Amigos da Alcova

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sonetos Luxuriosos – 5

Aretino (1492-1556)



Põe-me um dedo no cu, velho pimpão,
Mete-lhe dentro o pau, mas sem afogo;
Levanta bem a perna, faz bom jogo,
Depois mexe, mas sem repetição.

Por minha fé, isto é melhor ração
Do que pão com alho e óleo junto ao fogo;
Se a cona te desgosta, muda logo.
Há homem que não seja um mau vilão?

Na cona hei de foder-te boa data
De vezes, pois em cona ou cu entrando,
O pau faz-me feliz e a ti beata.

Quem quer ser mestre é louco e é tolo quando
Por alheios prazeres malbarata
O tempo em que devia estar trepando.

                            Pois finda-te, esperando
Num palácio, que o tal morra, senhor
Cortesão, que eu sacio meu ardor.


(Trad. José Paulo Paes)

domingo, 27 de junho de 2010

Cantata

Nei Leandro de Castro


Farei tudo que você quiser.
Serei palhaço, ladrão de mulher,
encantador de serpentes,
travesti: usarei tua calcinha e sutiã
para te ver rasgá-los com violência
e violentar-me numa suave manhã.
Serei besta, sodomita, uma fera
selvagem, em urros e pinotes
com os quadris lanhados de chicote.
Terno, dócil, cordeiro de Deus,
lamberei todos os teus pecados:
o feno e a palha dos teus pentelhos,
a fonte de sal dos teus sovacos,
o cheiro de curral amanhecido do teu sexo,
o poço profundo do teu ânus, agnus serei.
E serei fauno com flauta mágica,
vibrador, punho cerrado, pênis,
dedos da mão, dedos dos pés, língua ouriçada
pra não te deixar um só minuto descansada.
Demônio, Satanás, Lúcifer, Belzebu,
te farei anjo sob todas as tentações
de te entregares todinha, mesmo o cu
que talvez queiras preservar para a eternidade.
A minha língua serão duas, dez, cem
para entrar, serpente, beija-flor, em todos
os orifícios que o teu corpo contém. Alicate
de torturador, os meus dedos
vão arrancar teu gozo, confissões,
gritos de dor e de prazer: – Me mate!
Vou cavalgar a tua bunda e o teu ventre
e tu também cavalgarás em mim, sem fim,
égua no cio, cavalo, ginete, centauro,
seremos dois perseguindo a mesma caça:
o estertor do gozo, a explosão da graça
de foder com luxúria e com a amor.
Vem. Farei tudo o que você quiser,
seja o que for.

terça-feira, 22 de junho de 2010

o corpo do meu amor

Zemaria Pinto



o corpo do meu amor
é o templo do meu desvelo
minha alvorada, meu sol
crepúsculo plenilúnio
coivara do meu enredo
uirapuru ararinha
água corrente lagoa
perau sem fim nem começo
ai que eu me morro de amor
no corpo do meu amor

os olhos do meu amor
são dois pássaros ariscos
são dois pássaros noturnos
são dois cometas errantes
são a luz do meu caminho
os olhos do meu amor

a boca do meu amor
tem a língua mais gostosa
que a minha boca beijou
tem palavras amorosas
tem um hálito de rosas
a boca do meu amor

são as mãos do meu amor
guarida do meu afeto
alívio do meu desejo
selo da minha alegria
estrelas do meu destino
são as mãos do meu amor

são os pés do meu amor
um cofre moldado em vento
onde súdito me curvo
e guardo beijos diários
dois felinos peregrinos
são os pés do meu amor

as costas do meu amor
têm das flores o frescor
das plumas a maciez
e após as lutas do amor
quedam-se em banhos de orvalho
as costas do meu amor

os seios do meu amor
são duas ilhas encantadas
onde repouso das lutas
do banal cotidiano
são fontes de vinho e mel
os seios do meu amor

