Amigos da Alcova

sábado, 31 de dezembro de 2011

Ardor

Grace Cordeiro

descubra-me no tempo

enquanto as virilhas

estão acesas

pois os pelos se vão

na jornada da alcova

e tudo cansa

e nada se espanta

e a boca se perde

nos montes carnais

nas nádegas lunares

nos sóis de

dedos trêmulos

lânguidos, líquidos

se consumindo no

mar pueril dos pensamentos.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Menstruação

Liberto Cruz



Serena fonte, antiga,
onde tudo é suave.
E o líquido desliza
como tranquila ave.

Que espadas a cortaram
que lábios a sorveram
que dedos a tatearam
ou corpos repudiaram,

não sei. Nem mesmo a fonte
quanto desejo exangue
provocou no viandante.

Agora é vermelha, quente,
e suja, mas é a ponte
para que o Amor rebente.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sonhei, linda Signi, que em fofo leito

Anônimo português (século XIX)



Sonhei, linda Signi, que em fofo leito
No meus amantes braços te apertava,
Que nas mimosas faces te beijava,
E que o meu peito unia com o teu peito;

Que da modéstia o denso nó desfeito,
Por todo o lindo corpo te apalpava,
E que entre alvas coxas me enlaçava
O meigo amor no vínculo mais estreito:

Enfim a coisa que o decoro cala
Contigo fez julgar-me que fazia,
E eu gozei um prazer que mal se iguala;

Porém, vem despertar-me o ingrato dia,
E, mais veloz que o fumo, então se exala
Doce engano da viva fantasia.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Maldição

Cacilda Barbosa



Este meu corpo bonito

Traz um sabor esquisito

De lágrima acre e doce

Traz cores de arco-íris

Parto parido de dores.

Marcas sugadas de amores

Este meu sexo maldito

Fala mais alto que um grito

Sufocado no pudor

Pede mãos implora carícias

Loucuras e luxúrias

Libidinagens malícias

Esta alma aqui trancada

Morre após cada soluço

Em meu corpo crucificada.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Volúpia

Florbela Espanca (1894-1930)

  

No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frêmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade…
A nuvem que arrastou o vento norte…
— Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
 

Trago dálias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
 

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças…
 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ternura

David Mourão-Ferreira (1927-1996) 


Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

sábado, 3 de dezembro de 2011

Soneto CLXXVII

Antônio Lobo de Carvalho (1730-1787)

A uma freira do Porto,
com quem teve amores na sua mocidade
Puta dum corno, dos diabos freira,
eu me ausento, por mais não aturar-te;
tu cá ficas, cá podes esfregar-te
com quem melhor te pague essa coceira;

Última tu serás, sendo a primeira
que de mangar em mim se achou com arte;
mas eu nisso mijei, que em toda a parte
bem se sabe quem é Clara-Ribeira:

Vai-te, surrão, injúria das mulheres,
vai fornicar na praia, e não se diga
que não achas colhões quantos quiseres:

Tanta luxúria os ossos te persiga,
que ainda os mesmos bocados que comeres
se convertam em porras na barriga.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A história de Loirinha – final

Marco Adolfs



Enquanto eu estava sendo estuprada, a cruz, no alto daquela igrejinha, parecia a visão da única possibilidade de existência onde me agarrar. Não é estranho? Depois que eu compreendi melhor o mundo e fiquei sabendo da ideia da salvação que a cruz carrega... Como símbolo, Cristo e tudo o mais... Sabe, nunca me importei muito em rezar... Orar? Mas não é isso o que as pessoas que desejam agradecer ou pedir a esse Deus geralmente fazem? Sempre busquei corpos para a sobrevivência pura e simples. Agi como uma devassa completa. Desejei homens com atitudes. Procurava viver e concordar com as iniciativas deles. Sabia que um dia tudo isso acabaria. Eles impunham suas vontades de machos e eu os recebia passivamente. Eles me abordavam com suas palavras de convencimento e eu cedia. Tudo muito fácil. Um mal necessário? Um bem? Um nada?...

Eu escutava atentamente aquele desabafo, quase concordando com tudo.

– Eu quero então lhe pedir uma coisa – disse Loirinha, saindo de seus devaneios.

– Peça – eu disse, calmamente.

– Me leva a uma igreja – completou Loirinha.

Por um momento fiquei em silêncio, não acreditando no que ouvira.

– Pra quê? – perguntei curioso.

Loirinha bebeu mais um gole de vinho e disse.

– Quero agradecer por tudo o que aconteceu comigo.

Naquela tarde de um sol vermelho tinto-sangue, eu levei Loirinha até uma igreja como ela me pediu. Ao entrarmos, a missa já havia começado. Pegamos um lugar em um dos bancos dispostos nas laterais e sentamos. Logo, o padre que oficiava a missa solicitou aos fiéis que todos se ajoelhassem. Loirinha imediatamente obedeceu. Quando todos começaram a rezar eu pude perceber que Loirinha parecia balbuciar uma oração. Fiquei extremamente emocionado ao notar uma lágrima escorrendo pela sua face. “Estranha espiritualidade... Mas teria sido esse o final escolhido por ela, desde o começo?”, pensei.

sábado, 26 de novembro de 2011

Poema com brócolis

Roberto Piva (1937-2010)



o cacique tomava chá com seu corpo pintado.

o pajé dançava com a casca do

gambá.

você brincava com meu caralho.

