Zemaria Pinto
Doroteia
Evangélica,
a tímida Doroteia foi se achegando aos poucos, descobrindo – ou fazendo com que
eu descobrisse – interesses comuns, como livros e discos, que trocávamos por
empréstimo. Ficamos amigos, dentro do ambiente de trabalho, mantendo a
distância necessária entre superior e subordinada. Em um serão, o que não era
incomum, ficamos apenas os dois, finalizando um relatório a ser enviado à
matriz, quando Doroteia começou um longo discurso, que, pelo tom, eu já adivinhava
como acabaria. Enquanto ela desfiava suas dúvidas existenciais – a missionária,
virgem, apaixonada pelo homem mais velho, casado, seu superior hierárquico –, comecei
a tocá-la, a despi-la, e ela, toda úmida, não oferecia resistência. Nua,
coloquei-a contra a mesa e penetrei-a com força, por trás. O gemido pungente aguçou
a minha violência, até o esporro. O corpo moreno, carnudo, que a roupa recatada
escondia era belo. Doroteia não ficou muito tempo no banco, mas durante dois
anos nos encontramos regularmente. A doce Doroteia gostava de palmadas e
mordidas na bunda e nas coxas. Enquanto eu a enrabava, ela pedia, sôfrega: –
bate, meu amor, bate com força!... Bate, porra! Exigia que eu deixasse as
marcas dos meus dentes nela e que nosso próximo encontro acontecesse antes que
as marcas anteriores apagassem. A voz rouca de Doroteia ainda ecoa, entre a dor
e a volúpia, na noite dentro de mim.
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