Amigos da Alcova

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Lábios que beijei 36


Zemaria Pinto

Doroteia


Evangélica, a tímida Doroteia foi se achegando aos poucos, descobrindo – ou fazendo com que eu descobrisse – interesses comuns, como livros e discos, que trocávamos por empréstimo. Ficamos amigos, dentro do ambiente de trabalho, mantendo a distância necessária entre superior e subordinada. Em um serão, o que não era incomum, ficamos apenas os dois, finalizando um relatório a ser enviado à matriz, quando Doroteia começou um longo discurso, que, pelo tom, eu já adivinhava como acabaria. Enquanto ela desfiava suas dúvidas existenciais – a missionária, virgem, apaixonada pelo homem mais velho, casado, seu superior hierárquico –, comecei a tocá-la, a despi-la, e ela, toda úmida, não oferecia resistência. Nua, coloquei-a contra a mesa e penetrei-a com força, por trás. O gemido pungente aguçou a minha violência, até o esporro. O corpo moreno, carnudo, que a roupa recatada escondia era belo. Doroteia não ficou muito tempo no banco, mas durante dois anos nos encontramos regularmente. A doce Doroteia gostava de palmadas e mordidas na bunda e nas coxas. Enquanto eu a enrabava, ela pedia, sôfrega: – bate, meu amor, bate com força!... Bate, porra! Exigia que eu deixasse as marcas dos meus dentes nela e que nosso próximo encontro acontecesse antes que as marcas anteriores apagassem. A voz rouca de Doroteia ainda ecoa, entre a dor e a volúpia, na noite dentro de mim.
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domingo, 30 de novembro de 2014

Eu te saúdo, fenda de portentos


Pierre de Ronsard (1524-1585)


Eu te saúdo, fenda de portentos
A luzir entre dois flancos macios;
Saúdo-te, buraco de amavios,
Que dás ao meu viver contentamento.

Enfim me libertaste dos tormentos
Do alado arqueiro e dos meus desvarios;
Só quatro noites eu te possuí e o
Poder do arqueiro fez-se em mim mais lento.

Pequeno furo, furo arteiro, furo
Tão bem guardado em matagal obscuro,
Que ao mais rebelde domas com presteza:

Todo vero galã, para te honrar,
Devia de joelhos te adorar,
Firme empunhando a sua vela acesa!

(Trad. José Paulo Paes)


terça-feira, 4 de novembro de 2014

Epigrama de amor


Nei Leandro de Castro



Minha amada tem os seios rijos.
O tempo ou mesmo Newton com suas leis
não conseguem derrubar
a rija beleza dos seios dela.
Eles são brancos, muito brancos
e tem pequenos bicos cor de rosa
que se eriçam sob os meus dedos
e a minha boca.
Eles são fortes.
Fortes como a convicção de minha amada
de que eu não devo jamais
penetrá-la por trás.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Lábios que beijei 31



Zemaria Pinto
Verônica

Vivendo com um sujeito desquitado, Verônica sofria com o preconceito de parte das demais colegas – casadas, noivas, namoradas. Isso, de certa forma, deixava-a à vontade para trair o companheiro. Mas ela dizia que quando viesse o divórcio e eles se casassem formalmente ela não o trairia mais. Enquanto isso, eu aproveitava a sua disponibilidade... Verônica possuía habilidades extraordinárias com a boca. Lábios, dentes, bochechas, língua – eram partes de um mecanismo projetado para chupar com perfeição. Sempre transávamos na minha sala, pelo menos uma vez por semana, durante cínicos serões. Não éramos muito imaginativos: depois de fazê-la gozar duas ou três vezes – de pé, ela, de costas, com as mãos apoiadas na mesa – começava o melhor da festa. Eu sentava em minha cadeira de executivo, ela lambia o meu pênis, lambuzado do seu sumo, mordiscava-o todo, incluindo os testículos, depois, movimentava sua boca com sofreguidão, tirando-o todo e escondendo-o todo, vezes sem fim. Quando ela sentia o jato do gozo, o movimento se tornava menos intenso e ela me sugava brutalmente, até a última gota. Quando parávamos, ela me mostrava a boca cheia de esperma, o engolia com volúpia e depois enfiava a língua em minha boca – um gosto travoso, de folha verde. Um dia, Verônica me contou, radiante, que iria com o companheiro passar as férias em Portugal, de onde a família dele era originária. Comemoravam 10 anos de convívio. Mas o presente não era a viagem: em Portugal, onde o divórcio era lei havia mais de 50 anos, eles casariam. Trabalhamos juntos ainda por muitos anos e fizemos muitos serões. Porém, nunca mais os lábios, nunca mais os dentes, nunca mais a língua, nunca mais a força sugadora de Verônica.

