Amigos da Alcova

domingo, 10 de setembro de 2023

Minha freira, o meu amor

 

O rei a D. Feliciana pelas consoantes das suas décimas

Dom Afonso VI (1643-1843)

 

Minha freira, o meu amor,

O meu enleio amoroso,

Nada tem de primoroso,

Por ser o rei e senhor.

Assim, não vos cause dor,

Que não há disso razão;

Porque esta minha afeição

Nada tem que a desdoura,

Pois adorar a tal Moura

Pôde bem um rei cristão.

 

Nunca podereis achar,

Nem menos podereis ter

Quem me possa merecer

Como ela, nem me adorar,

Para mais inveja dar

A todas, amo a Donna Anna

Por prenda a mais soberana,

E, se em minha graça está,

Anna Felice será

e mais que Felice Anna.

 

Senhora Feliciana

A quem o tempo tirou

O felice e só deixou

A língua que a todos dana:

Pois o tempo desengana

Basta já de requebrar,

Que enjeitada heis de ficar,

Porque sempre foi mofina,

acha que, desde menina,

Vossa estrela vos quis dar.

 

Atrevida, empreendeis guerra

Contra Anna, mimo de amor,

Por lhe usurpar o favor

Do grão monarca da terra;

Mas como nela se encerra

Tanta gala e descrição

Contra as forças de Milão,

Guerreira defende o posto,

E jura pôr-vos no rosto

O nome de um seu irmão.


(Continua)


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