Amigos da Alcova

sábado, 26 de setembro de 2015

Abisag


Raul Bopp (1898-1991)


Meu corpo é teu, senhor. Queres beijá-lo?
Por que colheste, no horto em que eu vivia,
meu corpo em flor de tâmara macia,
sem teres forças para machucá-lo?

Na excitação de um lúbrico intervalo,
sinto ânsia de amor na boca fria.
Senhor, não vens? Ai, como eu te amaria
nesse mesmo tapete em que eu resvalo.

Dói-me um desejo nessa estranha boda:
O ardor de ter num desvairado instante
alguém que possa machucar-me toda.

Os meus braços vazios já estão cansados.
Senhor, não queres o meu corpo arfante
que tem sabor de todos os pecados?


domingo, 13 de setembro de 2015

Poema para a nudez de Ítala Nandi



Joaquim Cardozo (1897-1978)

O ato sexual, na teoria dos mecanismos,
é um conjugado de prismas.

Ítala Nandi despiu-se,
Tirou suas roupas desnecessárias
E não conseguiu ficar nua:
Sua bunda, seus seios minúsculos, sua babaca pequenina,
São as mesmas da primeira nudez em que nasceu.

Apenas ficou mais lisa
Apenas entrou na periferia
De um corpo nu pintado: de Cranach ou de Baldung.
– Nudez de Eva, a primeira mulher.

Ítala Nandi, porque escondeste
Por tanto tempo a todos nós
Tua santa e secreta nudez?
Tua nudez sagrada...
Nudez para ser beijada.

Com esse nu, tão assim de superfície
Todo o teu esforço no sentido da arte erótica
Onde a plateia e os atores são os mesmos,
Dás apenas o efeito tátil de pouca penetração.

Com essa primeira e indígena nudez,
Ítala Nandi, é quando te vestes
Que ficas nua.


Voyeurs desde o Natal de 2009