Apollinaire (1880-1918)
Meu muito querido lobinho eu amo você
Minha querida estrela palpitante eu amo você
Corpo deliciosamente elástico eu amo você
Vulva que aperta como um quebra-nozes eu amo você
Seio esquerdo tão rosa e insolente amo você
Seio direito tão rosa-tenro amo você
Mamilo direito cor de champanhe não champanizado amo você
Mamilo esquerdo igual à bossa da testa de um garrote que
acaba de nascer amo você
Ninfas hipertrofiadas pelos seus toques frequentes amo vocês
Nádegas sutilmente ágeis que se arrebitam para trás amo vocês
Umbigo igual à lua côncava sombria amo você
Toutiço claro como uma floresta no inverno amo você
Axilas peludinhas como um cisne filhote amo vocês
Queda de ombros adoravelmente pura amo você
Coxa de linhagem tão estética como uma coluna de tipo antigo amo
você
Orelhas ornadas como bijuteria mexicana amo vocês
Cabeleira ensopada no sangue dos amores amo você
Pés sábios pés que se enrijecem amo vocês
Rins que cavalgam rins possantes amo vocês
Talhe que jamais conheceu espartilho talhe macio amo você
Dorso maravilhoso tão benfeito que se encurva para mim amo
você
Boca delícia minha néctar meu amo você
Olhar único olhar-estrela amo você
Mãos adoro os seus movimentos amo vocês
Nariz singularmente aristocrático amo você
Caminhar ondulante e dançante amo você
Ó meu lobinho amo amo amo você
(Trad. Décio Pignatari)