Amigos da Alcova

domingo, 31 de janeiro de 2010

Poema sujo (fragmento)

.
Ferreira Gulllar



                             turvo turvo
                             a turva
                             mão do sopro
                             contra o muro
                             escuro
                             menos menos
                             menos que escuro
menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo
                             escuro
                             mais que escuro:
                             claro
como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma
                             e tudo
                             (ou quase)
um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas
                             azul
                             era o gato
                             azul
                             era o galo
                             azul
                             o cavalo
                             azul
                             teu cu
tua gengiva igual a tua bucetinha que parecia sorrir entre as folhas de banana entre os cheiros de flor e bosta de porco aberta como uma boca do corpo (não como a tua boca de palavras) como uma entrada para
                                                                             eu não sabia tu
                                                                             não sabias
                                                                             fazer girar a vida
                                         com seu montão de estrelas e oceano
                                                                             entrando-nos em ti

sábado, 30 de janeiro de 2010

Verbo amar

.
Marco Adolfs


E eis que a dança lírica
Das pernas e das coxas,
Se mostra, livre, leve e doida;
Para melhor poder amar;
É quando então o falo enlouquecido,
Vermelho, santo e enobrecido;
Penetra fundo, sedento e teso;
Para melhor poder amar;
E nessa luta de fortes e submissos,
O gozo advém livre e despido;
De censuras impossíveis de se firmar...
...E tudo isso, amigos, é o verbo amar.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Amar é...

.
Denise Henriques Assis Trindade



transar muito

fazer de tudo

e gozar junto

Filosofia na alcova 2

.
Sim, o poder é um foder sem gozo.

(Px Silveira)

Filosofia na alcova 1

.
Pra curar amor platônico, só uma trepada homérica.

(Eduardo Kac)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Pornoemas

.
Paulo Leminski (1944-1989) e Alice Ruiz



nisso eu sou primário

amor pra mim

vem do caralho




nisso eu sou careta

amor pra vim

vem da buceta

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O julgamento de Frineia

.
Olavo Bilac (1865-1918)



Mnezarete, a divina, a pálida Frineia,
Comparece ante a austera e rígida assembleia
Do Areópago supremo. A Grécia inteira admira
Aquela formosura original, que inspira
E dá vida ao genial cinzel de Praxiteles,
De Hipérides à voz e à palheta de Apeles.

Quando os vinhos, na orgia, os convivas exaltam
E das roupas, enfim, livres os corpos saltam,
Nenhuma hetera sabe a primorosa taça,
Transbordante de Cós, erguer com maior graça,
Nem mostrar, a sorrir, com mais gentil meneio,
Mais formoso quadril, nem mais nevado seio.

Estremecem no altar, ao contemplá-la, os deuses,
Nua, entre aclamações, nos festivais de Elêusis…
Basta um rápido olhar provocante e lascivo:
Quem na fronte o sentiu curva a fronte, cativo…
Nada iguala o poder de suas mãos pequenas:
Basta um gesto, – e a seus pés roja-se humilde Atenas…

Vai ser julgada. Um véu, tornando inda mais bela
Sua oculta nudez, mal os encantos vela,
Mal a nudez oculta e sensual disfarça.
Cai-lhe, espáduas abaixo, a cabeleira esparsa…
Queda-se a multidão. Ergue-se Eutias. Fala,
E incita o tribunal severo a condená-la:

“Elêusis profanou! É falsa e dissoluta,
Leva ao lar a cizânia e as famílias enluta!
Dos deuses zomba! É ímpia! é má!” (E o pranto ardente
Corre nas faces dela, em fios, lentamente...)
“Por onde os passos move a corrupção se espraia,
E estende-se a discórdia! Heliastes! condenai-a!”

Vacila o tribunal, ouvindo a voz que o doma…
Mas, de pronto, entre a turba Hipérides assoma,
Defende-lhe a inocência, exclama, exora, pede,
Suplica, ordena, exige… O Areópago não cede.
“Pois condenai-a agora!” E à ré, que treme, a branca
Túnica despedaça, e o véu, que a encobre, arranca…

Pasmam subitamente os juízes deslumbrados.
– Leões pelo calmo olhar de um domador curvados:
Nua e branca, de pé, patente à luz do dia
Todo o corpo ideal, Frineia aparecia
Diante da multidão atônita e surpresa,
No triunfo imortal da Carne e da Beleza.

domingo, 24 de janeiro de 2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

Um clássico do improviso

Zé Limeira (1886-1954)


O velho Thomé de Souza,

Governador da Bahia,

Casou-se e no mesmo dia

Passou a pica na esposa.

