Marcial
(40-104)
A mulher livre é do meu
gosto.
Mas, se não der,
A liberta é a minha
mulher.
Mas, se não der,
Serve a escrava – e não
lhe cedo o posto
A nenhuma beldade,
Se for belo o rosto
Como o da liberdade.
(Tradução: Décio Pignatari)
Poesia Erótica – Poesia Pornográfica
Marcial
(40-104)
A mulher livre é do meu
gosto.
Mas, se não der,
A liberta é a minha
mulher.
Mas, se não der,
Serve a escrava – e não
lhe cedo o posto
A nenhuma beldade,
Se for belo o rosto
Como o da liberdade.
(Tradução: Décio Pignatari)
Cândida Alves
Os homens
são banais
em suas abstrações
sem nexo
Os anjos
são legais
mas não fazem
sexo
Paul Verlaine (1844-1896)
A garotinha
sem vacilar
toca punheta
no garotão.
O felizardo,
com o tratamento,
goza e cuspinha
pra todo lado.
Vendo esse leite
a menina ri
e, curiosa
do que ele seja,
cheira uma gota
bem da pontinha.
Pronto! Se anima!
Agora azar!
Lambe e relambe
a linda ponta,
depois zás-trás,
põe-se a mamar!
Viscondezinho
de não-sei-quê,
não conte a história
pra muita gente,
a fina flor
sentimental
de tuas férias
do ano 90:
pois tais tumultos
pelos castelos
os teus amigos,
mesmo os mais tolos,
bem que podiam,
caso quisessem,
contar-te às dúzias,
sem invenções;
e as priminhas,
anjos caídos,
dessas cozinhas
e desses sumos
Já são freguesas,
as coitadinhas,
desde que fazem
a comunhão:
isso, amiguinhos,
só pra ensaiar
os adultérios
que ainda virão.
(Trad. Heloisa Jahn)
A
minha Márcia tinha
Uma
fruta muito bela,
Não
no miolo, na casca
Era
todo o gosto dela.
Ainda
me lembra
Que
gosto, que luta
Eu
tive, tirando
A
casca da fruta!
Entre
dois troncos bem grossos,
A
frutinha se escondia,
Às
vezes viam-se os troncos,
A
fruta nunca se via.
Ainda
me lembra
Que
gosto, que luta
Eu
tive, tirando
A
casca da fruta!
Por
mais verde que ela esteja
Sempre
tem certa doçura,
Mostra
o verdor no tamanho,
Rachada
quanto madura.
Ainda
me lembra
Que
gosto, que luta
Eu
tive, tirando
A
casca da fruta!
Antes
de tirar-lhe a casca
O
meu bem tanto a zelava
Que
se eu punha a mão nos troncos
Quase
sempre se zangava!
Ainda
me lembra
Que
gosto, que luta
Eu
tive, tirando
A
casca da fruta!
Duas
rainhas mostrava
A
natureza só nelas,
Era
a rainha das frutas
Com
a rainha das belas.
Ainda
me lembra
Que
gosto, que luta
Eu
tive, tirando
A
casca da fruta!
Meu
bem, da rival zelosa,
Para
sugar-lhe a doçura,
Tinha
com força apertado
A
boca na rachadura.
Ainda
me lembra
Que
gosto, que luta
Eu
tive, tirando
A
casca da fruta!
Prostrei-me
a seus pés, tremendo
Em
doce, amoroso abalo,
Exigindo
ser pra sempre
Destas
rainhas vassalo.
Ainda
me lembra
Que
gosto, que luta
Eu
tive, tirando
A
casca da fruta!
Hesitou
Márcia um momento,
Porém
eu tanto roguei
Que
ali mesmo no jardim
O
meu despacho alcancei.
Ainda
me lembra
Que
gosto, que luta
Eu
tive, tirando
A
casca da fruta!
Consentiu,
pra que eu sentisse
Desse
seu fruto a doçura,
Que
eu pusesse a mão no pomo
E
a boca na rachadura.
Ainda
me lembra
Que
gosto, que luta
Eu
tive, tirando
A
casca da fruta!
Não,
meu bem! dizia ela
Toda
pia e resoluta;
Sem
falar com o vigário,
Não
me toque nesta fruta!
Ainda
me lembra
Que
gosto, que luta
Eu
tive, tirando
A
casca da fruta!
Luiz Bacellar (1928-2012)
do teu
minúsculo coquinho
relatam
lendas milenárias
brotaram
sono, amor, carinho,
a lua e as
outras luminárias;
onças e
pássaros noturnos,
quanto em
teu bojo se escondia
dele fugiu
com ares soturnos
enquanto o
breu se derretia;
tu foste a
caixa de Pandora
das tribos
bárbaras de outrora
e a cor das
asas da graúna
saiu de ti
como um trovão
para que a
filha da boiúna
pudesse
amar na escuridão
Eliane Stoducto
Delírios de febre,
suor e arrepios,
me toma de assalto
uma taquicardia:
o pulso acelera
assim de repente,
me sinto doente...
