Simão Pessoa
Diferente do seio, a bunda
Possui uma função distinta:
Na bunda, a gente lambuza,
No seio, a gente bolina.
Na bunda, um riacho fundo
Corta seu duplo hemisfério:
No seio seu duplo ornamento
É bússola de curso aéreo.
Também há na gótica catedral
Em que a bunda se camufla
Uma auréola como a do seio
Mas de finalidade bem outra.
Enquanto a auréola do seio
Parece extensão do bico,
A auréola da bunda prefere
Sombrear certo orifício.
E é nesse duto intestino,
Da casa grande, a senzala,
Que o macho se queda aflito
Por enfiar-lhe a espada.
Mas se a função principal
Do duto não é receber
Por que diabos insistimos
Em nesse poço descer?
Quem foi criança se lembra
Das brincadeiras com fezes:
Adulto, aperfeiçoamos o jogo.
(Ou assim é se lhe parece.)
Trampolim do felizardo
Que no poço se projeta,
Nos dois cálices da bunda
Está o caminho das pedras
Quanto mais fornida for
Mais a bunda é desejada:
Só precisa estar tinindo
Quem pretende penetrá-la.
As medianas são melhores
E pelas curvas se conhece:
Qualquer pau pode dar conta
Sem precisar pintar o sete.
De bom tom são as pequenas
Mas que sejam expressivas:
Não basta ter um buraco
Por onde entre uma pica.
Na falsa magra, entretanto,
O equilíbrio está no jeito:
Quando montada, sua bunda
Tem um encaixe perfeito.
Há ainda as bundas magras
De uma magreza de doer:
Por serem pouco cantadas
São as mais fáceis de comer.
E toda mulher dá a bunda
Sem que perca sua honra:
Basta o sujeito insistir
E prometer que não conta.