Macunaíma & Alice no país da

Cobra Grande.

mesma estrutura narra-ação &

barroco elétrico pinçando

estilhaços de visões.

palmeiras de cobre.

meu cu como bandeira

do navio pirata.

a lua começa a cantar.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A história de Loirinha 17

Marco Adolfs


            Muito ainda Loirinha fez na sua vida de prostituta, posso dizer. Muitas e muitas laudas, ainda foram escritas por mim, sobre as suas estripulias sexuais. Tanto, que deu material para um livro. Resolvi relatar, aqui neste espaço, bem menos de um terço de tudo. Só posso dizer agora que os anos mais recentes de sua vida foram em perfeita paz. Apesar de todas as dificuldades, conseguira comprar alguns imóveis, de se estabelecer. Tinha uma conta bancária razoável e havia vencido a tudo e a todos. Um dia, justamente o dia em que resolvi lhe fazer as entrevistas, ela me disse que “cansara de mexer a bundinha”. O seu descanso era espiritual, percebi. Começou a chorar no meu ombro. E de sua boca começou a sair uma confissão. “Minha vida, se fosse escrita, daria um livro”, foi a primeira coisa que falou. “Então porque não escrever?”, pensei. E foi o que fiz. Mas o mais estranho de tudo, na busca desse tempo perdido e reencontrado através das letras, da vida Loirinha, ainda haveria de acontecer. Aconteceu quando eu achei que havia chegado ao fim do meu trabalho de captação jornalística. Aconteceu em certo domingo quando, durante um final de tarde, eu me encontrava sentado na ampla sacada de seu apartamento, localizado na frente de uma praia muito conhecida. Havíamos almoçado juntos naquele dia. E, naquela hora em que tudo aconteceu, o sol esmaecia entre nuvens vermelhas no horizonte e um vento ameno acariciava as nossas faces. Os olhos azuis de Loirinha fitavam aquele horizonte como que em busca de repouso. Algumas rugas acentuavam ainda mais a sua maturidade. O silêncio era quase total. Fumávamos. Ela, um cigarro; eu, o charuto de sempre. Ao lado, duas taças de vinho tinto. Foi quando ela resolveu quebrar o silêncio.

            – Não me arrependo de nada. Mas agora eu vou te pedir uma coisa... Mas, primeiro, deixa eu lhe dizer mais uma coisa... Agora eu me lembrei muito bem... que..., que, quando eu estava sendo estuprada  por aqueles meninos, no campinho de futebol, a única coisa que eu conseguia ver; vislumbrar... em meio àquele turma de cretinos era... era..., uma cruz... A cruz de uma igrejinha que ficava nos fundos daquele campo de futebol... E uns raios de sol... Lembro bem, saindo por detrás dela...

(Final de A história de Loirinha, na próxima semana...)

sábado, 19 de novembro de 2011

Soneto XXXI

Antônio Lobo de Carvalho (1730-1787)

Parodiando o soneto em que João Xavier de Matos descreve o templo d’Amor,
“No templo entrei d’Amor e inda gelado”



Fui uma vez d’Amor à sacristia,
que era um quarto interior do Talaveiras,
e vi trinta milhões de alcoviteiras,
inculcando a safada putaria:

De chichisbéus a tropa ali se via
encrespando os anéis das cabeleiras,
e descendo-lhe o vinho às algibeiras
davam cada facada, que estrugia:

O manso corno então se vai embora,
de Albarda o chichisbéu vi, que trabalha
por servir como burro a uma senhora:

No teto estava Amor de escudo e malha,
com seis vinténs na mão, e a pica fora
Mijando em toda aquela vil canalha.


Chichisbéu: paquerador; metido a gostoso.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A história de Loirinha 16

