Amigos da Alcova

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ouverture

Paul Verlaine (1844-1896)


Quero me abstrair nessas coxas e bundas,
Putas maduras, jovens, noviças, professas,
Do único vero Deus, sacerdotisas veras:
Ah, não sair mais dessas fendas e riscas!

Que pés maravilhosos: vão para o amante,
Voltam só com o amante, descansam apenas
Durante o amor, no leito, depois de gentis mimam
Os pés do amante, que exausto, lasso, se encolhe.

Premidos, aflorados, beijados, lambidos
Das plantas aos dedos, chupados um a um,
Aos tornozelos, aos lagos de veias lentas,
Pés mais belos que os pés de apóstolos e heróis.

Me encanta vossa boca e seus jogos graciosos,
Os da língua, os dos lábios e ainda os dos dentes,
Que mordem nossa língua e às vezes mesmo mais:
Coisas quase tão boas quanto pôr lá dentro;

E vossos seios, montes de orgulho e luxúria,
Entre os quais se iça às vezes meu viril orgulho
Para poder a contento crescer e roçar-se
Tal como um javali entre o Parnaso e o Pindo.

E os braços, que adoro também, belos e brancos,
Macios e firmes, gorduchos, nervosos, belos
E brancos como as bundas, quase tão tesudos;
Quentes no amor, depois, porém, frescos jazigos.

E as mãos que pendem desses braços, ah engoli-las!
Ungidas com o dom do afago e da preguiça,
Extratoras da glande transida que escapa,
Punheteiras de solicitudes infindas.

Mas ora, o que é isso tudo, Putas, perto dos
Vossos cus e bucetas, cujos visão, gosto,
Odor e tato transformam fiéis em eleitos,
Tabernáculos, relicários do impudor.

Por isso, minhas irmãs, nessas coxas e bundas
Quero abstrair-me todo, únicas companheiras,
Belas maduras, jovens, noviças, professas,
E nunca mais sair dessas fendas e riscas.


(Trad. Heloisa Jahn)

Voyeurs desde o Natal de 2009