Amigos da Alcova

domingo, 30 de agosto de 2015

Anêmicas


Medeiros e Albuquerque (1867-1934)


Eu abomino as pálidas donzelas,
sem sangue, sem calor, sem movimento
que aos abraços do amor perdem o alento,
nas longas noites sensuais e belas.

Quero sentir meu peito contra o peito
de alguém cheio de vida e mocidade
palpitar na gostosa ansiedade
dos loucos beijos, no perfúmeo leito.

Quero apertá-la doida... doidamente...
no momento do espasmo deleitoso
e sentir seu sangue vigoroso
palpitar sob mim, convulsamente...

Sirvam as doces virgens delicadas
– românticas beldades vaporosas –
para enfeitar as páginas mimosas
das crônicas antigas, ilustradas...

domingo, 16 de agosto de 2015

As frutas de Pernambuco


João Cabral de Melo Neto (1920-1999)



Pernambuco, tão masculino,
que agrediu tudo, de menino,

é capaz das frutas mais fêmeas
e da femeeza mais sedenta.

São ninfomaníacas, quase,
no dissolver-se, no entregar-se,

Sem nada guardar-se, de puta.
Mesmo nas ácidas, o açúcar

é tão carnal, grosso, de corpo,
de corpo para o corpo, o coito,

que mais na cama que na mesa
seria cômodo querê-las.

domingo, 2 de agosto de 2015

Poeminha de louvor ao strip-tease secular


Millôr Fernandes (1923-2012)


Eu sou do tempo em que a mulher
Mostrar o tornozelo
Era um apelo!
Depois, já rapazinho, vi as primeiras pernas
De mulher
Sem saia;
Mas foi na praia!

A moda avança
A saia sobe mais
Mostra os joelhos
Infernais!

As fazendas
Com os anos
Se fazem mais leves
E surgem figurinhas
Em roupas transparentes
Pelas ruas:
Quase nuas.
E a mania do esporte
Trouxe o short.
O short amigo
Que trouxe consigo
O maiô de duas peças.
E logo, de audácia em audácia,
A natureza ganhando terreno
Sugeriu o biquíni,
O maiô de pequeno ficando mais pequeno
Não se sabendo mais
Até onde um corpo branco
Pode ficar moreno.

Deus,
A graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!

Voyeurs desde o Natal de 2009