Ele fez que nem raposa:

Comeu na frente e atrás,

Chegou na beira do cais,

Onde o navio trefega

Comeu o padre Nobrega,

Os tempos não voltam mais.


Reza a lenda que Zé Limeira, o Poeta do Absurdo, disputava um repente com Lourival Batista, o Louro do Pajeú, tendo por tema "os tempos não voltam mais", quando improvisou este clássico sacana.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Machismo n° 1

Antonio Carlos Lucena, o Touchê


Foder

como se fosse

uma ilusão de poder

De dois pra cima


Antonio Carlos Lucena, o Touchê


bater punheta

chupar buceta

comer cuzinho


tudo é válido

só não vale

ficar sozinho

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Nonsense

Marcileudo Barros


Tem casal enciumado

E faz sentido.

O neguinho é sarado

Neguinha só peito e priquito.

Um bumbum arredondado

Um rosto bonito.

Mas tem casal que, puta merda

Ciúme de cu pra cu

Só um comeria o outro

Famoso casal “only you”.

Desprovida

Marcileudo Barros


Tem mulher que mais parece

Uma carta em desmazelo

Um buraco e um corte

Arrodeado de pelo.

Os peitos é que lembram a carta

Pois mais parecem dois selos.

Desgaste

Marcileudo Barros



Se xiri gastasse dedo

Feito pedra de esmeril

Eu não teria mais que três

Por mais que tivesse mil.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Ecstasy

Simão Pessoa
.

A solidão me diz

que nem sempre faço

o que sempre quis


Como estou a mil

eu mando a solidão

pra puta que pariu

Banho ao ar livre

Simão Pessoa


Menina nua

toma banho de cacimba

e ri pra lua


No mato ao lado

o menino se masturba

fascinado

As dunas do barato

Simão Pessoa


Era lá pras dunas do píer de Ipanema

que os bichos-grilos todos enturmados

cheios de gíria papo mole e tal


detonavam herô em flor com cocaína

e ficavam por ali meio chapados

armando um jeito de comer a Gal

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Em 68 só fiz 69


Roberto Piva


Coleridge /canção do velho marinheiro / pena de pavão pavoneia o pálio / carnèfice / Netuno & sua tribo / boa festa verão / medusas & mercados abandonados / Guido Cavalcanti / lo piacer mi stringe tanto / na gandaia & na missa dos tarados / cachos de glória & ouro / gatos tranquilos / comunas dando o cu pela primeira vez / hortelã-pimenta / águias noturnas / mascates mascarados / Verhaeren no banho quente / última aparição de Demeter em Delfos / folhas amarelas no retrato / lebres / cabeleira de amianto das sereias / javalis no largo da Pólvora.

domingo, 17 de janeiro de 2010

O sono

Gustave Courbet (1819-1877).

Da Antologia do Poema Pornô

Leila Miccolis



Dos males, o menor


Se eu te chamo de putinha,
sou machista e indecorosa.
No entanto, se não chamo,
você não goza...


Ciclo Familiar
Ciências Físicas (e Contábeis)


O homem se divide
em:
cabeça, bolso e membro.
A cabeça serve para pensar em mulheres.
O bolso para pagá-las.
O membro para fodê-las.
Mais alguma pergunta?


Usos em desusos



Eu só posso ser de um homem
ou então de uma mulher.
Mais que isso a vó se queixa,
a mãe não deixa,
o pai não quer.


Soneto com quatro títulos optativos ou simultâneos

. Namoro à antiga
. Ode ao moralismo
. Bons tempos...
. Saudosa maloca


Namoro antigo: titia
na sala bordando um pano,
tomava conta, e inda havia
entre nós dois... um piano...

Pra se mostrar, a vigia
tocava um rondó cigano,
tão mal, que ela enrubescia
se rias de algum engano...

Por fim, como despedida,
a mais ousada bravata:
o beijo na minha tez.

E após a tua saída,
eu, titia, mais a gata,
surubávamos as três...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Corpo Horizontal

Marilda Pedroso



o homem horizontal
é indecifrável como o canto das flores
o homem horizontal
é o mijo e a titica da galinha
imperscrutável
                                objetivo
temporal no tempo
                   e com desejo do ar
o homem horizontal
não sabe do canto do ar
das altitudes platiplanas
da transparência dos cantos
que nem a refinaria mais sofisticada
destila
              esse licor
                              esse homem vertical

enquanto velozzzmente
                       zzzuuummm    zzzuuummm    zzz    uuu   mm
na barriga de um Jumbo da Air France
meu corpo horizontal viaja
apoiado num símbolo fêmeo de ar
meu corpo horizontal de ar e terra
que um dia
                  (e eu tenho certeza)
será comido pela terra
numa noite de verão vagabundo
onde os corpos horizontais das praias
se lambuzam de areia e sol
nessa noite
                  noite quente
                                      serei   vertical
                                      fogo       fátuo
e rapidamente
voltarei para o cristal da história
no mármore do jazigo


