Dalton
Trevisan
Cantar
2
Ó não amado
meu
moça honesta
já não sou
e como
poderia
se você me
corrompeu até os ossos
ao deslizar
a mão sob a minha calcinha
acariciou a
secreta penugem arrepiada?
como seria
honesta
se você me
deitou nos teus braços
abriu cada
botão da blusa
sussurrando
putinha no ouvido esquerdo?
se pousou
delicadamente sem pressa
a ponta dos
dedos nos meus mamilos
até que
ficassem duros altaneiros
apontando em
riste só para você?
maneira não
há de ser moça direita
depois de
ter as bochechas da nalga
mordidas por
teu canino afiado
que gravou
em brasa para sempre
com este
sinal sou tua
não nenhum
resto de pureza
assim que
descerrou os meus lábios
dardejando a
tua língua poderosa
na minha
enroscada em nó cego
como ser
mocinha séria
depois de
beijar todinho o teu corpo
com medo com
gosto com vontade
de joelho
descabelada mão posta
à sombra do
cedro colosso do Líbano
mil escudos
e troféus pendurados
é possível
ser moça de família
se me sinto
a rosa de Sarom
orvalhada da
manhã
com um só
toque do teu terceiro quirodáctilo?
ai precioso
amado querido
meu corpo
tem memória e febre
meu puto me
abrace me beije
sirva-se
tire sangue me rasgue inteira
satisfaça a
tua e a minha fome
finca o teu
pendão estrelado
onde ele
deve estar
oh não meu
príncipe senhor da guerra
mocinha
séria já não sou
me boline
devagarinho
no uniforme
de gala da normalista
atenção às
luvas brancas de renda
me derrube
na tua cama
de lado
supina de bruços
me desnude
diante do espelho
me arrume de
pé dentro do armário
me ponha de
quatro
me faça de
carneirinha viciosa do bruto pastor
me violente
sem dó com firmeza
só isso mais
nada
sim
bem-querido meu
sou putinha
feita pra te servir
me abuse
desfrute se refocile
quero sim
apanhar de chicotinho
obedecer a
ordens safadas
submissa a
todos os teus caprichos
taras
perversões fantasias
quais são?
como são? onde são?
me diga como
posso ir à igreja
de véu no
rosto Bíblia na mão
se você
afastou com dois dedos firmes e doces
o mar vermelho
entre as minhas pernas
expondo à
vista ao ataque frontal
meu corpinho
ansioso e assustado
me estuprou
me currou me crucificou?
quando
separou os joelhos
abrindo as
minhas coxas
um querubim
fogoso
de delícias
me cobriu
com sua
terceira asa de sarça ardente
como ser
moça ingênua
se antes sou
uma grande vadia
o teu
exército com fanfarras desfilando
na minha
cidadela arrombada?
ai quero te
dar até o que não tenho
amado meu
santuário meu
quero ser a
tua cadelinha mais gostosa
como nunca
terá igual
serei
vagabunda eu juro
todas as
posições diferentes
todos os
gemidos gritos palavrões
todas as
preces atendidas
desfaleço de
desejo por você só você
montar o teu
corpo cândido e rubincundo
é galopar no
céu
entre
corcéis empinados relinchantes
vem
ó princesa minha
depressa
vem ó doce putinha
aos gritos
fortes do rei que batem à porta
o meu
coração se move
salta de um
a outro lado do peito
já se
derretem as minhas entranhas
o rosto do
amor floresce nesse copo d'água
eu sou tua
você é meu
por você
inteirinha me perco
quem fez de
mim o que sou?
sim amado
meu
sou virgem
princesa concubina
égua
troteadora no carro do Faraó
vento norte
água viva
sou rameira
tua rampeira Sulamita
lírio-do-vale
pomba branca
morrendinha
de tanto bem-querer
até que
sejamos um só corpo
um só amor
um só