Amigos da Alcova

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Canto da bugra


Múcio Teixeira (1857-1928)

  

I


Não chores, ó filha,
Não chores, que a vida
É foda renhida
Viver é foder.
A foda é combate
Que a porra rebate,
Que o cu da donzela
Só peida, a foder…
 

II
 

Um dia fodemos!
O homem que fode,
Mais gostos não pode
Na vida sentir.
Na porra que entesa
Tem sempre uma presa,
Quer suja francesa,
Galinha ou tapir.
 

III
 

A fêmea, abrasada,
O macho deseja
Vencer na peleja,
Garbosa e feroz;
E os trêmulos velhos
Dão falsos conselhos,
Coçando os pentelhos,
Vencidos coiós…
 

IV

Domina quem fode:
Se esporra, descansa,
Na doce esperança
De alegre se vir;
De cono lavado,
O mais não te importe:
Sê puta do norte,
Sem nunca parir.
 

V
 

Já que és minha filha,
Meus brios reveste:
Tamoia nasceste,
Fodida serás;
Engole o tacape
Robusto, fagueiro,
Do duro guerreiro,
Na guerra e na paz.
 

VI
 

Teu grito de bunda
Retumbe aos ouvidos
De imigos trazidos
Por forte tesão;
E treme de ouvi-lo
Pior que o sibilo
Da cobra e do grilo,
Pior que o trovão
 

VII
 

E a fêmea nas tabas
Querendo esfalfados
Os bugres criados
Na lei do tesão,
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez na barriga
Te meta o seu grão.
 

VIII


Porém se um rabicho,
Traindo-te os passos,
Te atire nos braços
De imigo falaz,
Da foda na hora
Teus gostos memora
Verás como chora,
Lambendo-te – o ás!
 

IX


E cai, como o tronco
Do raio tocado,
Fodido, esporrado,
Já murcho o colhão…
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa a consorte
De extinto cabrão.
 

X
 

Tens cu, cono e boca,
Penetra na vida
Fodendo ou fodida,
Que a vida é foder!
A vida é combate
Que a foda rebate,
Cacique ou mascate…
Querer é poder.

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