Amigos da Alcova

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A história de Loirinha 2

Marco Adolfs


Loirinha de repente ficou séria; puxou um cigarro da carteira e o acendeu. Por um momento o seu rosto ficou encoberto por uma fumaça que subia lenta proporcionando-lhe um ar severo.

– Posso começar? – perguntei um pouco apreensivo e agitado.

– Hum, hum – concordou Loirinha. – Quer tomar alguma coisa? – perguntou-me.

– Uma cuba-libre – pedi.

Dito isso, ela levantou-se; foi até o frigobar; tirou uma lata de Coca-cola; uma garrafa de rum e pegou um copo que estava por perto. Começou a misturar as bebidas. Nesse momento pude notar então e melhor que o seu corpo ainda permanecia inteiro. Suas curvas de antes ainda estavam lá. É certo que havia criado um pouco de barriga, mas suas nádegas e pernas ainda podiam atrair olhares.

Voltou trazendo o copo com o drink. Minha bebida preferida.

– Posso começar então? – perguntei mais uma vez.

– Pode – respondeu, sentando a meu lado.

Liguei então o gravador e puxei o meu bloco de anotações do bolso. Minhas mãos estavam suadas e senti um pouco de constrangimento por tudo aquilo que eu iniciava.

– Me fale de como tudo começou? – perguntei.

Este meu trabalho jornalístico começara então dessa forma. Com a vida de Loirinha sendo relembrada através de perguntas pertinentes para a elaboração de uma narrativa. Uma narrativa sobre a vida de uma ex-prostituta. Pois essa fora a vida de Loirinha no passado, e que a levara até ali. Um caminho de pedras enfrentado com muita coragem. E era isso tudo o que eu pretendia relatar. Ou pelo menos quase tudo. Mas para corroborar, nesta reportagem-livro, a sua vida de prostituta, eu resolvera também entrevistar outras, podemos dizer assim, “loirinhas”. Estranhas e verdadeiras histórias de vida que poderiam gerar, talvez, outros livros.

Como o caso da prostituta Kátia, que entrevistei uma noite, após chamá-la através de um anúncio nos classificados de jornal. Kátia não é o seu nome verdadeiro. Era apenas o seu “nome de guerra”, que adotara para trabalhar como prostituta. Tinha vinte e quatro anos e era universitária. Vendia o seu corpo em troca de dinheiro para poder pagar os estudos de enfermagem. Estudos e vida bancados pela necessidade que os homens têm de “meter e gozar”. Uma vez ela deu para três homens. Eles fizeram com ela tudo o que desejaram. Ao final, ainda se masturbaram e despejaram seus sêmens em seu corpo estendido na areia de uma praia deserta. E ela precisava passar por isso. Pedia por isso. E, de vez em quando, chorava por isso. Geralmente se encontrava bêbada nessas horas. Mas no outro dia sentava-se na primeira fileira de cadeiras da faculdade e escutava, com muita atenção, as aulas do curso superior de enfermagem. “Um dia – ela me contou – cuidaria dos corpos dos homens de outra maneira”.

Mas..., conheci Loirinha quando ela começou a trabalhar na prostituição de luxo. Naquele tempo sua carne era nova, quente e tenra. Era uma mulher que aprendera a viver a vida de prostituta com toda a exuberância possível.

(Continua na próxima semana...)

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