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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Sultana



Junqueira Freire (1832-1855)


Sultana! – por que teus olhos
pululam choro tão triste?
No voo de ave sinistra
algum mau agouro viste?
Ou dos lábios do teu mago
más profecias ouviste?

Que tens que choras, sultana,
co'as mãos no queixo – tão bela
Tanto palor nestas faces,
que foram cor de canela?
Desalinhada a madeixa,
sentada junto à janela?

Sultana! – por que dedilhas
os bilros nesse tear?
Os dedos correm e correm
à toa, sem acertar!
Os dedos erram os pontos
bem fora de seu lugar!

Sultana! – que dor tamanha
que te esmaga o coração?
Que te pode armar nas faces
tão estranha contração?
Que pode arrojar-te a mente
em tão vaga distração?

– Meu senhor hoje chamou-me:
quando mais me chamará?
Meu senhor hoje falou-me:
quando mais me falará?
Meu senhor hoje abraçou-me:
quando mais me abraçará?

Naquele colchão macio
eu junto dele dormi;
eu vi o céu do profeta,
o céu verdadeiro eu vi:
oh! que bela a noite de ontem!
- Não terei mais noite assi!

Beijou-me co'a sua boca
macia como cetim:
abraçou-me com seus braços
mais lindos do que o marfim:
reclinou minha cabeça
em cima de seu coxim.

Eu ficava toda fria,
se ele se achegava a mim:
minhas faces palejavam,
como cândido jasmim:
– e depois... ficava ardente,
vermelha – como um rubim.

Eu lhe ouvi a voz sonora,
como a voz de um querubim:
que doce roçar de beijos
macios como o cetim!
Que dedos tão delicados,
que se imprimiram em mim!

Julguei eterna a ventura,
– fui louca – pobre de mim!
Não luzem mais de uma noite
as lâmpadas do festim!
– Revelai-me, ó grão-profeta,
se terei mais noite assim!


Meu senhor tem mil mulheres
tão doces como o maná;
amante de coisas novas,
as novas chamando irá:
meu senhor – de mim, coitada,
de mim não se lembrará!

domingo, 7 de setembro de 2014

A bunda, que engraçada



Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)


A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito o que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda,

redunda.

domingo, 24 de agosto de 2014

Manifesto Obsoneto (Soneto 8)


Glauco Mattoso

Isso não é poesia que se escreva,
é pornografia tipo Adão & Eva:
essa nunca passa, por mais que se atreva,
do que o Adão dá e do que a Eva leva.

Quero a poesia muito mais lasciva,
com chulé na língua, suor na saliva,
porra no pigarro, mijo na gengiva,
pinto em ponto morto, xota em carne viva!

Ranho, chico, cera, era o que faltava!
Sebo é na lambida, rabo não se lava!
Viva a sunga suja, fora a meia nova!

Pelo pêlo na boca, jiló com uva!
Merda na piroca cai como uma luva!

Cago de pau duro! Nojo? Uma ova!

domingo, 3 de agosto de 2014

Era manhã, vieram dois


Marcial (40 – 104)




Era manhã, vieram dois, queriam

Curtir a Fílis, nua, na trepada.

Mas, logo, a discussão: “Primeiro, eu!”.

“Eu atendo os dois lados”, disse a Fílis.

Falou e fez: quatro dedões dos pés

Voltados para baixo e dois para cima.




