Amigos da Alcova

domingo, 1 de agosto de 2010

Visão do paraíso

João Sebastião



Dia desses, distraído
meus olhos se depararam
com a mais bela das visões:
o rego de Catarina
entrevisto num relance
jogou-me em transe transido
das mais loucas sensações:

eu vi Deus descer dos céus
eu vi a terra se abrindo
eu vi crianças brotando
das árvores feito frutos
os autos desgovernados
as casas se incendiando
edifícios desabando
mulheres correndo nuas
homens se digladiando
pássaros mortos chovendo
animais de toda espécie
entre si se devorando

e do lado oposto a Deus
eu vi o próprio Diabo
gigantesco, triunfante
zombando dos olhos meus

Meu Deus, pensei, é possível
que uma visão tão bela
que uma visão tão pura
se torne assim tão terrível?

O rego de Catarina
é o templo de um cuzinho
só possível nos meus sonhos

O rego de Catarina
divide em dois hemisférios
a bunda mais sensual
com a qual posso sonhar

O rego de Catarina
vai descendo vai descendo
até encontrar o mel
que escorre da bocetinha
cujo gosto toda noite
eu teimo em saborear

No rego de Catarina
não há mancha de pecado
(nos meus sonhos manchas há
mas das mordidas que dou
em sua bundinha macia)

No rego de Catarina
só há lugar pra poesia:
é uma floresta de símbolos
é meu jardim de delícias
o cofre do meu prazer

Fechei os olhos com fé:
aquelas visões terríveis
não podiam perdurar.
Aos poucos todo o barulho
foi cessando e o cheiro mau
foi também se esvanecendo

Abri os olhos e vi
estendida sobre a relva
minha doce Catarina
nuinha, me convidando
para deitar junto dela:

lábios de polpa carnuda
peitinhos intumescidos
coxas grossas, coxas fartas
pezinhos tão graciosos
e a bocetinha escondida
entre os pentelhos revoltos

De bruços, pude rever
se abrindo, o rego divino
mostrando o lindo cuzinho
piscando convidativo

(Minha língua percorreu
cada poro desse corpo
que em instantes me levou
do centro do apocalipse
a sentir as sensações
de habitar no paraíso)

Ia alta a madrugada
quando acordei do bom sonho
o coração palpitando
a cama toda esporrada
e o cacete latejando

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