as coxas do meu amor
são como dois monumentos
sobre os quais se equilibram
os mistérios da existência
são o portal do paraíso
as coxas do meu amor

a bunda do meu amor
é nave dos meus delírios
e cais da minha agonia
é refúgio e é degredo
dos meus sonhos, dos meus medos
a bunda do meu amor

a boceta do meu amor
me deixa a métrica torta
entorpece-me, extasia-me
levita-me em sua glória
hosana-me nas alturas
a boceta do meu amor

o corpo do meu amor
é uma extensão do meu corpo
vibrando ao mínimo gesto
das minhas mãos, dos meus dedos
da minha língua, meu sexo
meus nervos em combustão
abismo dos meus gemidos
repouso dos meus sentidos
ai que eu me morro de amor
no corpo do meu amor

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sonhando com meu homem

Angelica de Lis (1984-2009)



Hoje eu acordei toda molhada
sonhei que te comia
sonhei que me enrabavas
trepávamos por toda a noite
até nascer o dia.

No sonho eu te chupava e te engolia
e a minha boca transbordava
e eu me lambuzava
feito louca.

Depois me penetravas
uma força descomunal
cavalgando meus sentidos
subjugando meu corpo submetido.

Eu gritava dor e gozo
gozo dorido dor gozoza
égua no cio endoidecida
fodendo e sendo fodida...

Acordei passando mal
extenuada
de tanto foder teu pau.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A Chapéu

Hilda Hilst (1930-2004)



Leocádia era sábia.
Sua neta “Chapéu”
De vermelho só tinha a gruta
E um certo mel na língua suja.
Sai bruaca
Da tua toca imunda! (dizia-lhe a neta)
Aí vem Lobão!
Prepara-lhe confeitos
Carnes, esqueletos
Pois bem sabes
Que a bichona peluda
É o nosso ganha-pão.
A velha Leocádia estremunhada
Respondia à neta:
Ando cansada de ser explorada
Pois da última vez
Lobão deu pra três
E eu não recebi o meu quinhão!
E tu, e tu Chapéu, minha nega
Não fazendo nada
Com essa choca preta.
Preta de choca, nona,
Mas irmã do capeta.
Lobão: Que discussões estéreis
Que azáfama de línguas!
A manhã está clara e tão bonita!
Voejam andorinhas
Não vedes?
Tragam-me carnes, cordeiros,
Salsas verdes.
E por que tens, ó velha,
Os dentes agrandados?
Pareces de mim um arremedo!
Às vezes te miro
E sinto que tens um nabo
Perfeito pro meu buraco.
AAAAIII! Grita Chapéu.
Num átimo percebo tudo!
Enganaram-me! Vó Leocádia
E Lobão
Fornicam desde sempre
Atrás do meu fogão!

Moral da estória:
Um id oculto mascara o seu produto.

domingo, 13 de junho de 2010

Paraíso

Astrid Cabral


Aqui, esquecidos do mítico
fundamos o real paraíso
quando o calor de nosso corpo
desafia os ventos do inverno
e as árvores do éden perto
súbito são porta fechada
cúmplice cama, cadeira
onde pousam peles pijamas.
Aqui, pelados bichos de pelo
cavalgamos léguas cavalo égua
por entre flores de algodão
encantadas vivas na relva
dos lençóis sobre o colchão.
Aqui, implumes aves voando
roubando maçãs proibidas
no próximo pomar terrestre
onde repastamos a fome
que até tarde da noite arde
na fonte do prazer jorrando
das entranhas da carne.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Videotape

Eliane Stoducto (?-2007)




