Amigos da Alcova

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Soneto 287 utópico

Glauco Mattoso



No fundo, o grande sonho masculino
é conseguir chupar a própria tora,
coisa que o chimpanzé faz toda hora,
e o homem tenta, em vão, desde menino.

Seja porque seu membro é pequenino,
ou porque o corpanzil não colabora,
o fato é que o machão lamenta e chora
o irônico, anatômico destino.

Parece que a utopia nua e crua
resume-se numa autofelação,
quem sabe a autofagia, que jejua...

O jeito vem a ser masturbação,
e o sonho sensual se perpetua,
enquanto a mulher crê que dá tesão...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Quem nunca chupou buceta não sabe o que está perdendo

Allan Sales



Há muito, eu desconhecia
Uma coisa tão gostosa
Divina e maravilhosa
Que nos dá só alegria
Renova nossa energia
Pois fique o amigo sabendo
Que pra quem vive sofrendo
E morrendo na punheta
Quem nunca chupou buceta
Não sabe o que está perdendo

É tão sadio e gostoso
Degustar, lamber a xota
Pois só mesmo um idiota
Acha feio e perigoso
Quem for preconceituoso
Dessa parada correndo
Achando que é um ato horrendo
Desconhece tal faceta
Quem nunca chupou buceta
Não sabe o que está perdendo

Eu mesmo já fui assim
Desconhecendo tal fato
Mas hoje eu sou muito grato
Pois deram o toque pra mim
Pensava que era ruim
A seiva ficar bebendo
Pentelhos ficar comendo
Chupar grelo feito teta
Quem nunca chupou buceta
Não sabe o que está perdendo

Babacas deste Brasil
Idiotas puritanos
Vão tomar nos vossos ânus
Vão pra puta que os pariu
Pois só mesmo um imbecil
Acaba não percebendo
Como é bom ficar lambendo
A buça de uma ninfeta
Quem nunca chupou buceta
Não sabe o que está perdendo

Sei que a igreja condena
E muitos acham um horror
Os sábios lhe dão valor
Pois sabem que vale a pena
É diversão tão amena
Quando num tamo fudendo
É como fogo ardendo
Saborear sem careta
Quem nunca chupou buceta
Não sabe o que está perdendo

Chato é tirar dos dentes
Os insistentes pentelhos
Lambendo os lábios vermelhos
Das vulvas incandescentes
Gemem mulheres ardentes
Gozando, os lábios mordendo
Nos buscam sempre querendo
Tal brincadeira porreta
Quem nunca chupou buceta
Não sabe o que está perdendo

Os sapatões é que adoram
Pois não possuem um pau
É um ato universal
Mas que tantos ignoram
Se as xoxotas não devoram
A todos eu recomendo
Tal prazer é bom fazendo
Encarar a cara preta
Quem nunca chupou buceta
Não sabe o que está perdendo

Até D. Pedro I
O nosso monarca luso
Era um craque nesse uso
Nisso foi um costumeiro
A marquesa por inteiro
Ele chupava tremendo
Ficava a língua doendo
De fazer a carrapeta
Quem nunca chupou buceta
Não sabe o que está perdendo

Na certa não é errado
Também nojento não é
Pois quem gosta de mulher
Aprecia extasiado
Aqui dou meu atestado
Por isso sigo fazendo
Chupando vou aprendendo
A deixar de ser careta
Quem nunca chupou buceta
Não sabe o que está perdendo

Aqui me despeço amigos
Pois já dei o meu recado
Chupar nunca foi pecado
Assino embaixo o que digo
Um palmo abaixo do umbigo
Há um prazer estupendo
Que é de degustar morrendo
Encarar a cara preta
Quem nunca chupou buceta
Não sabe o que está perdendo

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Lubricidade

Cruz e Sousa (1861-1898)



Quisera ser a serpe venenosa
Que dá-te medo e dá-te pesadelos
Para envolverem, ó Flor maravilhosa,
Nos flavos turbilhões dos teus cabelos.

Quisera ser a serpe veludosa
Para, enroscada em múltiplos novelos,
Saltar-te aos seios de fluidez cheirosa
E babujá-los e depois mordê-los...

Talvez que o sangue impuro e flamejante
Do teu lânguido corpo de bacante,
Da langue ondulação de águas do Reno

Estranhamente se purificasse...
Pois que um veneno de áspide vorace
Deve ser morto com igual veneno...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Teu sêmen na minha boca

Clara Nihil



semente do meu amor
repasto do meu desejo
sumo do meu prazer

alimento dos meus dias
pão da minha liberdade
mel da minha paixão

néctar da minha alegria
sal da minha temperança
água da minha sede

vinho da minha euforia
seiva da minha bonança
minha felicidade

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A primeira vez que nos amamos

João Sebastião
(para Angélica de Lis, doce memória)



A primeira vez que nos amamos
senti vibrar teu corpo de alegria
apesar de uma lágrima furtiva
e do teu rosto contraído
numa singela expressão de dor.

