Elson Farias
Era morena tostada,
forte, esbelta como um cão,os cabelos eram claros
de saboroso castanho;
longas tiras escorriam
na costa vincada em curvas
– eram cobras encravadas
no dorso de uma raiz;
o calcanhar era firme,
seu andar arroliçado,
as ilhargas mal roçavam
nas pregas da saia fina.
*
Fendeu-se o cerrado verde
de patativas e anus,filhos de caba, sol quente,
ventos gerais, água e mel;
ela vinha – balde, cuia,
dentes expostos, carnudos
os lábios, flor de papoula
a cantar e a se despir.
*
Ela vinha, mas menino
balador de passarinhos,não sabia descobri-la;
pressentia apenas vagos
sons das patas elegantes
dos poldros do meu instinto,
rachando cones de pedra
no meu raciocínio mole.
*
Ela esfalfou-se nas águas,
misturou-se com os peixes,camarões a beliscaram,
escamas, pés, gumes virgens;
o relampejo das palmas
como línguas de uma faca;
a sombra escura no fundo,
as coxas alvas e turvas;
peixes, menina de banho,
anáguas brancas ao sol.