Paul Verlaine (1844-1896)
Quero me abstrair nessas coxas e bundas,
Putas maduras, jovens, noviças, professas,
Do único vero Deus, sacerdotisas veras:
Ah, não sair mais dessas fendas e riscas!
Que pés maravilhosos: vão para o amante,
Voltam só com o amante, descansam apenas
Durante o amor, no leito, depois de gentis mimam
Os pés do amante, que exausto, lasso, se encolhe.
Premidos, aflorados, beijados, lambidos
Das plantas aos dedos, chupados um a um,
Aos tornozelos, aos lagos de veias lentas,
Pés mais belos que os pés de apóstolos e heróis.
Me encanta vossa boca e seus jogos graciosos,
Os da língua, os dos lábios e ainda os dos dentes,
Que mordem nossa língua e às vezes mesmo mais:
Coisas quase tão boas quanto pôr lá dentro;
E vossos seios, montes de orgulho e luxúria,
Entre os quais se iça às vezes meu viril orgulho
Para poder a contento crescer e roçar-se
Tal como um javali entre o Parnaso e o Pindo.
E os braços, que adoro também, belos e brancos,
Macios e firmes, gorduchos, nervosos, belos
E brancos como as bundas, quase tão tesudos;
Quentes no amor, depois, porém, frescos jazigos.
E as mãos que pendem desses braços, ah engoli-las!
Ungidas com o dom do afago e da preguiça,
Extratoras da glande transida que escapa,
Punheteiras de solicitudes infindas.
Mas ora, o que é isso tudo, Putas, perto dos
Vossos cus e bucetas, cujos visão, gosto,
Odor e tato transformam fiéis em eleitos,
Tabernáculos, relicários do impudor.
Por isso, minhas irmãs, nessas coxas e bundas
Quero abstrair-me todo, únicas companheiras,
Belas maduras, jovens, noviças, professas,
E nunca mais sair dessas fendas e riscas.
(Trad. Heloisa Jahn)