Amigos da Alcova

segunda-feira, 23 de março de 2015

Allegro


Nei Leandro de Castro


Deixa crescer os pelos
do teu sovaco, amada.
Quero vê-los encachoeirados
recendendo a mar, a limonada
travo de coisa doce e amarga.
Quero vê-los saindo, com cheiro de sargaço,
dos dois esconderijos que trazes
no final dos braços.
Pensaste um dia nisso? Pensa.
Deixa que os pelos do teu sovaco
cresçam sem cortes, espontâneos,
alastrando-se numa mancha preta
como de resto crescem
os pelos de tua boceta.

quinta-feira, 5 de março de 2015

O “adeus” de Teresa


Castro Alves (1847–1871)



A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
“Adeus” eu disse-lhe a tremer co'a fala...

E ela, corando, murmurou-me: “adeus.”

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro. . .
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
“Adeus” lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”

Passaram tempos... sec'los de delírio
Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
...Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse – “Voltarei!... descansa!...”
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”

Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquesta
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!

Foi a última vez que eu vi Teresa!...

E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”


Voyeurs desde o Natal de 2009