Amigos da Alcova

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A Vaselina

Apollinaire (1880-1918)


Praça da Ópera: por uma farmácia a dentro

Entra um senhor bem-posto feito um pé-de-vento:

“Estou com pressa”, diz. “Eu quero vaselina.”

Gentil, o boticário indaga do cliente

           Impaciente

      A que uso se destina

      O graxo ingrediente:

“Se for para o rosto, é melhor levar da fina...

           Qual?

           Que tal

                Este artigo

       Que o senhor, sem perigo,

            Pode no rosto usar?

Eu por mim recomendo sempre a boricada.”

E o cliente, a bufar: “Mas que papagaiada!

Pouco me importa qual, pois é para enrabar!”


(Trad. José Paulo Paes)

Voyeurs desde o Natal de 2009