luta pequena operária pelo teu corpo
corpo                                      corpo
                  impossivelmente
                  não          corpo
mas como todos os corpos desse mundo
corpo horizontal
como um umbigo do mundo
onde as bocas ardem
na escassez da água da vida
vida prometida              vida     vida
como se fosse                céu    terra
onde meu planeta e eu
precisamente brasileira
precisamente da América Latina
como constelações
                               que não organizo
porque me escapam
pelos dedos da metodologia
ardem minhas narinas de mijo e titica
aqui
              aqui em São Paulo
precisamente ao sul                 minha terra
da poluição constante
                           onde o corpo horizontal
de alguns guerreiros
há muito estão depositados no fundo da terra
e eu os invejo                invejo            porque
love is blind
enxertado na história
o corpo horizontal trafega pela noite
em busca das mulheres atlânticas
que com seus corpos horizontais
alimentam o desespero e a solidão


somente no corpo horizontal
indecifrável na sua singularidade
a idade da flor            seu canto
              e toda a linguagem
procuram o vértice cósmico
como um brinquedo quebrado
que deve ser armado       rearmado
e devorado em sua extensão de profundidade


meu corpo horizontal
                                  é teu — companheiro
minha ansiedade também é tua
como todos os corpos horizontais são meus
na troca de água e fogo desse mundo
onde a boca explcnde o canto
e o horizonte em profundidade é vértice


corpo do meu irmão Egberto Gismonti
que em seu recinto de homem
só cabe a música                   e o resto
são cristais             e              sombras


corpo do meu amigo Bráulio Pedroso
de ossos excessivos e doentio
e uma boca plena de estórias
e a agonia da historicidade
em troca do amor humano


corpo do meu amado
corpo do futuro                 do amanhã
                      do imediato
te quero aqui                             agora
na produção desse poema enlouquecido
a meu lado sim                           e distante
me amando agora
como nenhuma mulher foi amada
porque tua barba é melaço
teus olhos duas banheiras de mel
tua mão direita                      a da cura
e a esquerda                        de homem
                  de homem horizontal
gozando hoje a história
e o meu amor de mulher


corpo de Geraldo Eduardo Ribeiro Carneiro
               Geraldinho — meu parceiro
               poeta da beleza das avenidas
               mas não dos quintais da fome
poeta ensaísta letrista diretor de shows
               para esconder a poesia
               de seu corpo em chamas


corpo de Eduardo Mascarenhas
de   discurso   horizontal   e   vertical
corpo de dança           boca de terra
     meu amigo imediato e distante
     onde meço o ganho e a perda
e a seu lado assisto meu enterro
quando os cadáveres precisam ser enterrados
e a minha boca tem medo


corpo gordo de minha mãe
de boca escassa
e de um refinamento
onde minha vida pôde explodir um dia


corpo seco de meu pai
corpo tímido — vertical
desvairado de amor
impossivelmente dito       confessado


corpo do primeiro namorado
corpo horizontal que ousou tocar-me
e que da minha buceta
fez escorrer um caldo morno
e ensinou meu corpo tremer
o inconsciente da minha espécie
e o meu desejo de mulher


corpo vertical de Giselda Leirner
corpo discursivo
metafisicisando o ar
num desmaio de fêmea
a mão precisa para o traço do desenho
e um apelo do corpo horizontal
buscando Paris Nova York Israel
e o mergulho no homem amado
minha amiga Giselda
minha amiga


corpos de todos os homens
     e de todas as mulheres
         de todo esse mundo
eu vos pertenço para sempre
eu vos pertenço para sempre
assim como cada detalhe da minha pátria
assim como cada detalhe
                              do meu próprio corpo
                              do meu corpo vertical
                              do meu corpo horizontal
e de todos os movimentos         ascendentes
                                                 e descendentes
em suas pulsações
                               ora em direção à vida
                               ora em direção à morte
em seus movimentos indispensáveis
gerando cosmos              enquanto a Via Láctea
                     explode todas as noites
                     sobre meu corpo de terra
                                                e de luz


em Maputo          num extremo da África
o corpo de Ruy Guerra trabalha por mim
e a despeito de mim                         mundo
mundo                                        simultâneo
                        e absurdo
                     eu estou aqui

Soneto CLXVIII

Antônio Lobo de Carvalho (1730-1787)


Este que vês aqui, formosa dama,
Entre moles testículos pendente,
Já foi em outro tempo raio ardente,
Hoje é pavio, que não solta chama:

