Amigos da Alcova

terça-feira, 30 de março de 2010

Aos negreiros

Francisco Moniz Barreto (1804-1868)




Quem diz que não fode negras,
Que a elas tem aversão,
E, quando as vê, faz carrancas,
Ou quer enganar as brancas,
Ou mente, ou não tem tesão.

Negra, crioula, ou da Costa,
É sultana de Guiné;
Seio duro, bunda chata,
Rivaliza com a mulata
A pôr o caralho em pé.

Creme – é da mesa de Vênus
Alva ou morena iaiá;
A mulata é a empada;
A negra é a feijoada
Co’a branca pinga de cá.

Fascina-me a cor de neve,
A mim que sou trovador;
Queima-me a cor de canela;
Em cútis macia e bela
Do ébano arreita-me a cor.

Quem bebe cachaça, e negras
Beija, vergonha não tem:
Dizia-se antigamente:
Hoje de negra e aguardente
Gosta todo homem de bem.

E sempre de ambas gostaram
Pequenos e figurões;
Hoje as saias mais convidam
Aos que, com razão, duvidam
Dos impostores balões.

Ide avante, meus negreiros!
De amar negras não vai mal;
Para o caralho com fome
Tudo é carne; e melhor come
Do que gosta, cada qual.

Finos, compridos cabelos,
Faces de neve e carmim,
Mãos de açucenas, mimosas,
Grossas colunas formosas
De alabastro ou de marfim;

Isso lá – é papa fina;
Tem o primeiro lugar;
Mas, pra fodas d’empreitada,
Negra bonita, asseada,
Não se pode dispensar.

Cono – fresco, como alface,
Tem a crioula gentil,
E mais ainda a africana,
Trazida, por mão tirana,
Cativa – para o Brasil.

Que menos gálico a negra
Tem – a ciência nos diz;
Dela moído no caco,
É mais sadio o tabaco,
Debaixo para o nariz.

É fazenda mais barata,
Quando se expõe a granel;
O que for pobre, ou forreta,
Exercer em tela preta
Deve de carne o pincel.

Oh que bela pincelada
Numa crioula se dá!...
Quantas, na idade de fogo,
Durante o marvócio jogo,
Não dei no meu Pirajá!...

Convém, pois, brancas, mulatas,
Crioulas, todas foder;
Brancas, para poetar-se;
Mulatas, para gozar-se;
Crioulas, para viver.

Negreiros da minha terra,
Eis a minha opinião:
Quem diz que negras não fode,
Num encontro, ou num pagode,
Ou mente, ou não tem tesão.


Nota do autor sobre o título “Aos negreiros”: Aos que fornicam, e gostam de fornicar negras; e não aos ímpios que traficam carne humana, de pele preta, assim também denominados; que com estes, pela abominação que lhes voto, não quererei eu palestras jamais.

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