(Trad. Décio Pignatari)



segunda-feira, 21 de julho de 2014

Lábios que beijei 25


Zemaria Pinto
Elza


Prima distante de minha primeira mulher, Elza estava de passagem pela cidade. No jantar, regado a vinho, seus pés procuraram os meus por baixo da mesa. Eram pequeninos, como ela toda era pequenina, mas túmida onde tinha de ser: peitos, coxas, bunda. Pela madrugada, todos dormindo um tanto bêbados, aproximei-me do sofá onde improvisamos uma cama e deslizei a mão por seu corpo. Elza só reagiu quando, próximo à boceta, intimidei-me; ela puxou minha mão para si e meus dedos sentiram a quentura e a umidade de sua concha. No banheiro, trepamos em silêncio mas com um vigor como há muito não me acontecia. No dia seguinte fomos a um hotel, onde a sessão selvageria prosseguiu. Elza quase não falava, balbuciando baixinho frases desconexas, até que entendi um “lambe o meu cu, meu amor, lambe o meu cu”. Era uma experiência nova. Nunca me passara fazer aquela carícia. Coloquei-a de bruços e satisfiz-lhe a vontade. Ela uivava de prazer, enquanto a minha língua sôfrega ia e vinha pelo cuzinho, liso de pelos como as pedras no fundo de um igarapé. No dia seguinte, quando cheguei para o almoço, soube de sua partida. Nunca mais a encontrei, mas sua lembrança, ou melhor, a lembrança daquele rabo de sonho, ainda hoje alegra minha solidão.


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domingo, 6 de julho de 2014

Educação sentimental


Maria Teresa Horta




Põe devagar os dedos
devagar....
e sobe devagar
até ao cimo
o suco lento que sentes
escorregar
é o suor das grutas
o seu vinho

Contorna o poço
aí tens de parar
descer, talvez
tomar outro caminho....
Mas põe os dedos
e sobe devagar...
Não tenhas medo
daquilo que te ensino

domingo, 8 de junho de 2014

Noite


Maria Teresa Horta


De noite só quero vestido
e tecido dos teus dedos
e sobre os ombros a franja
do final dos cabelos

Sobre os seios quero a marca
do sinal dos teus dentes
e a vergasta dos teus lábios
a doer-me sobre o ventre

Nas pernas e no pescoço
quero a pressão mais ardente
e da saliva o chicote
da tua língua dormente

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Não há por que falar de feitiços


Juvenal (60-140)


Não há por que falar de feitiços, elixires,
Ou de poções letais da madrasta aos afilhados:
É o sexo que leva ao mulher ao crime, a luxúria.
Por que o marido de Cesênia a tem por santa?
Ela lhe deu um milhão: é o preço da pureza.
As marcas, as olheiras fundas, o fogo aceso
Pouco têm a ver com amor, muito com dote.
A tal preço, ela é livre, pode marcar encontros
Ou receber recados do amante, na presença
Do marido: quem é rica e casa com pão-duro
Pode reclamar os seus direitos de viúva...


(Trad. Décio Pignatari)

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Nem mesmo uma mulher ousa falar


Marcial (40-104)


Nem mesmo uma mulher ousa falar
Do seu rosto, e seu corpo é sem defeito.
Como se explica, então, que nenhum homem
Queira foder você mais de uma vez?
Aí há coisa, e muito grave, Gala.
Quando me achego e brota o prazer mútuo
Dos púbis e dos órgãos se esfregando,
Sua boca cala e sua boceta fala!
Prouvesse aos deuses o contrário: estou
Farto da falação da sua xoxota.
Prefiro peidos: são saudáveis, Símaco
Afirma, e dão motivo a boas risadas.
Cona que estala a língua me chateia:
Se a flauta é deprimente, a cobra abaixa.
Feche a xoxota, pois, e abra a boca;
Mas se for mesmo muda, ensine
Essa crica a falar alguma língua.


(Trad. Décio Pignatari)

terça-feira, 15 de abril de 2014

Versos a Lou


Apollinaire (1880-1918)
 

 

Meu muito querido lobinho eu amo você

Minha querida estrela palpitante eu amo você

Corpo deliciosamente elástico eu amo você

Vulva que aperta como um quebra-nozes eu amo você

Seio esquerdo tão rosa e insolente amo você

Seio direito tão rosa-tenro amo você

Mamilo direito cor de champanhe não champanizado amo você

Mamilo esquerdo igual à bossa da testa de um garrote que acaba de nascer amo você