A primeira vez que nos amamos
havia música barroca no ar
pontuando a estranha melancolia
e a fortuita liberdade
que nem tu nem eu sabíamos explicar.

A primeira vez que nos amamos
e que nossos corpos se envolveram com paixão
nem a dor nem o sangue ou o suor
macularam a inocência de um encontro
forjado pela febre do desejo mútuo.

A primeira vez que nos amamos
havia pássaros nos laranjais
trilando melodias merencórias
um tom acima do coro de anjos
que em nossa cela nos abençoava.

A primeira vez que nos amamos
um poema em teu corpo eu tatuei
com minhas mãos meus lábios e meu sexo
e te amei como nunca amei ninguém
e tu me amaste como Eva amou Adão.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O cheiro do teu cu amanhecido

João Sebastião



O cheiro do teu cu amanhecido
tem as harmonias da Nona Sinfonia
a simetria do dantesco Inferno
e o labiríntico enredo do Édipo Rei

O cheiro do teu cu amanhecido
muito mais que o Flamengo campeão
é a Mangueira descendo na avenida
é ganhar a Copa no Maracanã

O cheiro do teu cu amanhecido
mais suave que um pássaro de Niemeyer
é mais gostoso que cuscuz com mel
pamonha doce e creme de cupu

O cheiro do teu cu amanhecido
é mais barroco que os profetas de Congonhas
mais modernista que o Abaporu
e mais pós-tudo que o luxo do lixo

O cheiro do teu cu amanhecido
vem de uma página do Rubaiyat
tem o tanino dos melhores tintos
com notas de alcaçuz e framboesa

O cheiro do teu cu amanhecido
é muito muito mais do que qualquer engenho
em que a métrica se perca nas sinestesias
e o desconcerto do poema se desvele

O cheiro do teu cu amanhecido
tem ânsias de infinito e partes com o eterno
é meu muiraquitã minha uiara
é minha metafísica meu nada

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Homem maduro

Cacilda Barbosa



Como eu te amo, homem
nos poucos cabelos
que o tempo te deixou
no sorriso bonito que a juventude
em ti regravou.

Homem, eu te amo tanto
quando toco teu corpo maduro
vejo o brilho em teus olhos
já um tanto apagado
me afogo em carícias
no peito cheiroso, de branco mesclado.

Sinto pecado ao olhar teu andar
majestoso e macio, de gato cansado.
As mãos ágeis buscando recantos
tirando poesia, música louca
de meus encantos.
No gozo alucinado, no abraço sensual
no urro conjunto saindo de nosso peito
no perfume molhado que deixas em meus pelos
em teu sexo que o tempo
fez mais que perfeito.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O meu amor

Chico Buarque




O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh’alma se sentir beijada

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos
Lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca
Com a barba mal feita
E de pousar as coxas
Entre as minhas coxas
Quando ele se deita

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo
Fosse a sua casa

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Círculo vicioso

Marco Catalão




No ônibus cheio, a diarista reclamava:
– Quem dera a minha vida fosse mansa e boa,
com carrão e piscina, como a da patroa!
Mas a patroa dizia ao marido, brava:

– Não fosse o nosso filho, eu bem que te largava,
e ia viver igual à tua amante, à toa,
sem dívida que vence, sem cheque que voa!
Mas a amante, sem conseguir dormir, sonhava:

“Ah, se eu tivesse sido menos azarada,
já estava no apogeu da carreira de artista!”.
Mas a artista, no quinto café, entediada

enquanto concedia a décima entrevista,
num momento de lucidez inusitada,
pensava: “Foda mesmo era ser diarista!”

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

De que valeu-me ser tua cadela

Samantha Rios



De que valeu-me ser tua cadela,
Ser tua fêmea, estar sempre no cio,
Ter da volúpia um caudaloso rio
Ser tua égua atrelada numa sela?

De que valeu-me abrir minha cancela,
Da vergonha perder o íntegro brio,
Atender teu chamado de assobio,
Ter minha vida à tua paralela?

De que valeu-me a anulação completa
De taras, de vontades, de desejos,
E uma vida levar toda incorreta,

Se teu amor não foi mais que lampejos,
E se tinhas apenas como meta
Matar a tua fome com meus beijos?

Voyeurs desde o Natal de 2009