Marco Adolfs


Assim que entrou na igrejinha, Loirinha achou-a muito velha e escura. Repleta de imagens esquecidas, bancos encardidos e um odor forte de mofo e abandono no ar. Aquela era a segunda vez que Loirinha pisava em uma igreja. Escolheu então um banco próximo ao altar e ficou olhando para a face de uma santa. Sentiu vontade de chorar ao ver aquela face da santa lhe fitando com um ar de compaixão. Loirinha não soube me dizer quanto tempo ficou ali, absorta em seus pensamentos de solidão...
Foi despertada por uma mão gorda e quente lhe tocando o ombro. Loirinha assustou-se e, olhando para trás, para ver quem era, viu um padre.
– A igreja vai ser fechada – disse-lhe o religioso. – Amanhã teremos uma missa às seis horas – continuou.
– Não estou aqui para rezar; vou já sair – disse Loirinha, levantando-se. – Mas o senhor não teria condições de me dar um abrigo só por esta noite? – perguntou então, desconfiando de que poderia receber alguma ajuda do padre nesse sentido.
O padre a fitou de cima para baixo e perguntou:
– De onde você é?
– Vim de carona até aqui – resolveu dizer Loirinha. – Fugi de casa...; meu padrasto me batia muito – completou, tentando sensibilizar o padre.
– Isso não se faz – disse o padre.
– É só por essa noite, padre – fez observar Loirinha. – Amanhã cedinho eu vou dar um jeito de ir embora e voltar para a minha casa – explicou.
O padre a olhou de cima a baixo mais uma vez.
– Está certo – disse. – Você pode dormir em um quartinho que existe aqui nos fundos da igreja – completou, indicando o local.
O quartinho era um cubículo úmido e bolorento, com apenas uma cortina como porta. Tinha apenas uma cama de solteiro encostada em uma das paredes e um pequeno armário a um canto.
O padre então lhe disse que ela poderia ficar ali, que ele voltaria logo para conversar melhor com ela. Loirinha então, assim que o padre saiu, deitou-se na cama e ficou absorta com o olhar perdido no teto encardido. Estava ainda daquele jeito quando o padre pediu licença e entrou no quarto segurando um banquinho em uma das mãos. Sentou-se de frente para ela e começou a perguntar-lhe sobre o seu padrasto e a sua vida. Loirinha mentia e falava a verdade. Falou tanto e com tal entusiasmo que o padre logo se aproximou dela e começou a fazer-lhe um carinho no rosto dizendo que ela era muito bonita e que ele gostava de meninas risonhas e simpáticas como ela.

(Continua na próxima semana...)

sábado, 12 de novembro de 2011

Cristo morreu há mil e tantos anos

Filinto Elísio ( 1734-1819)



Cristo morreu há mil e tantos anos;
foi descido da cruz, logo enterrado:
mas até aqui de pedir não têm cessado
para o sepulcro dele os franciscanos.

Tornou Cristo a surgir entre os humanos,
subiu da terra aos céus, lá está sentado,
e ainda à saúde dele sepultado,
bebem (o saco o paga) estes maganos.

E cuida quem lhes dá a sua esmola,
que eles a gastam em função tão pia?
Quanto vos enganais; oh gente tola!

O altar-mor com dois cotos se alumia;
E o frade com a puta, que o consola,
Gasta de noite o que lhe dais de dia.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A história de Loirinha 15

Marco Adolfs

Nesse dia em que Loirinha começou a me relatar essa parte de sua vida eu estava em seu apartamento. Era um sábado e ela havia me convidado para passar o dia com ela. Disse que eu poderia continuar a minha entrevista comendo uma boa bacalhoada preparada por ela mesma e sorvendo um bom vinho branco de Portugal. Enquanto eu organizava as minhas anotações, Loirinha saiu da sala dizendo que iria tomar um banho. Fiquei ali, envolvido por mil pensamentos. Como ela sabia que eu gostava de um bom charuto, deu-me um de presente para que eu aproveitasse enquanto tomava o seu banho. Agradeci, acendi e levantei para ir até a varanda e olhar a paisagem lá fora. Por sinal, muito bonita. O tempo passou um pouco mais, quando ela então reapareceu, convidando-me para o almoço. Deixei o charuto de lado e preparei-me para abrir o vinho. Loirinha estava esplendorosa em um longo vestido azul.

...Os dois já haviam rodado bastante pela estrada, quando finalmente chegaram a uma cidadezinha perdida. Dessas que pululam pelo o interior do país em suas solidões quase absurdas. O caminhão entrou meio trôpego por aquelas ruas de pedras. Loirinha observava a cidade com um misto de curiosidade e tédio. Não havia quase ninguém nas ruas àquela hora. E com aquele frio que fazia... Quando o caminhoneiro se aproximou de uma igrejinha, freou.

– Salta do caminhão, sua vagabunda! – disse rispidamente, empurrando Loirinha.

– Que é isso!? – Loirinha tentou perguntar.

– Vamos! Anda! Pula! Cai fora!

Loirinha assustou-se com aquilo.

– É isso mesmo que você entendeu! – afirmou o caminhoneiro. Procure dar um jeito de sair, pois comigo você não vai mais.

Por um momento, Loirinha não soube o que fazer e dizer, embora compreendesse que aquele homem a despachava de uma maneira estúpida e inesperada. Loirinha pegou então a sua mochila de roupas e, antes de sair, mandou-o tomar no cu. Sentia muita raiva, mas daria um jeito.

Assim que ela saiu, o caminhão partiu veloz.

Loirinha olhou em volta e só viu a igreja com a porta semiaberta. Resolveu que entraria ali para se proteger do frio. Sentia-se muito mal com tudo aquilo e, por uns momentos, ela acreditou que sentiria um pouco de paz e conforto.

