Amigos da Alcova

sábado, 22 de abril de 2017

Boceta



Arnaldo Antunes


da entrada à entranha
dessa eterna
morada
da morte diária
molhada
de mim
desde dentro
o tempo
acaba

entre lábio e lábio
de mucosa rósea
que abro
e me abra
ça a cabe
ça o tronco
o membro
acaba
o tempo

domingo, 2 de abril de 2017

Poema da carne


Wenceslau de Queiroz (1865-1921)


Da carne rosada e branca
Do teu corpo primoroso
O prazer férvido arranca
Os arrepios do gozo...

Como um par de negras cobras,
Lambem-te o dorso umas tranças,
Que há muito tempo em mil dobras
Prenderam-me as esperanças.

Tuas cálidas narinas
Arfam – quando, ardente e louca,
Como folhas de cravinas,
Rolam-te os beijos da boca...

Latejam-te as fontes; todo
O delírio que tu sentes
Aflora de estranho modo
À luz de teus olhos crentes.

A sensação mais fugaz
Perfuma-te as róseas pomas,
Como se alguém destampasse
Um frasco cheio de aromas.

Tua pele povoada
De inumeráveis desejos
Treme e retrai-se irritada
À atroz pressão de meus beijos.

Quebra-te a voz na garganta
A titilação nervosa,
Que excita, que te quebranta
O corpo, Laís formosa.

Teus braços como cadeias
Cingem-me sempre... os sentidos
Imperam sobre as ideias,
Como um rei sobre os vencidos.


Voyeurs desde o Natal de 2009