Amigos da Alcova

domingo, 20 de março de 2016

Paraíso onde as vulvas inflamadas


Walmir Ayala (1933-1991)


Paraíso onde as vulvas inflamadas
ondulam como dunas semoventes,
e mais parecem vivas e gementes
quanto mais ao prazer subjugadas.

E onde deslizam línguas quais serpentes
cumprindo delirantes emboscadas;
onde as conchas, com o sal das madrugadas,
velam no abismo as ostras inocentes.

Ordens que são do amor guerra perfeita,
e que se cumprem sem qualquer resquício
de prejuízo em campo onde se deita.

Campo que é corpo, fim que está no início,
cimento escuso de uma luz desfeita,
virtude que cintila de ser vício.


domingo, 6 de março de 2016

Lábios que beijei 56


Zemaria Pinto
Rita


Nunca prestara atenção em Rita, até que viajamos juntos a um evento do banco, em Recife. Estranhei logo no avião suas roupas despojadas, à moda hippie, que começava a seduzir os mais jovens, com uma flor nos cabelos. No evento, ela vestia-se de modo convencional, mas à noite, quando saíamos em grupo, ela se destacava exatamente por quebrar as convenções. Na segunda noite, já havíamos feito uma combinação – entre o meu parceiro de quarto e a parceira dela – de modo que ficamos juntos. Ela acendeu um incenso e um baseado, dizendo que era para trazer bons fluidos a nossa noite. A verdade é que nunca me dei bem nem com um nem com outro. Mas Rita, do tipo mignon, mas cheia de curvas e reentrâncias e toda durinha, valia a pena. Depois das preliminares – mãos, dedos, bocas, línguas, dentes – penetrei-a, com suavidade. Embora lubrificada, senti que sua reação foi de desconforto. Movimentei-me lentamente, mas Rita parecia estar sob tortura, não era a mesma de alguns minutos antes. Perguntei-lhe se havia algum problema. Vai, termina logo, foi o que ouvi como resposta, o suficiente para sufocar meu tesão. Tentei conversar, ela se aninhou em meus braços mas não disse palavra. Assim adormecemos. Pela manhã, fui acordado com a língua de Rita lambendo meu rosto, meu pescoço, meus mamilos, iniciando uma nova rodada de preliminares. Posso te pedir uma coisa? Põe na minha bundinha. Com receio de causar-lhe novo desconforto, só a penetrei após ter certeza de que ela estava bem lubrificada. O uivo que Rita emitiu foi indescritível – e os gemidos e os vagidos e as palavras desconexas e os orgasmos sucessivos, até a explosão final, quando gozamos juntos. Prolongamos os dias do evento até o fim de semana e repetimos aquele ritual pagão tantas vezes quanto nos foi possível. De volta para casa, tentei continuar me encontrando com Rita, mas ela, enigmática, talvez citando algum filme antigo, dizia-me apenas: sempre teremos Recife. Mas Recife jamais se repetiu.


(Para ler outros contos desta série, clique em Lábios que beijei

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