(Continua na próxima semana...)

domingo, 6 de novembro de 2011

Luxúria

Cacilda Barbosa



Eu não sou eu, sou tu
Matéria sobre a qual Deus
Talhou teu corpo nu
Tua pele ardente é minha veste
Tua boca minha vertente
És meu verbo viver
Meu lado total indecente
Sou tua mesa minha cama
Na qual ouso te usar
És meu verão ardente
Areia fina escaldante
Onde eu em teu verde mar
Venho em azul o céu desenhar
Roça de leve como gosto
A pele macia em meu seio
Toca meus lábios em beijos
Aperta meu seio em teu peito
Me queima em teu desejar
Desce em fogo ao meu ventre
Te apaga morno silente
Em meu sexo a se derramar
Somos raios brilhantes juntos
O infinito cinza a riscar
Dois seres se consumindo
Astros reais em luxúria
Loucura de amor a criar.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A história de Loirinha 14

Marco Adolfs


– Quero gozar na sua boca! – ordenou o caminhoneiro. Loirinha não respondeu nada. Sabia o que esperar. Continuava a chupar toda a extensão daquele membro volumoso com uma maestria de fazer inveja a prostitutas mais experientes. De vez em quando lhe fazia uma masturbação ritmada. O falo, de tão grosso, quase não cabia em sua boca pequena. Mas ela não parava. Sabia que se quisesse tirar algum proveito daquele homem teria de fazer tudo o que ele lhe pedisse. Loirinha começava a ser prática e funcional em como levar essa vida.

A chupada era perfeitamente exercida por Loirinha enquanto o caminhoneiro, entre gemidos abafados e a expectativa de gozar logo naquela boca, procurava concentrar sua atenção na estrada. O clímax se aproximou então. Loirinha sentiu que o homem iria esporrar a qualquer segundo.

– É agora, minha filha! – disse-lhe o homem, gemendo. – Não tire a boca e engula a porra, ouviu?! – disse ainda, enquanto procurava manter o caminhão na reta da estrada.

Loirinha então acelerou o ritmo. A glande do caminhoneiro em sua boca parecia-lhe um enorme tomate duro a ponto de explodir. Quando o caminhoneiro começou a gozar, Loirinha aguentou firme e procurou engolir logo toda aquela porra. Uma parte, porém, ficara entremeando seus dentes e a língua. Embora viscosa, ela não sentiu nenhuma ânsia de vomitar. Procurou apenas acreditar que aquilo era um alimento qualquer. Quando então retirou a boca e levantou-se, um pouco do sêmen do caminhoneiro escorria pelos cantos de seus lábios. Ela sorriu para o homem.

– Passe a língua e engula o resto – ele disse.

Loirinha obedeceu. O homem então passou um lenço para limpar o seu membro. Lá fora, a estrada era um estirão de solidão e penúria e Loirinha nada sentia de vergonhoso. Para ela, tudo aquilo que fizer era desejável.

– Você é uma boa menina – disse o caminhoneiro, sorrindo em sua direção. Loirinha sorriu de volta.

O caminhão então foi acelerado em direção ao seu destino. O sol estava a pino.

“E o que houve depois?”, perguntei curioso.

“Você já vai saber”, respondeu Loirinha, esmagando mais uma bagana de cigarro no cinzeiro.   

(Continua na próxima semana...)


sábado, 29 de outubro de 2011

Floral

Lúcia Nobre



Das flores

A que mais amo

É a rosa vermelha

Quando a plantas

No meu sexo

E vais sorvendo

Pètala por pétala

Até chegar à derradeira

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A história de Loirinha 13

Marco Adolfs


             Retesava e largava seu corpo num espasmo que parecia ser tudo o que mais desejara na vida. O caminhoneiro percebendo que ela havia gozado em seus braços começou a arremeter com força e decisão para atingir o seu. Para ele, agindo assim, tornava-se necessário. Mexeu, resfolegou e gozou com urros espasmódicos de uma satisfação intensa. A porra começou a escorrer pelas suas veias cavernosas e a encher o útero de Loirinha. Loirinha aceitou o gozo daquele macho como se cumprisse uma missão. Quando se afastaram, finalmente satisfeitos, Loirinha sentiu o esperma escorrendo pelas suas pernas e se deliciou com aquilo também. O caminhoneiro enxugou seu pênis com um lenço e Loirinha saiu do caminhão dizendo que iria ao banheiro. Quando voltou, abraçou o pescoço do caminhoneiro, assim ficando por um bom tempo. Sentindo-se grata àquele desconhecido que lhe proporcionara o prazer e a possibilidade de um futuro. O caminhoneiro, satisfeito pela conquista, acendeu um cigarro e ficou silenciosamente pensando na vida. Lá fora as luzes dos inúmeros caminhões e carros que passavam iluminavam suas faces aliviadas.

            Os dois então resolveram descansar um pouco mais. Dormiram ali mesmo, enrolados um no outro para se protegerem do frio que havia baixado repentinamente.

              De manhã cedo retomaram a estrada. Loirinha toda sorridente; o caminhoneiro sério e calado. Andaram alguns quilômetros a mais quando, em determinado momento, o caminhoneiro começou a alisar a perna de Loirinha enquanto passava a marcha. Loirinha sentiu-se lisonjeada com aquilo. O caminhoneiro a olhava, novamente, com aqueles olhos ardentes de desejo. Loirinha percebeu que seu pau endureceu. Lá fora a estrada parecia não ter um fim. O caminhoneiro conseguiu abrir a braguilha e puxou o pênis para fora.

            – Chupe, enquanto dirijo – ordenou-lhe.