Os olhos vidrados,
a boca silente.
Sutil calafrio,
qual sombra da morte,
percorre a espinha.
Na louca agonia
espasmos, tremores...
É a vida que parte?
São males? São dores?
Que nada...
São só ais de amores...
Gilka
Machado
(1893-1980)
Embora dos
teus lábios afastada
(que
importa? – tua boca está vazia…)
beijo esses
beijos com que fui beijada,
beijo teus
lábios, numa nova orgia.
Inda
conservo a carne deliciada
pela tua
carícia que mordia,
que me
enflorava a pele, pois, em cada
beijo dos
teus uma saudade abria.
Teus beijos
absorvi-os, esgotei-os:
Guardo-os
nas mãos, nos lábios e nos seios,
numa
volúpia imorredoura e louca.
Em teus
momentos de lubricidade,
beijarás
outros lábios, com saudade
dos beijos
que roubei de tua boca.
Violeta Branca (1915-2000)
As tuas mãos nervosas, quentes, largas,
harpejam nos meus sentidos
a música ideal da emoção.
Para os teus dedos criadores,
sou o piano mágico vibrando
ao influxo de tua ardente inquietação.
Tuas mãos frementes,
arrancam angústias sonorizadas
de meus nervos,
que se retesam como cordas harmoniosas.
Tuas mãos imperiosas,
tuas mãos rebeldes,
cantam silenciosas aleluias de gestos,
quando compõem poemas de volúpia,
gritos incontidos de alegria pagã,
correndo ligeiras,
leves,
torturantes,
no teclado branco de meu corpo...
Vinicius de Moraes (1913-1980)
IV – A água
A água banha a Amada com tão claros
Ruídos, morna de banhar a Amada
Que eu, todo ouvidos, ponho-me a sonhar
Os sons como se foram luz vibrada.
Mas são tais os cochichos e descaros
Que, por seu doce peso deslocada
Diz-lhe a água, que eu friamente encaro
Os fatos, e disponho-me à emboscada.
E aguardo a Amada. Quando sai, obrigo-a
A contar-me o que houve entre ela e a água:
– Ela que me confesse! Ela que diga!
E assim arrasto-a à câmara contígua
Confusa de pensar, na sua mágoa
Que não sei como a água é minha amiga.
Vinicius de Moraes (1913-1980)
III – O ar
Com mão contente a Amada abre a janela
Sequiosa de vento no seu rosto
E o vento, folgazão, entra disposto
A comprazer-se com a vontade dela.
Mas ao tocá-la e constatar que bela
E que macia, e o corpo que bem-posto
O vento, de repente, toma gosto
E por ali põe-se a brincar com ela.
Eu a princípio, não percebo nada…
Mas ao notar depois que a Amada tem
Um ar confuso e uma expressão corada
A cada vez que o velho vento vem
Eu o expulso dali, e levo a Amada:
– Também brinco de vento muito bem!
Vinicius de Moraes (1913-1980)
II – A terra
Um dia, estando nós em verdes prados
Eu e a Amada, a vagar, gozando a brisa
Ei-la que me detém nos meus agrados
E abaixa-se, e olha a terra, e a analisa
Com face cauta e olhos dissimulados
E, mais, me esquece; e, mais, se interioriza
Como se os beijos meus fossem mal dados
E a minha mão não fosse mais precisa.
Irritado, me afasto; mas a Amada
À minha zanga, meiga, me entretém
Com essa astúcia que o sexo lhe deu.
Mas eu que não sou bobo, digo nada…
Ah, é assim… (só penso) Muito bem:
Antes que a terra a coma, como eu.
Vinicius de Moraes (1913-1980)
I – O fogo
O sol, desrespeitoso do equinócio
Cobre o corpo da Amiga de desvelos
Amorena-lhe a tez, doura-lhe os pelos
Enquanto ela, feliz, desfaz-se em ócio.
E ainda, ademais, deixa que a brisa roce
O seu rosto infantil e os seus cabelos
De modo que eu, por fim, vendo o negócio
Não me posso impedir de pôr-me em zelos.
E pego, encaro o Sol com ar de briga
Ao mesmo tempo que, num desafogo
Proíbo-a formalmente que prossiga
Com aquele dúbio e perigoso jogo…
E para protegê-la, cubro a Amiga
Com a sombra espessa do meu corpo em fogo.