Zemaria Pinto
Marcial – Na língua de Catulo, outros poetas mantiveram acesa a chama do lirismo que vê além das pequenas grandes dores individuais, rindo-se de si mesmos ou tematizando o amor e o erotismo muito além do permitido pela moral vigente: o elegíaco Propércio, o decadente e censurado Ovídio e o epigramático Marcial sobreviveram a dois mil anos de guerras, revoluções, flagelos e boleros. Marcial, tendo vivido no primeiro século da era cristã, é o grande cronista daquela época, com seu estilo conciso e alegre:
Afra tem amas e amos – mas é ela
a maior mama entre amos e mucamas. (8)
Corre o rumor,Chione: nunca foste fodida,
e nada mais puro existe que tua cona.
Nessa parte (por vestes velada) nem te lavas.
Se é pudor, desnuda a cona e vela a face. (9)
A Faixa Peitoral
Comprime, de minha amante, os dois seios em botão
para que caibam sempre no oco de minha mão. (10)
Mas se o título deste artigo fala em dois mil anos de poesia, e até agora mal chegamos a cem, demos um salto no tempo e no espaço, e observemos a lírica escrachada da última flor do Lácio. O que quer, o que pode esta língua?
Traduções:
(8), (9): Luiz António de Figueiredo e Ênio Aloísio Fonda
(10): José Paulo Paes
(8), (9): Luiz António de Figueiredo e Ênio Aloísio Fonda
(10): José Paulo Paes