             Loirinha prontamente obedeceu. Inclinada, meio que deitada no banco, encontrou espaço para meter a boca no pau do caminhoneiro e começar a chupá-lo. Um falo que a cada chupada e lambida parecia ficar mais endurecido e vermelho.

            (Continua na próxima semana...)

sábado, 22 de outubro de 2011

Antônio Botto

Francisco Eugênio dos Santos Tavares (1913-1963)



Tenho preguiça e sono
a alma e o corpo nu,
tenho a fobia de cono,
ai quem me dera um fanchono
que me quisesse ir ao cu!
Tenho preguiça e sono
a alma e o corpo nu.

Tenho sono e preguiça
sou um homossexual,
em mim o prazer se atiça
ao ver a potente piça
de um plebeu rude, brutal...
Tenho sono e preguiça
sou um homossexual.

Tenho haréns, tenho serralhos
de másculas mariposas,
Tenho seiscentos caralhos,
uns rijos quais férreos malhos,
outro macios como rosas.
Tenho haréns, tenho serralhos
de másculas mariposas.

Tenho o corpo enlanguescido
por volúpias siderais.
Tenho o cu prostituído
por mangalhos bestiais.
Tenho o corpo enlanguescido
por volúpias siderais.

Levai nos vossos traseiros
poetas da nossa terra!
Marzapos são os braseiros
do amor. E, paneleiros,
vereis o que o gozo encerra.
Levai nos vossos traseiros
poetas da nossa terra!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A história de Loirinha 12

Marco Adolfs

Sua vulva latejava de desejo. Ela então percebeu que o pênis do caminhoneiro se realçava por debaixo da calça. Loirinha aproximou sua mão direita do pênis endurecido do homem e começou a masturbá-lo ainda por cima da calça. Loirinha sentiu que era um pênis grande e grosso. Aquilo a excitou ainda mais. Os bicos de seus seios pareciam querer explodir, de tão intumescidos que estavam. Em determinado momento o homem então abriu a braguilha e retirou o membro para fora. Loirinha viu o enorme tamanho do pênis e pegou-o na mão como quem pega um bem precioso que precisa ser bem manipulado. Entre gemidos perpetrados e suspiros de paixão, o encosto do banco foi lentamente rebaixado pelo caminhoneiro. A cabine adquiriu mais espaço. Daria para fazer tudo ali. O homem então retirou a blusa e pediu para ela retirar o short. Loirinha obedeceu. Era uma mulher obediente, quando desejava. Totalmente nua, o homem arregaçou as suas pernas e começou a lamber o seu grelo passando a língua, de vez em quando, por toda a extensão de sua vulva, repuxando o clitóris. Loirinha apoiava uma das pernas no encosto e a outra no painel do caminhão, abrindo-se todinha. A cada lambida e chupada daquele homem, Loirinha desejava ainda mais a penetração do pau enorme. Sentia um desejo imenso lhe percorrendo o corpo. O caminhoneiro então se afastou um pouco mais e despiu-se totalmente. Foi quando Loirinha pode ver aquele membro enorme vindo na sua direção. Pediu então que ele entrasse logo. Mas o homem parecia querer aquecê-la ainda um pouco mais. Seu dedo “maior de todos”, deslizou pela sua boceta, penetrou em seu canal e começou a massageá-la pacientemente. Loirinha gemeu de prazer com aquilo. Sentiu que poderia gozar a qualquer momento. Mas desejava que ele lhe metesse logo. Um fogo queimava em seu corpo. Mas o homem intercalava beijos, chupadas, dedos e mais lambidas com tanta vontade que ela não sabia mais o que esperar. Começou então a gemer mais intensamente. Até que gozou. Durante o gozo, Loirinha sentiu-se flutuar e sair do corpo; gemendo de satisfação. Um gozo intenso e profundo. Mas Loirinha sentiu que poderia gozar ainda mais. Foi quando o caminhoneiro, não aguentando mais, penetrou-a de vez. Loirinha recebeu o pau do cara com enorme desejo. Molhada, gemeu com uma satisfação intensa. Mas também sentindo uma dor fina em seu útero, que, misturando-se com o prazer e desejos, foi bem vinda como um prazer a mais. O caminhoneiro mexeu de uma forma ritmada, tão apropriada e correta, que ela logo se viu explodindo em um gozo solto. Gritou então. Uma liberação da alma. Loirinha gozava, gozava e gozava. Derramava-se e esvaía-se. Deixava de existir. Retesava o corpo e largava seu corpo num espasmo que parecia ser tudo o que mais desejara na vida.  
(Continua na próxima semana...)

sábado, 15 de outubro de 2011

Soneto 241 Ensaístico

Glauco Mattoso


Chamemo-la de fase iconoclasta,
à minha poesia antes de cego.
Pintei, bordei. Porém não a renego.
Forçou-me a invalidez a dar um basta.

A nova não é casta, nem contrasta
com velhas anarquias. Só me entrego
ao pé, onde em soneto a língua esfrego.
Chamemo-la de fase podorasta.

