Amigos da Alcova

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Da prisão

Adrienne Rich



Sob minhas pálpebras outro olho se abriu
e olha cruamente
a luz

que penetra vindo do mundo da dor
mesmo enquanto durmo
 
Fixamente ele encara
tudo que eu enfrento
 
e mais
 
ele vê os cassetetes e as coronhas
levantando e baixando
ele vê
 
o detalhe que a TV não mostra
 
os dedos da polícia feminina
esquadrinhando a boceta da jovem prostituta
ele vê
 
as baratas caindo dentro da panela
onde preparam carne de porco
no presídio
 
ele vê
a violência
encravada no silêncio
 
Este olho
não é para chorar,
sua visão
deve ser nítida
 
apesar das lágrimas em meu rosto
 
seu objetivo é a lucidez
nada deve ser esquecido


(Trad. Olga Savary)

Voyeurs desde o Natal de 2009