Amigos da Alcova

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Videotape

Eliane Stoducto (?-2007)




Ai quem me dera que o fogo das paixões
de novo me tomasse por inteiro,
incendiada, no calor da discussão,
atiraria em você algum cinzeiro
(e botaria você) da porta a fora
jurando não querer ver sua cara,
nem ter seu corpo nunca mais, nem nada, nada!
Você iria embora e eu choraria
tal e qual uma criança desgraçada.
Para esquecer eu tomaria vinte uísques
e cairia, no sofá, já desmaiada.
Quando acordasse, abandonada e de ressaca,
me sentiria doente e mal-amada
pois te queria ao meu lado, me cuidando,
me dando um sonrisal e uma trepada...
E aí me sentiria, como se estivesse,
num pronto socorro da Zona Oeste:
com frio, triste e desamparada.
Fecharia os olhos e pediria
a Deus para levar a minha alma...
Depois de dias de desespero
chegaria a conclusão de que você era o meu tempero
e então faria planos para te reconquistar,
mas você me ligaria antes de eu telefonar.
Com o coração aos pulos eu diria, calmamente,
que a gente precisava conversar.
Você concordaria e marcaríamos dia, hora e lugar...
E eu botaria a minha roupa mais gostosa
fingindo ser a coisa mais banal e você,
com sua camisa mais charmosa,
fingiria não notar.
No bar concluiríamos que não dava:
eu não gostava de você, mas te amava.
Você não me amava, mas gostava.
Era urgente que acabássemos com toda aquela loucura passional.
Como adultos de bom-tom brindaríamos à separação
com vinho e algumas lágrimas disfarçadas.
Você me levaria para casa e, depois do longo abraço de adeus
você estaria teso e eu molhada, prontos a repetirmos
a nossa estranha jornada.

Voyeurs desde o Natal de 2009