O
rei a D. Feliciana pelas consoantes das suas décimas
Dom Afonso VI (1643-1843)
Minha
freira, o meu amor,
O meu enleio
amoroso,
Nada tem de
primoroso,
Por ser o
rei e senhor.
Assim, não
vos cause dor,
Que não há
disso razão;
Porque esta
minha afeição
Nada tem que
a desdoura,
Pois adorar
a tal Moura
Pôde bem um
rei cristão.
Nunca
podereis achar,
Nem menos
podereis ter
Quem me
possa merecer
Como ela,
nem me adorar,
Para mais
inveja dar
A todas, amo
a Donna Anna
Por prenda a
mais soberana,
E, se em
minha graça está,
Anna Felice
será
e mais que
Felice Anna.
Senhora
Feliciana
A quem o
tempo tirou
O felice e
só deixou
A língua que
a todos dana:
Pois o tempo
desengana
Basta já de
requebrar,
Que
enjeitada heis de ficar,
Porque
sempre foi mofina,
acha que, desde
menina,
Vossa
estrela vos quis dar.
Atrevida,
empreendeis guerra
Contra Anna,
mimo de amor,
Por lhe
usurpar o favor
Do grão
monarca da terra;
Mas como
nela se encerra
Tanta gala e
descrição
Contra as
forças de Milão,
Guerreira
defende o posto,
E jura
pôr-vos no rosto
O nome de um
seu irmão.
(Continua)