Amigos da Alcova

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Drida, a maga perversa e fria

Hilda Hilst (1930-2004)




Pairava sobre as casas
Defecava ratas
Andava pelas vias
Espalhando baratas
Assim era Drida
A maga perversa e fria.
Rabiscava a cada dia o seu diário.
Eis o que na primeira página se lia:
Enforquei com a minha trança
O velho Jeremias.
E enforcado e de mastruço duro
Fiz com que a velha Inácia
Sentasse o cuzaço ralo
No dele dito cujo.
Sabem por quê?
Comeram-me a coruja.
Incendiei o buraco da Neguinha.
Uma crioula estúpida
Que limpava ramelas
De porcas criancinhas.
Perguntam-me por que
Incendiei-lhe a rodela?
Pois um buraco fundo
De régia função
Mas que só tem valia
Se usado na contramão
Era por neguinha ignorado.
Maldita ortodoxia!
Comi o cachorro do rei.
Era um tipinho gay
Que ladrava fino
Mas enrabava o pato do vizinho.
Depenei o pato.
Sabem por quê?
Cagou no meu cercado.
E agora vou encher de traques
O caminho dos magos.
Com minha espada de palha e bosta seca
Me voy a Santiago.

Moral da história:
Se encontrares uma maga (antes
Que ela o faça), enraba-a.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Soneto 306 Putanheiro

Glauco Mattoso




Putana, prostituta, marafona,
rameira, pistoleira, meretriz...
Além do que o sinônimo nos diz,
existe uma perita em cada zona.

Nem tudo na mulher é mera cona:
há a bunda, o seio, a rótula, o nariz...
Cliente mais exótico, feliz,
a velha zona erógena abandona.

É o caso do podólatra, que quer
o pé dela em sua boca e no seu falo,
ou por seu pé na boca da mulher.

Do fetichista cego já nem falo,
pois seu desejo não é pé qualquer,
mas o que tem chulé, frieira e calo.

domingo, 25 de abril de 2010

Soneto XIV

Bocage (1765-1805)




Bojudo fradalhão de larga venta,
Abismo imundo de tabaco esturro,
Doutor na asneira, na ciência burro,
Com barba hirsuta que no peito assenta:

No púlpito um domingo se apresenta;
Prega nas grades espantoso murro;
E acalmado do povo o grão sussurro
O dique das asneiras arrebenta.

Quatro putas mofavam de seus brados
Não querendo que gritasse contra as modas
Um pecador dos mais desaforados:

“Não (diz uma) tu, padre, não me engodas:
sempre me hás de lembrar por meus pecados
a noite em que me deste nove fodas!”

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mitologia erótica 4 – Orfeu

Nei Leandro de Castro




Depois de perder Eurídice

na saída de um inferninho,

Orfeu deu.

Castigo ou não de Zeus,

consta que Orfeu

jamais se arrependeu.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Mitologia erótica 3 – Narciso

Nei Leandro de Castro




Narciso só tinha olhos

para o seu rosto perfeito

e tremia de tesão

pelo seu corpo de macho.

Numa manhã de verão

Narciso se viu na fonte

e quis beijar os seus lábios

e afogar-se em desejos,

enquanto uma cotovia

– o coraçãozinho aos saltos –

se balançava e cantava

entre ramos de narciso.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Mitologia erótica 2 – Eros

Nei Leandro de Castro




Eros nasceu do Caos – é o que dizem.

Outras fontes o apontam

como resultado de uma homérica suruba.

Seria filho de Íris ou de Ilítia

ou de Artemis Ctônia com Hermes.

Outra versão: filho de Afrodite

(Afrodite era fogo) com Hermes.

O poeta não tem nenhuma obrigação

de saber essas mitologias todas.

Só sabe que nos puteiros romanos

Eros era conhecido como Cupido

e tinha o pênis assim pequenininho

como de um anjo barroco.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Mitologia erótica 1 – Príapo

Nei Leandro de Castro




Príapo, filho de Dioniso em Afrodite,

tinha um pau descomunal e sempre duro.

Guardava pomares, vinhedos e jardins

e vivia se escondendo com Onan

que não entra em nenhuma mitologia.

Outros dizem que Hera, a megera,

numa cena suburbana de ciúme,

teria apertado o ventre de Afrodite

que a corneou com Zeus. Resultado:

o filho nasceu priápico.

domingo, 18 de abril de 2010

Vênus Anadiomene

Arthur Rimbaud (1854-1891)




Qual de um verde caixão de zinco, uma cabeça
Morena de mulher, cabelos emplastados,
Surge de uma banheira antiga, vaga e avessa,
Com déficits que estão a custo retocados.

