Millôr Fernandes (1923-2012)
Eu
sou do tempo em que a mulher
Mostrar
o tornozelo
Era
um apelo!
Depois,
já rapazinho, vi as primeiras pernas
De
mulher
Sem
saia;
Mas
foi na praia!
A
moda avança
A
saia sobe mais
Mostra
os joelhos
Infernais!
As
fazendas
Com
os anos
Se
fazem mais leves
E
surgem figurinhas
Em
roupas transparentes
Pelas
ruas:
Quase
nuas.
E
a mania do esporte
Trouxe
o short.
O
short amigo
Que
trouxe consigo
O
maiô de duas peças.
E
logo, de audácia em audácia,
A
natureza ganhando terreno
Sugeriu
o biquíni,
O
maiô de pequeno ficando mais pequeno
Não
se sabendo mais
Até
onde um corpo branco
Pode
ficar moreno.
Deus,
A
graça é imerecida,
Mas
dai-me ainda
Uns
aninhos de vida!