Este que vês aqui, já foi o Gama
Dos mares onde navega tanta gente;
Hoje é carcaça velha, que somente
Dos estragos que fez conserva a fama:

Este que vês aqui, foi do trabalho
O maior sofredor (quem tal dissera?)
Hoje do amor é lânguido espantalho:

Este que vês aqui, na ardente esfera,
Já foi flor, já foi luz, já foi caralho;
Mas hoje não é já quem dantes era.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Cavalheiro só

Pablo Neruda (1904-1973)


Os jovens homossexuais e as mocinhas amorosas,
e as longas viúvas que sofrem de insônia delirante,
e as jovens senhoras há trinta horas emprenhadas,
e os gatos roufenhos que atravessam meu jardim em trevas,
como um colar de palpitantes ostras sexuais
rodeiam minha casa solitária,
inimigos jurados de minha alma,
conspiradores em traje de dormir,
que trocaram por senha grandes beijos espessos.

O verão radiante conduz os namorados
em uniformes regimentos melancólicos
de pares gordos magros e alegres tristes pares:
sob os coqueiros elegantes, junto ao mar e à lua,
há uma vida contínua de calças e galinhas,
um rumor de meias de seda acariciadas,
e seios femininos a brilhar como dois olhos.

O pequeno empregado, depois de tanta coisa,
depois do tédio semanal e das novelas lidas na cama toda noite,
seduziu sua vizinha inapelavelmente
e a leva agora a cinemas miseráveis
onde os heróis são potros ou são príncipes apaixonados,
e lhe acaricia as pernas, véu macio,
com suas mãos ardentes, úmidas que cheiram a cigarro.

As tardes do sedutor e as noites dos esposos
se unem, dois lençóis que me sepultam,
e as horas de após almoço em que os jovens estudantes
e as jovens estudantes, e os padres se masturbam,
e os animais fornicam sem rodeios
e as abelhas cheiram a sangue e zumbem coléricas as moscas,
e os primos brincam de estranho jeito com as primas,
e os médicos olham com fúria o marido da jovem paciente,
e as horas da manhã nas quais, como que por descuido, o professor
cumpre os seus deveres conjugais e desjejua,
e inda mais os adúlteros, que com amor verdadeiro se amam
sobre leitos altos, amplos como embarcações;
seguramente, eternamente me rodeia
este respiratório e enredado grande bosque
com grandes flores e com dentaduras
e raízes negras em forma de unhas e sapatos.


(Trad. José Paulo Paes)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Soneto de Devoção

Vinicius de Moraes (1913-1980)


Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela

Essa mulher é um mundo! – uma cadela
Talvez... – mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Frank Frazetta.

Ouverture

Paul Verlaine (1844-1896)


Quero me abstrair nessas coxas e bundas,
Putas maduras, jovens, noviças, professas,
Do único vero Deus, sacerdotisas veras:
Ah, não sair mais dessas fendas e riscas!

Que pés maravilhosos: vão para o amante,
Voltam só com o amante, descansam apenas
Durante o amor, no leito, depois de gentis mimam
Os pés do amante, que exausto, lasso, se encolhe.

Premidos, aflorados, beijados, lambidos
Das plantas aos dedos, chupados um a um,
Aos tornozelos, aos lagos de veias lentas,
Pés mais belos que os pés de apóstolos e heróis.

Me encanta vossa boca e seus jogos graciosos,
Os da língua, os dos lábios e ainda os dos dentes,
Que mordem nossa língua e às vezes mesmo mais:
Coisas quase tão boas quanto pôr lá dentro;

E vossos seios, montes de orgulho e luxúria,
Entre os quais se iça às vezes meu viril orgulho
Para poder a contento crescer e roçar-se
Tal como um javali entre o Parnaso e o Pindo.

E os braços, que adoro também, belos e brancos,
Macios e firmes, gorduchos, nervosos, belos
E brancos como as bundas, quase tão tesudos;
Quentes no amor, depois, porém, frescos jazigos.

E as mãos que pendem desses braços, ah engoli-las!
Ungidas com o dom do afago e da preguiça,
Extratoras da glande transida que escapa,
Punheteiras de solicitudes infindas.

Mas ora, o que é isso tudo, Putas, perto dos
Vossos cus e bucetas, cujos visão, gosto,
Odor e tato transformam fiéis em eleitos,
Tabernáculos, relicários do impudor.

Por isso, minhas irmãs, nessas coxas e bundas
Quero abstrair-me todo, únicas companheiras,
Belas maduras, jovens, noviças, professas,
E nunca mais sair dessas fendas e riscas.


