(para Angélica de Lis, doce memória)
A primeira vez que nos amamos
senti vibrar teu corpo de alegria
apesar de uma lágrima furtiva
e do teu rosto contraído
numa singela expressão de dor.
A primeira vez que nos amamos
havia música barroca no ar
pontuando a estranha melancolia
e a fortuita liberdade
que nem tu nem eu sabíamos explicar.
A primeira vez que nos amamos
e que nossos corpos se envolveram com paixão
nem a dor nem o sangue ou o suor
macularam a inocência de um encontro
forjado pela febre do desejo mútuo.
A primeira vez que nos amamos
havia pássaros nos laranjais
trilando melodias merencórias
um tom acima do coro de anjos
que em nossa cela nos abençoava.
A primeira vez que nos amamos
um poema em teu corpo eu tatuei
com minhas mãos meus lábios e meu sexo
e te amei como nunca amei ninguém
e tu me amaste como Eva amou Adão.