Mas nem por isso é menos transgressiva.
Impõe-se um paradoxo na medida
da forma e da temática obsessiva:

Na universalidade presumida,
igualo-me a Bocage, Botto e Piva.
Ao cego, o feio é belo, e a dor é vida.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A história de Loirinha 11

Marco Adolfs



O caminhão era moderno. A cabine era grande. Loirinha ficou então sabendo que poderia dormir no espaço que havia atrás. Ela e o caminhoneiro, à medida que o tempo passava, começaram a ficar mais íntimos. Os desejos de cada um brotando em suas cabeças como cogumelos selvagens. A estrada abrindo-se à frente de Loirinha como uma oportunidade de liberdade e conhecimentos distantes. Loirinha também sentia no ar que aquele caminhoneiro a qualquer momento a abordaria sexualmente. Para atiçá-lo ainda mais, Loirinha, que estava vestindo um short curto e apertado, cruzava as pernas constantemente. Mostrando suas coxas para que aquele homem ficasse totalmente interessado por ela e os dois pudessem iniciar um relacionamento mais profundo. Loirinha era esperta. E – como toda mulher criada na vida de entregas e buscas –  sabia usar do poder da sedução. Um poder a cada dia mais bem usado. De uma maneira melhor e mais apurada.

A viagem transcorria normalmente. Mas, quando anoiteceu, Loirinha começou a ficar cansada. O caminhoneiro disse-lhe então que ela poderia dormir e ficar à vontade. Loirinha não pensou duas vezes e passou logo para o banco de trás. Para a cama do caminhão. O tempo então passou. O barulho do motor e o sacolejo não a incomodaram muito e logo ela caiu no sono. Sentia-se bem, nas mãos daquele homem forte e decidido. Loirinha sabia se entregar ao destino. Mas como tudo tem um tempo determinado para começar e para terminar, ela foi acordada por uma parada obrigatória.

A noite havia virado madrugada e o caminhoneiro estava parando em um posto de gasolina para abastecer e tomar café. Descansar um pouco, antes de prosseguir viagem. Loirinha sentindo vontade de urinar, saiu também, passando-lhe à frente. Se tivesse olhado para trás, veria o olhar de desejo daquele caminhoneiro explodindo em direção a seu corpo. O caminhoneiro disse-lhe que iria tomar café e que logo voltaria para o caminhão. Quando voltou, Loirinha estava sentada no lado do passageiro. Ainda estava com sono. Mas logo a conversa e o café que ele havia lhe trazido começou a acordá-la. Loirinha reagia à conversa e ao assédio do homem. Sorria, gostando daquilo tudo. Gostava de ser surpreendida assim. O homem então começou a pegar-lhe as mãos e a beijá-las. E ela correspondia, começando a gostar. Com não houvesse quase ninguém no posto àquela hora, as carícias do homem começaram a tomar um rumo mais impetuoso. Loirinha sentia-se sendo levada. As mãos do caminhoneiro subiram então de suas coxas e alcançaram os seus seios; puxaram as alças de sua blusa e logo ela sentiu os mamilos sendo chupados. Loirinha excitou-se tanto que começou a ficar molhada.

(Continua na próxima semana...)

sábado, 8 de outubro de 2011

Erótica

Carlos Queirós (1907-1949)


A noite descia
como um cortinado
sobre a erva fria
do campo orvalhado.

e eu (fauno em vertigem)
a rondar em torno
do teu corpo virgem,
sonolento e morno,

pensava no lasso
tombar do desejo;
em breve, o cansaço
do último beijo...

E no modo como
sentir menos fácil
o maduro pomo
do teu corpo grácil:

ou sem lhe tocar
– de tanto o querer! –
ficar a olhar,
até o esquecer,

ou como por entre
reflexos de lago,
roçar-lhe no ventre
luarento afago;

perpassando os meus
nos teus lábios úmidos,
meu peito nos teus
brancos
                seios
                         túmidos...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A história de Loirinha 10

Marco Adolfs


Como passei a gostar de Loirinha de uma forma carinhosa, acho que ela também desenvolveu comigo outro tipo de relacionamento. Um relacionamento que não dependia de dinheiro, mas sim de atenção e respeito. Que era o que ela desejava também. Muitas e muitas vezes ela apenas queria sair para passear. Ir a um cinema; e outros divertimentos. E eu a satisfazia nesse sentido. Passávamos a nos conhecer como seres humanos; pessoas normais.
– Você deve odiar esse político até hoje, não? – comentei, parando de gravar e pensando na barbaridade que ele lhe fizera.
– Um dia desses fiquei sabendo que ele morreu de câncer – ela disse, fria e indiferente.
– Mas você o odiava? – insisti.
– Nunca pensei muito sobre ele – respondeu. – Depois que fui costurada, tudo se ajeitou novamente – finalizou, abaixando a cabeça. Seus dedos deslizando distraidamente pela superfície da mesa de centro.
Pensei então na violência que às vezes permeia toda busca do prazer.
Quando caiu na zona, Loirinha ficou sendo manipulada pelas circunstâncias naturais e excepcionais daquela vida. Como uma bola de sinuca ao sabor de um taco. Mas ela sabia também ser um taco. Um dos aspectos de sua personalidade que mais me atraía era o jeito de ela usar o seu para adquirir, ou uma defesa ou um ataque, perante os homens. E ela ainda me contou um dia, quando estávamos a sós, que uma vez ela quase abandonou a vida de puta que estava levando em troca da estabilidade do casamento. E tudo manipulado através do olhar que ela lançou a um escolhido. Ela era ainda nova, nessa época. Tinha dezoito anos e precisou “fisgar” um homem, como disse. Loirinha queria conhecer o mundo; lugares e pessoas diferentes. Para isso acontecer ela teve a ideia de namorar um caminhoneiro ou um fazendeiro. Tentou primeiro um caminhoneiro. O sujeito, vendo aquela menina nova e bonita lhe fazer sinal na estrada, parou o caminhão imediatamente. Ela usou seu olhar sedutor; seu sorriso arrasador; seu corpo escultural. E entrou. Subiu na cabine do motorista como quem entra em uma casa.
O caminhoneiro era um sujeito forte e bem apanhado. Pelo menos teve a sorte de encontrar um assim, pensou. Deveria ter uns trinta anos. Era moreno e carregava um bigode no rosto. No braço esquerdo, a tatuagem de uma cobra levantando-se para dar o bote. Estava sem camisa, quando ela entrou no caminhão. Apresentaram-se; sorriram um para o outro e partiram.

