Amigos da Alcova

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Primeira canção à bunda

Nei Leandro de Castro


Mundo dividido
em dois hemisférios, mundo
cortado por um suave regato
e um poço profundo.
Animal semovente
animalzinho
que se arrepia
ao menor carinho.
Cálice redondo, invertido
embalado nas sedas
do vestido.
Todas as bundas:
a da Raimunda,
a feia feliz
que só precisa de plástica
no queixo e no nariz.
A bunda de estrias
da maternidade
que desdobrou fibra por fibra
em tenra idade.
Vê:
a bundinha marcada
pela branca cicatriz
em V
da tanguinha de nada,
virando-se ao sol
como um comestível girassol.
Bunda achatada, tristebunda,
nas cadeiras da burocracia
que jamais terá aumento:
bunda mais-valia.
Bumbum da secretária
particular
que faz o executivo
ejacular.
Bunda fabricada
de silicone
do andrógino que uiva
insone, à procura
do fuzileiro naval
que tem maus modos
mas não faz mal.
Bunda mulata, abundante
orgulho de qualquer amante.
Bunda incrível, mágica
irreal, cheia de arte,
que faz o velho sátiro
morrer de enfarte.
Bunda negra, negritude,
de ébano, dura,
natureza viva
sob a negra moldura.

Bunda, glútea redoma
que guarda todo o fogo
de Sodoma.

Voyeurs desde o Natal de 2009