(Trad. Heloisa Jahn)

domingo, 10 de janeiro de 2010

Soneto 509 Assumido

Glauco Mattoso


Mattoso, que nasceu deficiente,
ainda foi currado em plena infância:
lambeu com nojo o pé; chupou com ânsia
o pau; mijo engoliu, salgado e quente.

Escravo dos moleques, se ressente
do trauma e se tornou da intolerância
um nu e cru cantor, mesmo à distância,
enquanto a luz se apaga em sua lente.

Tortura, humilhação e o que se excreta
são temas que abordou, na mais castiça
e chula das linguagens, o antiesteta.

Merece o que o vaidoso não cobiça:
um título que, além de ser “poeta”,
será “da crueldade” por justiça.

Soneto 951 Natal

Glauco Mattoso



Nasci glaucomatoso, não poeta.
Poeta me tornei pela revolta
que contra o mundo a língua suja solta
e a vida como báratro interpreta.

Bastardo como bardo, minha meta
jamais foi ao guru servir de escolta
nem crer que do Messias venha a volta,
mas sim invectivar tudo o que veta.

Compenso o que no abuso se me impôs
(pedal humilhação) com meu fetiche,
lambendo, por debaixo, os pés do algoz.

Mas não compenso, nem que o gozo esguiche,
masoca, esta cegueira, e meus pornôs
poemas de Bocage são pastiche.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Primeiro poema homossexual


Luiz Petry (aliás, Patrick Jack)


Ele dança com os garotões nas boates de néon pela
madrugada
E está excitado numa calça justa de cetim negro
Ele me olha porque já sacou que sou um poeta perdido
Um poeta com os olhos fixos em alguém que não vem,
um pássaro negro!
Mas eu não caio nessa, garotão, não o bom e velho
Patrick Jack
Pois já tenho problemas o bastante com as mulheres
Fica pra outra, meu anjo
Pra outra encarnação.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Metaleira mon amour

Claufe Rodrigues (aliás, Baby the Bylly)



“Toda mulher gosta de apanhar.”
Ela sussurrou às seis da manhã,
arranhando o meu ouvido.
Beija-a com força e quase arranquei-lhe a língua.
Mas ela queria mais, queria apanhar.
Dei-lhe uma palmada na bunda.
Mas ela queria mais, a vagabunda.
Bati com a cara dela na porta
e então agarrei-a por trás.
Só batia nos flancos,
e me imaginei cavalgando aquela vaca
pelos verdes campos do Olimpo.
Lá talvez tudo fosse mais limpo,
com aquelas ninfas gentis e graciosas
abençoando o pau de Deus.
Mas aqui embaixo ela mordia a cabeça do meu,
quase arrancando o pedaço.
Dei-lhe um pescotapa e ela foi com a cara no chão.
Jorrava sangue da testa,
parecia a besta do Apocalipse
balbuciando coisas demoníacas.
Fiquei horrorizado e chutei a cara da ninfa.
Falei que aquela não era a minha chinfra
e que ela tinha que dar o fora.
Ela se pendurou no meu saco e perguntou aflita:
– Quando, meu anjo, quando?
E eu respondi, quase gozando:
– Agora, maldita, agora!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Poema da buceta cabeluda

Bráulio Tavares


A buceta da minha amada
tem pelos barrocos,
lúdicos, profanos.
É faminta
como o polígono-das-secas
e cheia de ritmos
como o recôncavo-baiano.

A buceta da minha amada
é cabeluda
como um tapete persa.
É um buraco-negro
bem no meio do púbis
do Universo.

A buceta da minha amada
é cabeluda,
misteriosa, sonâmbula.
É bela como uma letra grega:
é o alfa-e-ômega dos meus segredos,
é um delta ardente sob os meus dedos
e na minha língua
é lambda.

A buceta da minha amada
é um tesouro
é o Tosão de Ouro
é um tesão.
É cabeluda, e cabe, linda,
em minha mão.

A buceta da minha amada
me aperta dentro, de um tal jeito
que quase me morde;
e só não é mais cabeluda
do que as coisas que ela geme
quando a gente fode.
Tamara de Lempicka (1898-1980).

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A indecência pode ser saudável


D. H. Lawrence (1885-1930)


A indecência pode ser normal, saudável;
na verdade, um pouco de indecência é necessário em toda vida
para a manter normal, saudável.

E um pouco de putaria pode ser normal, saudável.
Na verdade, um pouco de putaria é necessário em toda vida
para a manter normal, saudável.

Mesmo a sodomia pode ser normal, saudável,
desde que haja troca de sentimento verdadeiro.

Mas se alguma delas for para o cérebro, aí se torna perniciosa:
a indecência no cérebro se torna obscena, viciosa,
a putaria no cérebro se torna sifilítica
e a sodomia no cérebro se torna uma missão,
tudo, vício, missão, insanamente mórbido.

