Wenceslau de Queiroz (1865-1921)
Da carne rosada e branca
Do teu corpo primoroso
O prazer férvido arranca
Os arrepios do gozo...
Como um par de negras
cobras,
Lambem-te o dorso umas
tranças,
Que há muito tempo em mil
dobras
Prenderam-me as
esperanças.
Tuas cálidas narinas
Arfam – quando, ardente e
louca,
Como folhas de cravinas,
Rolam-te os beijos da
boca...
Latejam-te as fontes;
todo
O delírio que tu sentes
Aflora de estranho modo
À luz de teus olhos
crentes.
A sensação mais fugaz
Perfuma-te as róseas
pomas,
Como se alguém
destampasse
Um frasco cheio de
aromas.
Tua pele povoada
De inumeráveis desejos
Treme e retrai-se
irritada
À atroz pressão de meus
beijos.
Quebra-te a voz na
garganta
A titilação nervosa,
Que excita, que te
quebranta
O corpo, Laís formosa.
Teus braços como cadeias
Cingem-me sempre... os
sentidos
Imperam sobre as ideias,
Como um rei sobre os
vencidos.