Amigos da Alcova

domingo, 5 de maio de 2024

Divisamos assim o adolescente

 

Mário Faustino (1930-1962)

 

 

Divisamos assim o adolescente,

A rir, desnudo, em praias impolutas.

Amado por um fauno sem presente

E sem passado, eternas prostitutas

Velam por seu sono. Assim, pendente

O rosto sobre o ombro, pelas grutas

Do tempo o contemplamos, refulgente

Segredo de uma concha sem volutas.

Infância e madureza o cortejavam,

Velhice vigilante o protegia.

E loucos e ladrões acalentavam

Seu sonho suave, até que um deus fendia

O céu, buscando arrebatá-lo, enquanto

Durasse ainda aquele breve encanto.

 


Voyeurs desde o Natal de 2009