Amigos da Alcova

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Romance do Banho


Elson Farias

                             

 

Era morena tostada,
forte, esbelta como um cão,
os cabelos eram claros
de saboroso castanho;
longas tiras escorriam
na costa vincada  em curvas
– eram cobras encravadas
no dorso de uma raiz;
o calcanhar era firme,
seu andar arroliçado,
as ilhargas mal roçavam
nas pregas da saia fina.

                *

Fendeu-se o cerrado verde
de patativas e anus,
filhos de caba, sol quente,
ventos gerais, água e mel;
ela vinha   – balde, cuia,
dentes expostos, carnudos
os lábios, flor de papoula
a cantar e a se despir.

                 *

Ela vinha, mas menino
balador de passarinhos,
não sabia descobri-la;
pressentia apenas vagos
sons das patas elegantes
dos poldros do meu instinto,
rachando cones de pedra
no meu raciocínio mole.

                  *

Ela esfalfou-se nas águas,
misturou-se com os peixes,
camarões a beliscaram,
escamas, pés, gumes virgens;
o relampejo das palmas
como línguas de uma faca;
a sombra escura no fundo,
as coxas alvas e turvas;
peixes, menina de banho,
anáguas brancas ao sol.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Três beldades me escolheram


Rufino (século II?)



Três beldades me escolheram para julgar-lhes as nádegas


a mim mostradas no esplendor da nudez.


As de uma, florescendo em alvuras veludosas, estavam


marcadas ambas por covinhas graciosas;


a nívea carne das de outra, a de pernas abertas, tinha


rubor mais forte que a púrpura da rosa;


as da terceira, calmaria sulcada de ondas mudas,


palpitavam suaves ao seu próprio impulso.


Se o juiz das deusas, Páris, tivesse visto estas nádegas,


não quereria saber de mais nenhuma.

 

 

(Trad. José Paulo Paes da Antologia Grega).

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