Amigos da Alcova

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

De Catulo a Simão Pessoa – dois mil anos de poesia e escracho 2/5


Zemaria Pinto


Marcial – Na língua de Catulo, outros poetas mantiveram acesa a chama do lirismo que vê além das pequenas grandes dores individuais, rindo-se de si mesmos ou tematizando o amor e o erotismo muito além do permitido pela moral vigente: o elegíaco Propércio, o decadente e censurado Ovídio e o epigramático Marcial sobreviveram a dois mil anos de guerras, revoluções, flagelos e boleros. Marcial, tendo vivido no primeiro século da era cristã, é o grande cronista daquela época, com seu estilo conciso e alegre:

                       Afra tem amas e amos – mas é ela
                       a maior mama entre amos e mucamas.                                                                           (8)

                       Corre o rumor,Chione: nunca foste fodida,
                       e nada mais puro existe que tua cona.
                       Nessa parte (por vestes velada) nem te lavas.
                       Se é pudor, desnuda a cona e vela a face.                                                                       (9)

                       A Faixa Peitoral

                       Comprime, de minha amante, os dois seios em botão
                       para que caibam sempre no oco de minha mão.                                                            (10)

Mas se o título deste artigo fala em dois mil anos de poesia, e até agora mal chegamos a cem, demos um salto no tempo e no espaço, e observemos a lírica escrachada da última flor do Lácio. O que quer, o que pode esta língua?


Traduções:
(8), (9): Luiz António de Figueiredo e Ênio Aloísio Fonda
(10): José Paulo Paes

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