Amigos da Alcova

segunda-feira, 15 de março de 2010

Soneto XXV

Antônio Lobo de Carvalho (1730-1787)

Ao João Xavier de Matos, namorando por grosso e miúdo quantas mulheres há em Lisboa.




Apenas vê deixada da costura
Por trás da adufa a tímida donzela,
Como um raio, João, com os olhos nela
Lhe encampas reverente urna mesura:

Safa-se a moça, e o pai que por ventura
Vem chamar o aguadeiro da janela,
Repara então que a filha se acautela
Dessa tua cismática ternura.

Por amante basbaque a bom capricho
Te aponta ao dedo o ginja furibundo,
Se é que pronta não tem a pá do lixo:

Casa-te, amigo meu, e logra o mundo;
Que é descanso maior ser corno fixo,
Do que andar putanheiro vagabundo.

Voyeurs desde o Natal de 2009