Do mesmo modo, a castidade na hora própria é normal e bonita.
Mas a castidade no cérebro é vício, perversão.
E a rígida supressão de toda e qualquer indecência, putaria e relações assim
leva direto a furiosa insanidade.
E a quinta geração de puritanos, se não for obscenamente depravada,
é idiota. Por isso, você tem que escolher.


(Trad. José Paulo Paes)

domingo, 3 de janeiro de 2010

De Catulo a Simão Pessoa – dois mil anos de poesia e escracho 5/5


Zemaria Pinto

Capa da plaqueta, publicada em 1993.

Simão Pessoa – Num dia qualquer de não sei quando – não botou data na dedicatória –, procurei o stand da Livraria Cabocla. Feira do Li­vro, Praça São Sebastião: "você compra o livro aqui, o autógrafo é ali no Armando", me diz o Ruy. Era o Brinca Comeu Brinco, reunião de cinco livros anteriores, obra completa antes dos 30 anos. O pou­co que conhecia dos jornais escancarava-se naquele livrinho raro: o lirismo perverso, do tipo que antagoniza o leitor, avisava logo no primeiro poema de Old Fashioned:

               sei que escrevo pra mim mesmo

E não havia sequer vestígios do remorso elementar com que é tratada a cultura aldeã. Dessacralizar a pasmaceira geral era a pa­lavra de ordem daquele exército individual:

               caldeirada de bodó
               moqueca de jaraqui
               filé de tucunaré
               costela de tambaqui
               suco de jenipapo
               batida de buriti
               creme de graviola
               sorvete de açaí
               e no final do embate
               a diarreia à la carte

Nem o guaraná velho de guerra era poupado:

               no mercado central
               turista quer guaraná
               coitado pensa que é fácil
               fazer pica levantar

Em Ócio dos Ofídios predomina um lirismo comprometido com um 1978 que parecia não ter fim. À maneira de Bacellar, poemas dedicados às frutas amazônicas, terenas, andirás e o belo "Distrito
Industrial". Ecológico antes da moda, jamais chato. Os poemas de Ca­rajo retomam a lírica escrachada, em sintonia com a manhã anunciada:

               estava tão excitado
               que nem tirou a chuteira
               mordeu os seios com força
               quase arrancou os mamilos
               meteu o dedo na xana
               arrebentou o clitóris
               ainda se não bastasse
               a ejaculação foi precoce
               agora quer o divórcio
               a mulher do torturador

Há registros de uma insuspeita alegria, denunciada pelas refe­rências infantis que pedem uma algazarra ao fundo:

               Ivo ganhou uma ave
               a ave de Ivo voa
               baleei a ave do Ivo
               Ivo ficou puto
               Ivo me dedou pro velho
               Ivo é um viado

Ou:

               O cravo transou a rosa
               debaixo de uma sacada
               o cravo saiu sorrindo
               a rosa descabaçada

Essa alegria não disfarçada tem seu contraponto natural na pla­cidez onírica de um poema que tem tudo para passar desapercebido em sua singeleza, se não despertasse o leitor com o vigor das palavras escolhidas:

               era dia de S. Cosme
               com crianças e cirandas
               vestias uma camisola
               recendendo a lavanda
               foi sonho ou foi delírio
               a trepada na varanda?

Em Miss Heartbreak a persona lírica é feminina e o poema desenvolve-se de maneira uniforme e sequenciada: da primeira denti­ção ao primeiro aborto, passando pelas experiências sensoriais mais elementares – a masturbação ao som de Eric Clapton, o primeiro porre, as paixões adolescentes, overdose, ácido, sodomia, cursinho, feminismo – até o fim:

               e partiu assim de repente
               deixando um vago na gente

O poema "Loba das Estepes" sintetiza o pensamento de Miss Heartbreak:

               os homens me temem pelo que represento
               subvertendo o jogo secular do jugo
               (...)
               para que da triste memória
               do passado tão recente
               se dê à luz uma nova mística feminina
               e que eles de repente
               percebam
               que trinta paus não valem uma vagina

Fecha o volume o maiúsculo Trastes & Contraste, ultrassonografia poética desta cidade maluca:

               são tantas cidades em uma só
               que só conheço a menor
               que só conheço a pior

Ah, querida leitora, prezado leitor. Se tiveste paciência para até aqui acompanhar-me, dir-te-ei o que me moveu a escrever estas parcas laudas: vinte palavras, leitora, vinte palavrinhas, leitor, que me calaram fundo na magrugada em que as li:

Esperamos que Simão Pessoa, porém, evolua sua linguagem poética, para que seu casamento com o sarcasmo não acabe em divórcio.

