Amigos da Alcova

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A história de Loirinha 16

Marco Adolfs


Assim que entrou na igrejinha, Loirinha achou-a muito velha e escura. Repleta de imagens esquecidas, bancos encardidos e um odor forte de mofo e abandono no ar. Aquela era a segunda vez que Loirinha pisava em uma igreja. Escolheu então um banco próximo ao altar e ficou olhando para a face de uma santa. Sentiu vontade de chorar ao ver aquela face da santa lhe fitando com um ar de compaixão. Loirinha não soube me dizer quanto tempo ficou ali, absorta em seus pensamentos de solidão...
Foi despertada por uma mão gorda e quente lhe tocando o ombro. Loirinha assustou-se e, olhando para trás, para ver quem era, viu um padre.
– A igreja vai ser fechada – disse-lhe o religioso. – Amanhã teremos uma missa às seis horas – continuou.
– Não estou aqui para rezar; vou já sair – disse Loirinha, levantando-se. – Mas o senhor não teria condições de me dar um abrigo só por esta noite? – perguntou então, desconfiando de que poderia receber alguma ajuda do padre nesse sentido.
O padre a fitou de cima para baixo e perguntou:
– De onde você é?
– Vim de carona até aqui – resolveu dizer Loirinha. – Fugi de casa...; meu padrasto me batia muito – completou, tentando sensibilizar o padre.
– Isso não se faz – disse o padre.
– É só por essa noite, padre – fez observar Loirinha. – Amanhã cedinho eu vou dar um jeito de ir embora e voltar para a minha casa – explicou.
O padre a olhou de cima a baixo mais uma vez.
– Está certo – disse. – Você pode dormir em um quartinho que existe aqui nos fundos da igreja – completou, indicando o local.
O quartinho era um cubículo úmido e bolorento, com apenas uma cortina como porta. Tinha apenas uma cama de solteiro encostada em uma das paredes e um pequeno armário a um canto.
O padre então lhe disse que ela poderia ficar ali, que ele voltaria logo para conversar melhor com ela. Loirinha então, assim que o padre saiu, deitou-se na cama e ficou absorta com o olhar perdido no teto encardido. Estava ainda daquele jeito quando o padre pediu licença e entrou no quarto segurando um banquinho em uma das mãos. Sentou-se de frente para ela e começou a perguntar-lhe sobre o seu padrasto e a sua vida. Loirinha mentia e falava a verdade. Falou tanto e com tal entusiasmo que o padre logo se aproximou dela e começou a fazer-lhe um carinho no rosto dizendo que ela era muito bonita e que ele gostava de meninas risonhas e simpáticas como ela.

(Continua na próxima semana...)

Voyeurs desde o Natal de 2009