Amigos da Alcova

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A história de Loirinha 10

Marco Adolfs


Como passei a gostar de Loirinha de uma forma carinhosa, acho que ela também desenvolveu comigo outro tipo de relacionamento. Um relacionamento que não dependia de dinheiro, mas sim de atenção e respeito. Que era o que ela desejava também. Muitas e muitas vezes ela apenas queria sair para passear. Ir a um cinema; e outros divertimentos. E eu a satisfazia nesse sentido. Passávamos a nos conhecer como seres humanos; pessoas normais.
– Você deve odiar esse político até hoje, não? – comentei, parando de gravar e pensando na barbaridade que ele lhe fizera.
– Um dia desses fiquei sabendo que ele morreu de câncer – ela disse, fria e indiferente.
– Mas você o odiava? – insisti.
– Nunca pensei muito sobre ele – respondeu. – Depois que fui costurada, tudo se ajeitou novamente – finalizou, abaixando a cabeça. Seus dedos deslizando distraidamente pela superfície da mesa de centro.
Pensei então na violência que às vezes permeia toda busca do prazer.
Quando caiu na zona, Loirinha ficou sendo manipulada pelas circunstâncias naturais e excepcionais daquela vida. Como uma bola de sinuca ao sabor de um taco. Mas ela sabia também ser um taco. Um dos aspectos de sua personalidade que mais me atraía era o jeito de ela usar o seu para adquirir, ou uma defesa ou um ataque, perante os homens. E ela ainda me contou um dia, quando estávamos a sós, que uma vez ela quase abandonou a vida de puta que estava levando em troca da estabilidade do casamento. E tudo manipulado através do olhar que ela lançou a um escolhido. Ela era ainda nova, nessa época. Tinha dezoito anos e precisou “fisgar” um homem, como disse. Loirinha queria conhecer o mundo; lugares e pessoas diferentes. Para isso acontecer ela teve a ideia de namorar um caminhoneiro ou um fazendeiro. Tentou primeiro um caminhoneiro. O sujeito, vendo aquela menina nova e bonita lhe fazer sinal na estrada, parou o caminhão imediatamente. Ela usou seu olhar sedutor; seu sorriso arrasador; seu corpo escultural. E entrou. Subiu na cabine do motorista como quem entra em uma casa.
O caminhoneiro era um sujeito forte e bem apanhado. Pelo menos teve a sorte de encontrar um assim, pensou. Deveria ter uns trinta anos. Era moreno e carregava um bigode no rosto. No braço esquerdo, a tatuagem de uma cobra levantando-se para dar o bote. Estava sem camisa, quando ela entrou no caminhão. Apresentaram-se; sorriram um para o outro e partiram.

(Continua na próxima semana...)

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