Ninfas hipertrofiadas pelos seus toques frequentes amo vocês

Nádegas sutilmente ágeis que se arrebitam para trás amo vocês

Umbigo igual à lua côncava sombria amo você

Toutiço claro como uma floresta no inverno amo você

Axilas peludinhas como um cisne filhote amo vocês

Queda de ombros adoravelmente pura amo você

Coxa de linhagem tão estética como uma coluna de tipo antigo amo você

Orelhas ornadas como bijuteria mexicana amo vocês

Cabeleira ensopada no sangue dos amores amo você

Pés sábios pés que se enrijecem amo vocês

Rins que cavalgam rins possantes amo vocês

Talhe que jamais conheceu espartilho talhe macio amo você

Dorso maravilhoso tão benfeito que se encurva para mim amo você

Boca delícia minha néctar meu amo você

Olhar único olhar-estrela amo você

Mãos adoro os seus movimentos amo vocês

Nariz singularmente aristocrático amo você

Caminhar ondulante e dançante amo você

Ó meu lobinho amo amo amo você

 

(Trad. Décio Pignatari)

segunda-feira, 31 de março de 2014

Lábios que beijei 16




Zemaria Pinto
Amarílis


Óculos fundo de garrafa, cabelos curtos em desalinho, ombros largos, Amarílis estava longe de ser considerada bonita, mas exercia sobre mim um fascínio que ainda hoje me acende a libido: os lábios largos, associados às coxas fartas que os shorts costumeiros não procuravam esconder, e uma bunda que eu adivinhava sob a roupa a mais gostosa das meninas da rua. Moleques, vivíamos aos abraços, o que me provocava ereção e a urgência do alívio. Uma vez, eu tentava sair de fininho, ela provocou: – Eu sei o que você vai fazer... Vem aqui... Estávamos a sós na casa dela. Amarílis baixou meu calção, meu suporte, e com uma delicadeza insuportável masturbou-me. Com o tempo, aprendi a alongar aqueles momentos de prazer, coroados nos largos lábios de Amarílis, a bela.
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segunda-feira, 17 de março de 2014

The waste language




Bráulio Tavares



cu

pau

xota

culhão

 

neocolonialismo

nacional-socialismo

maxidesvalorização

 

qual a régua

qual a regra

pra se medir palavrão?

segunda-feira, 3 de março de 2014

Filene, o sapatão



Marcial (40-104)
 
 
 
Filene, o sapatão, agarra até

Os garotos por trás, e, mais tesuda

Que um macho fogoso, traça meninas

Pela dúzia, num só dia: arregaça a saia,

Joga pelota, passa pelo corpo

O polvilho amarelo dos atletas;

Com braço musculoso e ágil, lança

Longe o peso de chumbo, desafio

A barbados, e sai, suja de lama,

Do campo, para as mãos do massagista

Oleoso, que a lanha às vergastadas;

Não ceia reclinada sem primeiro

Vomitar sete garrafas de vinho,

E mais sete — depois de deglutir

Dezesseis bolos de carne. No fim,

Acometida de tesão, não chupa

Pau (“Não é coisa de homem”): devora

As chanas das meninas. Mas que os deuses,

Filene, deem um jeito em sua cuca:

Não creia ser viril chupar boceta.
 
 
(Trad. Décio Pignatari)

 

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Moreno



Bruna Lombardi

 

respira na minha nuca
e me abre o fechecler
passa a mão nas minhas costas
e diz que quer me comer
diz que eu vou ficar maluca
de tanto sentir prazer
me puxa, me arranca a saia
que é pra poder me ver

depois ele se encolhe nos meus braços
cabeça no meu peito, seu regaço
transpira de carência e de cansaço
sonha um sonho qualquer
e eu fico ninando esse menino
transformo ele depressa em meu destino
em meu único filho pequenino
como faz toda mulher.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Soneto 309 Buceteiro


Glauco Mattoso

 

Pequenos, grandes lábios, um clitóris.
Pentelhos. Secreção. Quentura mole,
que envolve meu caralho e que o engole.
Não saio até gozar, nem que me implores.

Diana. Dinorá. Das Dores. Dóris.
Aranha. Taturana. Ovelha Dolly.
Peluda, cabeluda, ela nos bole
na rola, das pequenas às maiores.

Buceta existe só para aguçar
a fome dos caralhos em jejum.
Queremos bedelhar, fuçar, buçar!

Agora não me falem do bumbum!
Do pé tampouco! Vou despucelar
o buço dum cabaço, ato incomum.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Não quero ser o último a comer-te



Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

 

Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde

em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde

a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,

para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.

Voyeurs desde o Natal de 2009