Múcio Teixeira (1857-1928)
Foder é lei humana, e lei divina;
E por divina ser, – é lei eterna!
Fode o homem no lar, ou na campina,
Fode o bruto no ermo, ou na caverna.
Fodem no ar os pássaros, voando,
Fodem no mar os peixes flutuantes...
Fode o leão feroz, rendido e brando
Às carícias das fêmeas palpitantes!
Fodem também as árvores e as flores,
Os próprios minerais: cristal ou aço;
A terra é um grande tálamo de amores,
Cada raio do sol – tira um cabaço!
Numa fornicação de labaredas
Esporram-se os vulcões, pelas crateras;
As próprias deusas dos sombrios Vedas
Fodiam, a rosnar, como panteras.
Mas nem vulcões, nem deusas, nem aquilo
Que mais tenha fodido a toda hora,
Sabem foder melhor que o crocodilo,
Segundo a opinião de uma senhora.
Aquilo é só zás-trás, nó cego, e pronto,
“Veio-se” na primeira espetadela;
E é mais outra, outra mais... qual! Nem eu conto
O número de tanta esporradela...
Pode mais que qualquer moça solteira
Quando nos mete em casa, às escondidas,
Para passar metendo a noite inteira,
Mais assanhadas quanto mais fodidas!
Nem Safo, com as moças mais safadas
De Lesbos, se esfalfando em roçadinhos,
Para melhor sentir as caralhadas
De Faon, um Martinho entre os Murtinhos!
Ninguém, a não ser tu, minha inocente
E casta diva, ó quente bela dona!
Ninguém é no foder mais excelente,
Para quem cono e cu é tudo cona!...
Para quem cono e cu, e peito e boca,
Dedos de pé e mão, coxa e sovaco.
Tudo serve de vulva, quando louca
Lambes as minhas bolas e o meu taco...
O taco empunhas, sacudindo as bolas,
No bilhar do teu corpo, que estremece
Nesse carambolar em que tu rolas,
Enquanto meu caralho engorda e cresce!
Nessas partidas, que tão bem jogamos,
Ninguém sabe tirar melhor partido;
Vão lá saber quem perde, se ganhamos
Num perde-ganha por ninguém perdido...
Nem Romeu na janela de Julieta,
Que lhe passava a mão no pendrucalho,
Fazendo-lhe medrosa uma punheta,
Com vergonha de olhar para o caralho...
Nem Fausto, no jardim de Margarida,
Que por sinal era o jardim de Marta,
– Aquela alcoviteira mais fodida
Que das mais velhas putas a mais farta;
Que Mefistófeles encontrou a dedo
Para vencer o seu rival eterno,
Lançando a alma do doutor, mais cedo,
Graças a ela, nos fogões do inferno...
Nem Peri, com Ceci, quando lhe disse
Que era capaz de ir-lhe buscar a lua,
Quando, por fim de contas, tal pieguice
Era um pretexto para vê-la nua.
Ou só de tanga, como a que ele usava,
Para em seguida desatar-lhe a tanga;
Que o galo, no terreiro onde cantava,
Bem via nela apetitosa franga...
Nem Ofélia, boiando na corrente,
Mais livre assim que dentro do convento
Onde quis ver o príncipe demente,
Que andava a dar na fina, ao sol e ao vento...
Nem Desdêmona, aos golpes do cutelo,
Estrebuchando mais que numa foda,
Vítima imbele do tesão de Otelo,
Cujo ciúme já passou de moda...
Nem Susana, a viúva inconsolável
Do velho Pedro Álvares Cabral.
Ninguém resiste à lei incomparável,
Que é lei eterna – e lei universal!