Amigos da Alcova

terça-feira, 22 de junho de 2010

o corpo do meu amor

Zemaria Pinto



o corpo do meu amor
é o templo do meu desvelo
minha alvorada, meu sol
crepúsculo plenilúnio
coivara do meu enredo
uirapuru ararinha
água corrente lagoa
perau sem fim nem começo
ai que eu me morro de amor
no corpo do meu amor

os olhos do meu amor
são dois pássaros ariscos
são dois pássaros noturnos
são dois cometas errantes
são a luz do meu caminho
os olhos do meu amor

a boca do meu amor
tem a língua mais gostosa
que a minha boca beijou
tem palavras amorosas
tem um hálito de rosas
a boca do meu amor

são as mãos do meu amor
guarida do meu afeto
alívio do meu desejo
selo da minha alegria
estrelas do meu destino
são as mãos do meu amor

são os pés do meu amor
um cofre moldado em vento
onde súdito me curvo
e guardo beijos diários
dois felinos peregrinos
são os pés do meu amor

as costas do meu amor
têm das flores o frescor
das plumas a maciez
e após as lutas do amor
quedam-se em banhos de orvalho
as costas do meu amor

os seios do meu amor
são duas ilhas encantadas
onde repouso das lutas
do banal cotidiano
são fontes de vinho e mel
os seios do meu amor

as coxas do meu amor
são como dois monumentos
sobre os quais se equilibram
os mistérios da existência
são o portal do paraíso
as coxas do meu amor

a bunda do meu amor
é nave dos meus delírios
e cais da minha agonia
é refúgio e é degredo
dos meus sonhos, dos meus medos
a bunda do meu amor

a boceta do meu amor
me deixa a métrica torta
entorpece-me, extasia-me
levita-me em sua glória
hosana-me nas alturas
a boceta do meu amor

o corpo do meu amor
é uma extensão do meu corpo
vibrando ao mínimo gesto
das minhas mãos, dos meus dedos
da minha língua, meu sexo
meus nervos em combustão
abismo dos meus gemidos
repouso dos meus sentidos
ai que eu me morro de amor
no corpo do meu amor

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