Marco Adolfs
Nesse dia em que Loirinha começou a me relatar essa parte de sua vida eu estava em seu apartamento. Era um sábado e ela havia me convidado para passar o dia com ela. Disse que eu poderia continuar a minha entrevista comendo uma boa bacalhoada preparada por ela mesma e sorvendo um bom vinho branco de Portugal. Enquanto eu organizava as minhas anotações, Loirinha saiu da sala dizendo que iria tomar um banho. Fiquei ali, envolvido por mil pensamentos. Como ela sabia que eu gostava de um bom charuto, deu-me um de presente para que eu aproveitasse enquanto tomava o seu banho. Agradeci, acendi e levantei para ir até a varanda e olhar a paisagem lá fora. Por sinal, muito bonita. O tempo passou um pouco mais, quando ela então reapareceu, convidando-me para o almoço. Deixei o charuto de lado e preparei-me para abrir o vinho. Loirinha estava esplendorosa em um longo vestido azul.
...Os dois já haviam rodado bastante pela estrada, quando finalmente chegaram a uma cidadezinha perdida. Dessas que pululam pelo o interior do país em suas solidões quase absurdas. O caminhão entrou meio trôpego por aquelas ruas de pedras. Loirinha observava a cidade com um misto de curiosidade e tédio. Não havia quase ninguém nas ruas àquela hora. E com aquele frio que fazia... Quando o caminhoneiro se aproximou de uma igrejinha, freou.
– Salta do caminhão, sua vagabunda! – disse rispidamente, empurrando Loirinha.
– Que é isso!? – Loirinha tentou perguntar.
– Vamos! Anda! Pula! Cai fora!
Loirinha assustou-se com aquilo.
– É isso mesmo que você entendeu! – afirmou o caminhoneiro. Procure dar um jeito de sair, pois comigo você não vai mais.
Por um momento, Loirinha não soube o que fazer e dizer, embora compreendesse que aquele homem a despachava de uma maneira estúpida e inesperada. Loirinha pegou então a sua mochila de roupas e, antes de sair, mandou-o tomar no cu. Sentia muita raiva, mas daria um jeito.
Assim que ela saiu, o caminhão partiu veloz.
Loirinha olhou em volta e só viu a igreja com a porta semiaberta. Resolveu que entraria ali para se proteger do frio. Sentia-se muito mal com tudo aquilo e, por uns momentos, ela acreditou que sentiria um pouco de paz e conforto.
(Continua na próxima semana...)