(Continua na próxima semana...)

sábado, 1 de outubro de 2011

Rígidos seios de redondas, brancas

Jorge de Sena (1918-1878)



Rígidos seios de redondas, brancas
frágeis e frescas inserções macias,
cinturas, coxas rodeando as ancas
em que se esconde o corredor dos dias;

torsos de finas, penugentas, frias,
enxutas linhas que nos rins se prendem,
sexos, testículos, que inertes pendem
de hirsutas liras, longas e vazias

da crepitante música tangida,
úmida e tersa, na sangrenta lida
que a inflada ponta penetrante trila;

dedos e nádegas, e pernas, dentes.
Assim no jeito infiel de adolescentes,
a carne espera, incerta, mas tranquila.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A história de Loirinha 9

Marco Adolfs


...O deputado então fechou o punho; e, como um falo gigantesco e imperfeito, começou a meter-lhe vagina adentro. A princípio Loirinha soltou apenas uns gemidos; logo abafados pela outra mão do deputado. E o braço do homem, entrando todinho. Apenas lubrificado pelo suor. Uma dor dilacerante parecia irradiar-se por todo o seu corpo. Loirinha pensou que iria morrer com aquilo. O sangue começou a escorrer pelas paredes uterinas. Gemendo e tentando se desvencilhar, Loirinha desmaiou.
Quando acordou, estava em uma clínica médica desconhecida.
– Sua cavidade vaginal sofreu uma lesão, com rompimentos de vasos sanguíneos generalizados – disse-lhe o médico.
Loirinha ficou então internada o tempo necessário para a recuperação. Em sua cabeça nada parecia mais passar. No outro dia recebeu a visita do deputado acompanhado pelo seu secretário. Os dois a pressionarem para ela ficar calada sobre o acontecido; deram-lhe um pacote de dinheiro e disseram para voltar para o lugar de onde havia saído. Ao escutar aquilo, pensei, disse Loirinha “prostituta também carrega esses e outros traumas”. E tanto carregou esse que, depois, passou a andar com o maior cuidado por esses ambientes aparentemente idôneos dos poderosos. Andava também armada com um canivete. E quando algum palhaço ameaçava alguma tara esquisita, ela puxava o canivete com raiva e caía fora. Aprendeu. E se recuperou de tudo aquilo. Precisava sobreviver e continuar a sua vida.
Foi depois de uns três anos passados, desde esse acidente, que eu a conheci.
Loirinha era bonita, como eu já disse. Mas carregava um ar de tristeza no olhar. Às vezes até penso que as mulheres que sofrem muito, acabam desenvolvendo uma beleza triste e fugidia. Um olhar melancólico e de resignação que elas tentam disfarçar o quanto podem. Essas são as que mais precisam de amor. E ela sentiu um pouco disso, quando me conheceu. E, modéstia à parte, é claro, eu a fiz feliz enquanto pude.

(Continua na próxima semana...)

sábado, 24 de setembro de 2011

Balofas carnes de balofas tetas

António Botto (1902-1962)



Balofas carnes de balofas tetas

caem aos montões em duas mamas pretas

chocalhos velhos a bater na pança

e a puta dança.


Flácidas bimbas sem expressão nem graça

restos mortais de uma cusada escassa

a quem do cu só lhe ficou cagança

e a puta dança.



A ver se caça com disfarce um chato

coça na cona e vai rompendo o fato

até que o chato de morder se cansa.

e a puta dança.



Os calos velhos com sapatos novos

fazem-na andar como quem pisa ovos

pisando o par de cada vez que avança

e a puta dança.