Ai quem me dera que o fogo das paixões
de novo me tomasse por inteiro,
incendiada, no calor da discussão,
atiraria em você algum cinzeiro
(e botaria você) da porta a fora
jurando não querer ver sua cara,
nem ter seu corpo nunca mais, nem nada, nada!
Você iria embora e eu choraria
tal e qual uma criança desgraçada.
Para esquecer eu tomaria vinte uísques
e cairia, no sofá, já desmaiada.
Quando acordasse, abandonada e de ressaca,
me sentiria doente e mal-amada
pois te queria ao meu lado, me cuidando,
me dando um sonrisal e uma trepada...
E aí me sentiria, como se estivesse,
num pronto socorro da Zona Oeste:
com frio, triste e desamparada.
Fecharia os olhos e pediria
a Deus para levar a minha alma...
Depois de dias de desespero
chegaria a conclusão de que você era o meu tempero
e então faria planos para te reconquistar,
mas você me ligaria antes de eu telefonar.
Com o coração aos pulos eu diria, calmamente,
que a gente precisava conversar.
Você concordaria e marcaríamos dia, hora e lugar...
E eu botaria a minha roupa mais gostosa
fingindo ser a coisa mais banal e você,
com sua camisa mais charmosa,
fingiria não notar.
No bar concluiríamos que não dava:
eu não gostava de você, mas te amava.
Você não me amava, mas gostava.
Era urgente que acabássemos com toda aquela loucura passional.
Como adultos de bom-tom brindaríamos à separação
com vinho e algumas lágrimas disfarçadas.
Você me levaria para casa e, depois do longo abraço de adeus
você estaria teso e eu molhada, prontos a repetirmos
a nossa estranha jornada.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Nobre

Paulo Franchetti



Minha santa ovelhinha, que saudade
Eu tenho dos passeios pelo monte!
Do teu gesto e do olhar de piedade,
No esquecido caminho sob a ponte!

Ias balindo, em toda a puridade,
Houvesse sol ou nuvens no horizonte,
Sempre tão doce, sem qualquer maldade,
Pastando a erva e bebendo à fonte!

E quando o sol descia, ao fim do dia,
Já no local vezeiro me buscavas,
E quietinha de mim te aproximavas!

Como me lembra, boa criatura:
Quando te enfiava a minha pica dura,
Nem berravas, e tanto te doía!

domingo, 6 de junho de 2010

Metamorfose

Simão Pessoa



Ao amanhecer, sou bicho-preguiça

lá pelas dez horas, estou quase burro

chega o meio-dia, sou hiena histérica

e às seis da tarde, um taciturno urso

oito horas em ponto, sou macaco prego

meia-noite, estou mais pra gambá

já de madrugada, cego sou morcego

mas me faço fauno para te trepar

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O urubu

Eduardo Kac


                                                                                                                        muito baseado
                                                                                                                        num POEma de Edgar Allan



eu tocava punheta quando apareceu

um urubu doidão torcendo a maçaneta

agarrou a minha bunda e dizia: “nu cu mais”

“nu cu mais” e a dor era profunda

tanto q de longe se ouviam “ais”

debruçado no meu cu ficou o urubu baco

dizendo a todo instante “nu cu mais, nu cu mais”

tanto meu encheu o saco q um dia

o peguei por trás e ele pedia q eu botasse

uma vez amais nunca era demais

depois daquela alegria começamos uma orgia

q não acabou jamais hoje somos

eu e o urubu o mais feliz dos casais

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Intervalo

Denise Teixeira Viana



nossos corpos perplexos
                               complexos
de nexos e infecções

nossos anexos
esgotados úmidos abismados
de gozo e cio

sob esta sonolência
enxoval avental carências afins
te machucar de alfinetes
vigas patins

                     (intervalo)

ah que bom
tá tão gostoso
ai ai ai ai
ai amor
delícia
ai ai
tesudo
ai
te amo tanto
desce desce amor
me culpa me chupa com pressa
(nesta remessa de saliva compressas gengivas)
não para
estou gozando
ai amor ai ai
ai

                     (intervalo)

toda a maravilhosa sensação
de braços abraços pentelhos
riscando o espelho

toda a maravilhosa loucura
de dedos nervos glande
cobrindo meu útero

todo o maravilhoso silêncio
do teu silêncio
buscando meus seios

Voyeurs desde o Natal de 2009