Cláudio Feldman, ao comentar os Hard Kais no novo livro de Si­mão, Matou Bashô E Foi Ao Cinema, foi o responsável pela minha insô­nia. Ó Simão, além do Bashô, manda o Brinca também pro Cláudio. Eu empresto o meu exemplar. Pra copiar.

A referência cinematográfica do título não é gratuita: underground e escrachado, Simão mata o pai Bashô e, se não reinventa, re­dimensiona o haicai e o poema-escracho, escrachando aquele e sobre­carregando de finíssimo lirismo este, como no metalinguístico "Súbito Aguaceiro":

               Libertam-se libélulas
               crisálidas de cristal
               sob sol insólito


               e eu meio bundão
               cansado de fazer
               tanta aliteração

Observe-se que há dois poemas, imbricados, o segundo comentando o primeiro, subvertendo o rigor métrico ortodoxo, porém conservando uma musicalidade expressiva, como neste "Flores de Cerejeira", onde o caráter oriental da forma é atropelado pela realidade telúrica que cerca a criação poética:

               Olho para as flores
               Olho e as flores caem
               Olho e as flores riem


               Brincadeira:
               nessa porra de cidade
               nem existe cerejeira!

Filiado à milenar tradição do escracho, Bashô traz como apêndice Karalhokê, 40 haicais de fazer corar os catecismos do velho Zéfiro: das manjadissimas Papai e Mamãe e Barba, Cabelo e Bigode até as pós-modernas Nintendo e Realidade Virtual, Simão inventaria as posi­ções do jogo amoroso, com um humor corrosivo, próximo à dor. Um hu­mor que não poupa nem ao poeta nem ao leitor: lírica escrachada. Um conceito que supera, porque contempla, as definições de poesia satí­rica, poesia burlesca, poesia erótica e cognatos, reunindo sob seu manto uma poesia com todas as qualidades técnicas intrínsecas, mas com um motivo patente, desmascarado, que não deixa margem a segundas leituras: escracho. Uma redução do caráter múltiplo da poesia a uma condição linear, prosaica? Absolutamente. A permanência e a univer­salidade do poema-escracho residem exatamente na coragem do poeta de lançar mão, com arte superior, do momentâneo ou do ridículo para eternizar-se.

Este teu cu, ó minha doce amada

[atribuído a Farias de Carvalho (1930-1997)]

Este teu cu, ó minha doce amada,
voltado assim pras bandas do nascente,
pareceu aos meus olhos de repente
um pedaço de lua ensanguentada.

E é por vê-lo assim indiferente
às preces desta pica apaixonada
que eu me quedo a adorá-lo diariamente
nesta minha capela de calçada.

Porém, um dia, amor, se tu quisesses
e o teu róseo botão enfim me desses,
cheia de amor e de paixão profunda,

o mundo inteiro iria ver, tremendo,
o quarto Sputinik arremetendo
na abóbada do céu da tua bunda.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

De Catulo a Simão Pessoa – dois mil anos de poesia e escracho 4/5


Zemaria Pinto


Bocage –  Mas não se pode falar em lírica escrachada sem citar o português – contrariando todos os prognósticos – Bocage (1765-1805), o inesquecível herói de todas as histórias de sacanagem do pessoal com mais de 30. Condenado pela Inquisição por “pregar ideias liberais em papéis sediciosos”, Bocage morreu humilhado e miserável em plena atividade criadora. Sonetista exímio, carnavalizou a pétrea forma em escracho derramado:

               Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
               Puta tem sido muita gente boa;
               Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
               Milhões de vezes putas têm reinado:


               Dido foi puta, e puta dum soldado;
               Cleópatra por puta alcança a coroa;
               Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
               O teu cono não passa por honrado:


               Essa da Rússia imperatriz famosa,
               Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
               Entre mil porras expirou vaidosa:


               Todas no mundo dão a sua greta:
               Não fiques pois, oh Nise, duvidosa
               Que isto de virgo e honra é tudo peta.

Bocage, como bom escrachado, mesmo na morte ri de si mesmo. Ao famoso

               Já Bocage não sou!... À cova escura
               Meu estro vai parar desfeito em vento...
               Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
               Leve me torne sempre a terra dura.

figurinha carimbada em qualquer antologia escolar, ele contrapõe, com uma piscadela ao cúmplice leitor:

               Lá quando em mim perder a humanidade
               Mais um daqueles, que não fazem falta,
               Verbi gratia – o teólogo, o peralta,
               Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:


               Não quero funeral comunidade,
               Que engrole sub venites em voz alta;
               Pingados gatarrões, gente de malta,
               Eu também vos dispenso a caridade:


               Mas quando ferrugenta enxada idosa
               Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
               Lavre-me este epitáfio mão piedosa:


               “Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
               Passou vida folgada e milagrosa;
               Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro.”