Brota após grossa e gorda a nuca, as omoplatas
Anchas; o dorso curto ora sobe ora desce;
Depois a redondez do lombo é que aparece;
A banha sob a carne espraia em placas chatas;

A espinha é um tanto rósea, e o todo tem um ar
Horrendo estranhamente; há, no mais, que notar
Pormenores que são de examinar-se à lupa...

Nas nádegas gravou dois nomes: Clara Vênus;
– E o corpo inteiro agita e estende a ampla garupa
Com a bela hediondez de uma úlcera no ânus.

(Trad. Ivo Barroso)

sábado, 17 de abril de 2010

As rosas do cume

Laurindo Rabelo (1826-1864)




No cume da minha serra
Eu plantei uma roseira,
Quanto mais as rosas brotam
Tanto mais o cume cheira.

À tarde, quando o sol posto,
E o vento no cume adeja,
Vem travessa borboleta,
E as rosas do cume beija.

No tempo das invernadas,
Que as plantas do cume lavam,
Quanto mais molhadas eram
Tanto mais no cume davam.

Mas se as águas vêm correntes,
E o sujo do cume limpam,
Os botões do cume abrem,
As rosas do cume grimpam.

Tenho pois certeza agora
Que no tempo de tal rega,
Arbusto por mais cheiroso
Plantado no cume pega.

Ah! porém o sol brilhante
Seca logo a catadupa;
O calor que a terra abrasa
As águas do cume chupa!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sonetos Luxuriosos – 9

Aretino (1492-1556)




Fodamos, meu amor, fodamos presto,
Pois foi para foder que se nasceu,
E se amas o caralho, a cona amo eu;
Sem isto, fora o mundo bem molesto.

Fosse foder após a morte honesto,
“Morramos de foder!” seria o meu
Lema, e Eva e Adão fodíamos por seu
Invento de morrer tão desonesto.

É bem verdade que se esses tratantes
Não comessem do fruto traidor,
Eu sei que ainda fodiam-se os amantes.

Mas caluda e me enfia sem temor
Esse pau que à minha alma, em seus rompantes,
Faz nascer ou morrer, dela senhor.

                            E se possível for,
Quisera eu pôr na cona estes colhões
Que de tanto prazer são espiões.

(Trad. José Paulo Paes)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Poema para o namorado

Leila Miccolis




Teu lado feminino me erotiza:

são belos, sensuais e muito caros

certos momentos gostosos em que te encaro

menos como homem, mais como menina:

quando passas teus cremes para a pele,

ou pões o avental pra cozinhar,

ou quando em mim te esfregas até gozar

os teus gozos sem fim,

ou quando tuas mãos leves e lésbicas

desabam feito plumas sobre mim.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Meu homem

Angelica de Lis (1984-2009)




Ele chega, olha-me com desejo.
(Posso sentir no seu olhar a vontade que tem de possuir-me.)
Beija a minha boca,
sinto nos seus lábios a força do seu tesão.
E quando me beija sinto um arrepio
que me deixa entorpecida de excitação.
Toca meu corpo e no seu toque posso sentir sua fome,
nesse momento quero ser sua comida,
saciando-o com minha carne
e minha vontade insaciável...
Ele me possui com ardor e volúpia
e enquanto me penetra,
sua boca,
ávida e sedenta,
procura a minha boca.
Meus seios cabem em suas mãos,
como se ali fosse a sua morada...
Ele sussurra, geme e grita,
e o meu gozo é o paraíso,
para onde ele me conduz,
guia-me,
ensina-me o lado mais gostoso da vida.

Como é bom ser possuída por ele, como ele sabe me fazer feliz...
Como sou realizada e amada por ele...
Seu gozo fica em mim,
seu suor e seu cheiro entranhado em minha pele,
e o gosto do seu beijo permanecerá em meus lábios,
até que volte a possuir-me novamente.
Ele beija-me,
leva-me ao encontro do seu corpo,
olha-me,
acaricia o meu corpo
e vem...
num movimento que se eterniza
dentro de mim!

terça-feira, 6 de abril de 2010

A xota do meu bem

Eno Theodoro Wanke (1929-2001)




A xota do meu bem, que me apaixona
e deixa fissurado noite e dia,
é a coisa mais formosa e mais macia,
mais feminina que me atrai na dona!

