Zemaria
Pinto
Suely
Amante
do pastor de sua igreja, Suely procurou-me no banco em busca de orientação
financeira. Sem revelar a origem do dinheiro disponível, ela queria uma
proteção contra a inflação descontrolada. Numa época de aplicações instáveis e
inseguras, aconselhei-a a comprar dólares no mercado negro – ao qual hoje se
aplica o eufemismo de paralelo – e guardá-los no próprio banco, com escrituração
e seguro – uma operação limpa e livre de qualquer controle fiscal. Suely era
uma mulata vistosa que a roupa típica das crentes não conseguia esconder.
Sabendo-se bonita e desejada, sua expressão equilibrava-se entre a caricatura e
a sensualidade: as pernas cruzando e descruzando, falava muito baixo, como se
estivesse trocando segredos, com uma voz quente e sedosa; seus olhos nunca
paravam no mesmo ponto por mais que dois segundos; os dentes brancos sempre à
mostra deixavam passar a língua roxa, que ela insistia em deslizar pelos roxos
lábios carnudos. Convidei-a para um almoço, que ela recusou dizendo que não
poderia ser vista em público. – Não seja por isso, há muitos lugares onde
podemos ir sem ser vistos. No início, quis se fazer de ingênua – aí não, nunca
fiz isso, não sei como fazer aquilo. Aos poucos, foi se entregando à lascívia
que tomava conta de seu belo corpo acastanhado, sem pudores, sem rodeios, sem
limites. Não fazíamos amor: fodíamos. Esse verbo estava presente no auge da
excitação de Suely – me fode; fode meu cu; fode a boceta da tua nega. Uma
ocasião o pastor acompanhou-a até o banco. Não quis sentar-se, olhando para um
lado e para o outro, nervoso. Sacou a maior parte dos dólares guardados e saiu
quase correndo. Depois soube que a polícia estava em seu encalço, denunciado
que fora pelo seu “sócio” na igreja. Poupada, Suely amasiou-se com o segundo
pastor e o saldo voltou a crescer com rapidez. Continuamos fodendo muito – até
que ela fez uma retirada total e nunca mais deu notícias.