De Catulo a Simão Pessoa – dois mil anos de poesia e escracho 3/5



Zemaria Pinto



Gregório de Matos – Segunda metade do século XVII, Bahia. Gregório de Ma­tos, o Boca do Inferno, é a gargalhada barroca aprisionada durante séculos em sonetinhos de piedade e arrependimento, só recentemente libertada. Gregório escarnece de políticos, do clero, do povo e de si mesmo, dessacralizando modelitos seculares, e criando em língua portuguesa as bases mais sólidas das vanguardas do século XX. A pro­pósito, o cardeal Augusto de Campos apaixona-se:

Há muito mais novidade, mais juventude em Gregório do que em muito blá blá blá de vanguarda que anda por aí. Gregório já rompe os limites entre a poesia de produção e a de consumo: faz poemas requintadíssimos e faz canção popular, vai do grosso ao fino, do bronco ao barroco, com a maior liberdade.

Vejamos alguns fragmentos, como exemplo, das “Queixas Da Sua Mesma Verdade”, onde o poeta define os “maos modos de obrar na governan­ça da Bahia”:

              1 Que falta nesta cidade?..................................................... Verdade
                 Que mais por sua desonra................................................. Honra
                 Falta mais que se lhe ponha............................................... Vergonha


                             O demo a viver se exponha,
                             por mais que a fama a exalta,
                             numa cidade,onde falta
                             Verdade, Honra,Vergonha.


              3 Quais são os seus doces objetos?..................................... Pretos
                 Tem outros bens mais maciços?........................................ Mestiços
                 Quais destes lhe são mais gratos?...................................... Mulatos
                            
                             Dou ao demo os insensatos,
                             dou ao demo a gente asnal,
                             que estima por cabedal
                             Pretos, Mestiços, Mulatos.


              5 E que justiça a resguarda?................................................. Bastarda
                 É grátis distribuída?........................................................... Vendida
                 Que tem,que a todos assusta?.............................................Injusta

                             Valha-nos Deus, o que custa,
                             o que El-Rei nos dá de graça,
                             que anda a justiça na praça
                             Bastarda, Vendida, Injusta.


              7 E nos Frades há manqueiras?............................................ Freiras
                 Em que ocupam os serões?............................................... Sermões
                 Não se ocupam em disputas?.............................................Putas

                             Com palavras dissolutas
                             me concluís na verdade,
                             que as lides todas de um Frade
                             são Freiras, Sermões e Putas.

              9 A Câmara não acode?....................................................... Não pode
                 Pois não tem todo o poder?............................................... Não quer
                 É que o governo a convence?............................................. Não vence


                             Quem haverá que tal pense,
                             que uma Câmara tão nobre
                             por ver-se mísera, e pobre
                             não pode, não quer, não vence.

Quanta atualidade nestes trezentos anos de Gregório!

De Catulo a Simão Pessoa – dois mil anos de poesia e escracho 2/5


Zemaria Pinto


Marcial – Na língua de Catulo, outros poetas mantiveram acesa a chama do lirismo que vê além das pequenas grandes dores individuais, rindo-se de si mesmos ou tematizando o amor e o erotismo muito além do permitido pela moral vigente: o elegíaco Propércio, o decadente e censurado Ovídio e o epigramático Marcial sobreviveram a dois mil anos de guerras, revoluções, flagelos e boleros. Marcial, tendo vivido no primeiro século da era cristã, é o grande cronista daquela época, com seu estilo conciso e alegre:

                       Afra tem amas e amos – mas é ela
                       a maior mama entre amos e mucamas.                                                                           (8)

                       Corre o rumor,Chione: nunca foste fodida,
                       e nada mais puro existe que tua cona.
                       Nessa parte (por vestes velada) nem te lavas.
                       Se é pudor, desnuda a cona e vela a face.                                                                       (9)

                       A Faixa Peitoral

                       Comprime, de minha amante, os dois seios em botão
                       para que caibam sempre no oco de minha mão.                                                            (10)

Mas se o título deste artigo fala em dois mil anos de poesia, e até agora mal chegamos a cem, demos um salto no tempo e no espaço, e observemos a lírica escrachada da última flor do Lácio. O que quer, o que pode esta língua?


Traduções:
(8), (9): Luiz António de Figueiredo e Ênio Aloísio Fonda
(10): José Paulo Paes

A oferenda

Mário Quintana (1906-1994)


Eu queria trazer-te uns versos muito lindos...
Trago-te estas mãos vazias
Que vão tomando a forma do teu seio.

Voyeurs desde o Natal de 2009