam rave, e que consiste
numa estridente agitação vazia.

Pois se não fosse assim, o que daria
aos rostos esse aspecto ansioso e triste?
Dançam, se drogam, beijam... Raia o dia,
e o intermitente bate-estaca insiste...

Mas que velho convence a juventude?
Sem medo, sem pudor, sem compromisso,
desperdiçando as forças e a saúde,

seguem na festa, em ritmo acelerado.
Mas o foda não é nem nada disso...
O foda é eu não ter sido convidado!

Voyeurs desde o Natal de 2009