É linda, uma gatinha que ronrona,
ou melhor, que se molha de alegria
se a minha mão, de leve, a acaricia
e ela deixa fazer... E se abandona...

É uma alegria me insinuar por ela,
a gostosura perfumada e bela,
bichinha a me doar o amor que tem...

Por isso, neste meu soneto novo,
eu ergo minha carne em brinde, e louvo
a xota deliciosa do meu bem!

sábado, 3 de abril de 2010

Madonna

Mano Melo



Quem transou com a Madonna
Quando esteve no Brasil?
Não deu no New York Times
Nem no Jornal Nacional
Nem na Revista Gazeta
Nem no Jornal do Brasil

Quem papou aquela buceta?
Meteu naquele xibiu?
Colheu o botão de rosa?
Lambeu o favo de mel,
Na suíte esplendorosa
Do Caesar Park Motel?
Qual foi o brasileiro?
Quem foi que traçou a Madonna neste Rio de Janeiro?

O Repórter Isso informa em edição extraordinária
Em completo furo de reportagem
Na mais absoluta primeira mão
Desvendando o mistério
Mais bem guardado do Rio
Com quem Madonna dormiu quando esteve no Brasil?
Tchán tchán tchán tchán
Em Verdade em Verdade vos digo:
Foi comigo! Foi comigo!

Foi comigo e vou contar como foi

Encontrei a Madonna na Praça Paz
Numa limousine Mitsubishi lilás
Calcinha preta, peitinhos soltos, botas de salto
Algemas na cinta, corrente nos pulsos, coleira no pescoço
E incrustado num boné de maruja
Que lhe cobria a cabeça
Um crucifixo de ouro com um cristo de pau duro

Abriu a porta do carro
Olhou pra mim
E disse assim: Entra aí, seu bunda suja,
                      Vamos tirar um sarro

A Madonna tava demais
Peruca sintética de cabelos vermelhos
E um caralho de plástico ornamentando os pentelhos
Se vestiu de Flamengo
Me amarrou nuns cordéis
E fez do Mano Melo o seu doce mamulengo
Despiu todos os anéis
As meias e as ligas
Chamou mais cinco amigas
Cinco amigas que tavam na paquera: Aí, galera
                                                        Vamos jantar essa fera

E estalou o chicote: Vopt vopt Vopt vopt
                              Quem é tua dona? Vopt vopt
                              Responde! Vopt vopt
                              Quem é tua dona? Quem é tua dona?
                              – É a Madonna! É a Madonna!

Que ginástica!

A Madonna tava muito louca
Ardia de febre uterina e furor no anel anal
Num gesto abrupto
Girou o pélvis
Me chamou de João Alves
Sentou em cima do bruto
E disse que adorava uma trolha de anão corrupto

Exigiu que lhe batesse, lhe arranhasse, lhe arrombasse
Lhe estuprasse
Lhe xingasse de Marafona Cafona Cagona
Cona Suja Fedida Vendida Fingida Decadente Bandida
Absoluta Maravilhosa Estrela
Deidade Divina
Tríbade Olímpica dos Jardins de Zeus
Vênus Castigadora
Afrodite dançada por Isadora
Diana dos caçadores
Orgasmo-síntese de todos os amores
Clitemnestra do clitóris de seiscentos milhões de dólares

Deitou-me ao colo
Guardou-me na boca
E chamou minha piroca de sua leiloca
Seu baby consuelo
E gritou: Ra! Ra!
Depois se mandou
Abraçada com a Ro Ro


Obs: todo mundo sabe que a Ana Carolina e o Jesus Luz comeram a Madonna, mas o Mano Melo comeu antes: este poema é de 1993...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Prega-rainha suíte

Armando Freitas Filho




Na outra ponta onde o pensamento

não chegava. Dei tudo, deitei-me

de bruços, no sofá de sarja surrado:

amarelo, preto, areia – xadrez.

De bruços, sob sua boca tão moça

de cromo, de primeira-comunhão.

Não sob seu beijo, mas sob sua língua crua

que entrava na fossa de cabelos

ousando-me, usando-me, enfrentando o feio

o fétido. Dei tudo de mim, libera para o desejo

que se desenha feito afronta, atrás:

ap. de fundos, em [...], rasgando

todas as regras de entrega, à tarde

na terra desconhecida, deitei-me.

Voyeurs desde o Natal de 2009