Julga-se virgem de compridas tranças

mas se um cabrito de cornadas mansas

abre a carteira e generoso acode

a puta fode.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A história de Loirinha 8

Marco Adolfs


            Loirinha estava um pouco nervosa e sentindo frio. Tirou então as sandálias, pegou um edredom que estava na cama, enrolou-se e procurou relaxar. Logo o copo de uísque chegou, trazido por um dos garçons que serviam na festa. O tempo então passou um pouco mais naquele quarto. Quando escureceu e o barulho da festa começou a cessar progressivamente, Loirinha ficou esperando que o tal deputado subisse a qualquer momento. Quando ele abriu a porta e entrou, Loirinha percebeu que o homem mal se aguentava de pé. Ele então fez um sinal com a mão para que Loirinha o aguardasse um pouco mais; deslocou-se, cambaleante, até a suíte do quarto e depois de alguns segundos voltou carregando um saquinho transparente com um pó branco em seu interior.

            – É cocaína! Quer cheirar um pouco? – perguntou o deputado.

            – Não, obrigado – respondeu Loirinha.

            O homem então espalhou um pouco do conteúdo em uma mesinha de vidro que existia no quarto. Pegou um canudo, e, com um dos dedos pressionando uma das narinas, com a outra aspirou um pouco do pó. “É fácil então imaginar o que aconteceu”, pensei, ao escutar Loirinha falando sobre a atitude do deputado. “Num átimo sua cartilagem deve ter sentido o pó percorrendo-lhe as veias do cérebro... Um brilho intenso espocando como um flash em suas retinas. E logo aparecia um deputado alerta e vivo como nunca. O coração bombeando um sangue novo que lhe renovava os músculos retirando parte do efeito do álcool”.

            Sentindo ainda uma comichão nas narinas, o homem então desviou o olhar na direção de Loirinha, sorrindo.

            – Olá, menina!...Agora vamos ao que interessa – disse. – Tire a roupa e vá pra cama e me espere – continuou, enquanto se levantava.

            Loirinha obedeceu e, estendida na cama, ficou olhando o enorme deputado gorducho se despir. Não sentia nada. Apenas desejou que ele viesse logo e terminasse o mais rápido possível com aquilo. Mas o homem veio direto para cima dela e sapecou-lhe, para sua surpresa, uns sonoros tapas que lhe fizeram sangrar o nariz. Assustada ao extremo, Loirinha começou a lacrimejar. Não sabia o que fazer. Sentiu então o homem puxando-lhe pelas pernas e virando-a de bruços. Tudo muito rápido. Suas nádegas ficaram empinadas e ela tremia de medo.

            – Caladinha, viu! Nenhum pio senão te arrebento toda, sua vagabunda! – disse o deputado em seu ouvido.

            Loirinha ficou estática. E o deputado ainda disse:

            – Agora abre bem as pernas que eu vou lhe meter uma coisa... E eu quero que você aguente, ouviu?

(Continua na próxima semana...)

sábado, 17 de setembro de 2011

Cosmocópula

Natália Correia (1923-1993)



I



Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras.


II



O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso de água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A história de Loirinha 7

Marco Adolfs


Loirinha tinha sido contratada determinada noite, por um telefonema direto da capital. Um homem que dizia que era secretário de um político, fora o interlocutor. Decidiram preço e marcaram hora e local para um carro ir pegá-la. Ficou decidido também que ela iria direto para a fazenda do deputado. Era aniversário do homem e ele estava promovendo uma festa lá. Loirinha arrumou suas coisas e esperou. Quando o carro chegou, fizeram sinal de longe. Parecia que tudo estava certo dentro do carro. Com ela, e mais cinco meninas desconhecidas. Quando Loirinha chegou na tal Fazenda, a festa rolava com muito uísque e churrasco. Não é preciso dizer que muitos políticos conhecidos, e sozinhos, estavam presentes. Loirinha era bem informada sobre essa gente. E muitos também já a conheciam.

Muitos sorrisos e gargalhadas, enquanto ela era apresentada discretamente ao deputado. Bêbado, o político babava e espumava em sua gordura.

– Este é o deputado – disse-lhe o secretário, apresentando-a. O deputado a fitou de cima a baixo e ordenou ao secretário para levá-la para o quarto, mantendo-a lá. Ele subiria, disse em seguida, assim que os convidados saíssem.

– Nessa época você passou pela cama de muitos políticos, não? – perguntei curioso e cortando um pouco o relato.

– E quase todos eram advogados também – comentou Loirinha, com um sorriso irônico no rosto. – Os políticos, em sua grande maioria, são pessoas muito carentes e doentes de paixão – continuou Loirinha.

– Como assim? – perguntei.

– Eles estão sempre querendo demonstrar poder e comportam-se, na maior parte das vezes, como meninos imaturos ou doentes perigosos.

Por um momento pensei, pelo que já conhecia do meio, que ela tinha toda a razão.

Loirinha então foi levada para o quarto da casa de campo do deputado. Um quarto amplo e decorado com certo requinte. No centro, via-se uma enorme e vistosa cama redonda. Igual às dos motéis, percebeu Loirinha. Com todos aqueles controles de som e imagem ao alcance da mão. O secretário ligou o ar-condicionado e a televisão, e disse para ela esperar ali. Antes de sair perguntou se ela desejava beber alguma coisa. Loirinha pediu um copo de uísque com gelo.

(Continua na próxima semana...)

Voyeurs desde o Natal de 2009