Amigos da Alcova

sábado, 31 de dezembro de 2011

Ardor

Grace Cordeiro

descubra-me no tempo

enquanto as virilhas

estão acesas

pois os pelos se vão

na jornada da alcova

e tudo cansa

e nada se espanta

e a boca se perde

nos montes carnais

nas nádegas lunares

nos sóis de

dedos trêmulos

lânguidos, líquidos

se consumindo no

mar pueril dos pensamentos.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Menstruação

Liberto Cruz



Serena fonte, antiga,
onde tudo é suave.
E o líquido desliza
como tranquila ave.

Que espadas a cortaram
que lábios a sorveram
que dedos a tatearam
ou corpos repudiaram,

não sei. Nem mesmo a fonte
quanto desejo exangue
provocou no viandante.

Agora é vermelha, quente,
e suja, mas é a ponte
para que o Amor rebente.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sonhei, linda Signi, que em fofo leito

Anônimo português (século XIX)



Sonhei, linda Signi, que em fofo leito
No meus amantes braços te apertava,
Que nas mimosas faces te beijava,
E que o meu peito unia com o teu peito;

Que da modéstia o denso nó desfeito,
Por todo o lindo corpo te apalpava,
E que entre alvas coxas me enlaçava
O meigo amor no vínculo mais estreito:

Enfim a coisa que o decoro cala
Contigo fez julgar-me que fazia,
E eu gozei um prazer que mal se iguala;

Porém, vem despertar-me o ingrato dia,
E, mais veloz que o fumo, então se exala
Doce engano da viva fantasia.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Maldição

Cacilda Barbosa



Este meu corpo bonito

Traz um sabor esquisito

De lágrima acre e doce

Traz cores de arco-íris

Parto parido de dores.

Marcas sugadas de amores

Este meu sexo maldito

Fala mais alto que um grito

Sufocado no pudor

Pede mãos implora carícias

Loucuras e luxúrias

Libidinagens malícias

Esta alma aqui trancada

Morre após cada soluço

Em meu corpo crucificada.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Volúpia

Florbela Espanca (1894-1930)

  

No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frêmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade…
A nuvem que arrastou o vento norte…
— Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
 

Trago dálias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
 

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças…
 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ternura

David Mourão-Ferreira (1927-1996) 


Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

sábado, 3 de dezembro de 2011

Soneto CLXXVII

Antônio Lobo de Carvalho (1730-1787)

A uma freira do Porto,
com quem teve amores na sua mocidade
Puta dum corno, dos diabos freira,
eu me ausento, por mais não aturar-te;
tu cá ficas, cá podes esfregar-te
com quem melhor te pague essa coceira;

Última tu serás, sendo a primeira
que de mangar em mim se achou com arte;
mas eu nisso mijei, que em toda a parte
bem se sabe quem é Clara-Ribeira:

Vai-te, surrão, injúria das mulheres,
vai fornicar na praia, e não se diga
que não achas colhões quantos quiseres:

Tanta luxúria os ossos te persiga,
que ainda os mesmos bocados que comeres
se convertam em porras na barriga.

Voyeurs desde o Natal de 2009