Bernardo Guimarães (1825-1884)
Que tens, caralho, que pesar te oprime
Que assim te vejo murcho e cabisbaixo,
Sumido entre essa imensa pentelheira,
Mole, caindo pela perna abaixo?
Nessa postura merencória e triste,
Para trás tanto vergas o focinho,
Que cuido vais beijar, lá no traseiro,
Teu sórdido vizinho!
Que é feito desses tempos gloriosos
Em que erguias as guelras inflamadas,
Na barriga me dando de contínuo
Tremendas cabeçadas?
Qual hidra furiosa, o colo alçando,
Co’a sanguinosa crista açoita os mares,
E sustos derramando
Por terras e por mares,
Aqui e além atira mortais botes,
Dando co’a cauda horríveis piparotes,
Assim tu, ó caralho,
Erguendo o teu vermelho cabeçalho,
Faminto e arquejante,
Dando em vão rabanadas pelo espaço,
Pedias um cabaço!
Um cabaço! Que era este o único esforço,
Única empresa digna dos teus brios;
Porque surradas conas e punhetas
São ilusões, são petas,
Só dignas de caralhos doentios.
Quem extinguiu-te assim o entusiasmo?
Quem sepultou-te nesse vil marasmo?
Acaso p’ra teu tormento,
Endefluxou-te algum esquentamento?
Ou em pívias estéreis te cansaste,
Ficando reduzido a inútil traste?
Por ventura do tempo a destra irada
Quebrou-te as forças, envergou-te o colo,
E assim deixou-te pálido e pendente,
Olhando para o solo,
Bem como inútil lâmpada apagada
Entre duas colunas pendurada?
Caralho sem tesão é fruta chocha,
Sem gosto nem cheirume,
Linguiça com bolor, banana podre,
É lampião sem lume,
Teta que não dá leite,
Balão sem gás, candeia sem azeite.
Porém não é tempo ainda
De esmorecer,
Pois que teu mal ainda pode
Alívio ter.
Sus, ó caralho meu, não desanimes,
Que inda novos combates e vitórias
E mil brilhantes glórias
A ti reserva o fornicante Marte,
Que tudo vencer pode co’engenho e arte.
Eis um santo elixir miraculoso,
Que vem de longes terras,
Transpondo montes, serras,
E a mim chegou por modo misterioso.
Um pajé sem tesão, um nigromante
Das matas de Goiás,
Sentindo-se incapaz
De bem cumprir a lei do matrimônio,
Foi ter com o demônio,
A lhe pedir conselho
Para dar-lhe vigor ao aparelho,
Que já de encarquilhado,
De velho e de cansado,
Quase lhe sumia entre o pentelho.
À meia-noite, à luz da lua nova,
Co’os manitós falando em uma cova,
Ao som de atroz conjuro e negra praga,
Compôs esta triaga
De plantas cabalísticas colhidas
por suas próprias mãos às escondidas.
Esse velho pajé de piça mole,
Com uma gota desse feitiço,
Sentiu de novo renascer os brios
De seu velho chouriço!
E ao som das inúbias,
Ao som do boré,
Na taba ou na brenha,
Deitado ou de pé,
No macho ou na fêmea,
De noite ou de dia,
Fodendo se via
O velho pajé!
Se acaso ecoando
Na mata sombria,
Medonho se ouvia
O som do boré
Dizendo: – “Guerreiros,
Ó vinde ligeiros,
Que à guerra vos chama
Feroz aimoré”,
– Assim respondia
O velho pajé,
Brandindo o caralho,
Batendo c’o pé:
– “Mas neste trabalho,
Dizei, minha gente,
Mais forte quem é?
Quem vibra o marsapo
Com mais valentia?
Quem conas enfia
Com tanta destreza?
Quem fura cabaços
Com mais gentileza?”
E ao som das inúbias,
Ao som do boré,
Na taba ou na brenha,
Deitado ou de pé,
No macho ou na fêmea,
Fodia o pajé.
Se a inúbia soando
Por vales e outeiros,
À dança sagrada
Chamava os guerreiros,
De noite ou de dia,
Ninguém jamais via
O velho pajé,
Que sempre fodia
Na taba ou na brenha,
No macho ou na fêmea,
Deitado ou de pé,
E o duro marsapo,
Que sempre fodia,
Qual rijo tacape
A nada cedia!
Vassoura terrível
Dos cus indianos,
Por anos e anos
Fodendo passou,
Levando de rojo
Donzelas e putas,
No seio das grutas
Fodendo acabou!
E com sua morte
Milhares de gretas
Fazendo punhetas
Saudosas deixou...
Feliz caralho meu, exulta, exulta!
Tu que aos conos fizeste guerra viva,
E nas guerras de amor criaste calos,
Eleva a fronte altiva;
Em triunfo sacode hoje os badalos;
Alimpa esse bolor, lava essa cara,
Que a Deusa dos amores,
Já pródiga em favores,
Hoje novos triunfos te prepara.
Graças ao santo elixir
Que herdei do pajé bandalho,
Vai hoje ficar em pé
O meu cansado caralho!
Vinde, ó putas e donzelas,
Vinde abrir as vossas pernas
Ao meu tremendo marsapo,
Que a todas, feias ou belas,
Com caralhadas eternas
Porei as cricas em trapo...
Graças ao santo elixir
Que herdei do pajé bandalho,
Vai hoje ficar em pé
O meu cansado caralho!
Sus, caralho! Este elixir
Ao combate hoje te chama
E de novo ardor te inflama
Para as campanhas do amor!
Não mais ficarás à-toa
Nesta indolência tamanha,
Criando teias de aranha,
Cobrindo-te de bolor...
Este elixir milagroso,
O maior mimo da terra,
Com uma só gota encerra
Quinze dias de tesão...
Do macróbio centenário
Ao esquecido marsapo,
Que já mole como um trapo,
Nas pernas balança em vão,
Dá tal força e valentia
Que só com uma estocada
Põe a porta escancarada
Do mais rebelde cabaço,
E pode um cento de fêmeas
Foder de fio a pavio,
Sem nunca sentir cansaço...
Eu te adoro, água divina,
Santo elixir da tesão,
Eu te dou meu coração,
Eu te entrego a minha porra!
Faze que ela, sempre tesa,
E em tesão sempre crescendo,
Sem cessar viva fodendo,
Até que fodendo morra!
Sim, faze que este caralho,
Por tua santa influência,
A todos vença em potência,
E, com gloriosos abonos,
Seja logo proclamado
Vencedor de cem mil conos...
E seja em todas as rodas
D’hoje em diante respeitado
Como herói de cem mil fodas,
Por seus heróicos trabalhos,
Eleito – rei dos caralhos!