Olavo
Bilac
(1865-1918)
Chega
do baile. Descansa.
Move
a ebúrnea ventarola.
Que
aroma de sua trança
Voluptuoso
se evola!
Ao
vê-la, a alcova deserta
E
muda até então, em roda
Sentindo-a,
treme, desperta,
E é
festa e delírio toda.
Despe-se.
O manto primeiro
Retira,
as luvas agora,
Agora
as joias, chuveiro
De
pedras da cor da aurora.
E
pelas pérolas, pelos
Rubins
de fogo e diamantes,
Faiscando
nos seus cabelos
Como
estrelas coruscantes.
Pelos
colares em dobras
Enrolados,
pelos finos
Braceletes,
como cobras
Mordendo
os braços divinos,
Pela
grinalda de flores,
Pelas
sedas que se agitam
Murmurando
e as várias cores
Vivas
do arco-íris imitam,
– Por
tudo, as mãos inquietas
Se
movem rapidamente,
Como
um par de borboletas
Sobre
um jardim florescente.
Voando
em torno, infinitas,
Precipitadas,
vão, soltas,
Revoltas
nuvens de fitas,
Nuvens
de rendas revoltas.
E, de
entre as rendas e o arminho,
Saltam
seus seios rosados,
Como
de dentro de um ninho
Dois
pássaros assustados.
E da
lâmpada suspensa
Treme
o clarão; e há por tudo
Uma
agitação imensa,
Um
êxtase imenso e mudo.
E,
como que por encanto,
Num
longo rumor de beijos,
Há
vozes em cada canto
E em
cada canto desejos…
Mais
um gesto… E, vagarosa,
Dos
ombros solta, a camisa
Pelo
seu corpo, amorosa
E
sensualmente, desliza.
E o
tronco altivo e direito,
O
braço, a curva macia
Da
espádua, o talhe do peito
Que
de tão branco irradia;
O
ventre que, como a neve,
Firme
e alvíssimo se arqueia
E
apenas embaixo um leve
Buço
dourado sombreia;
A
coxa firme, que desce
Curvamente,
a perna, o artelho;
Todo
o seu corpo aparece
Subitamente
no espelho…
Mas
logo um deslumbramento
Se
espalha na alcova inteira:
Com
um rápido movimento
Destouca-se
a cabeleira.
Que
riquíssimo tesouro
Naqueles
fios dardeja!
É
como uma nuvem de ouro
Que a
envolve, e, em zelos, a beija.
Toda,
contorno a contorno,
Da
fronte aos pés, cerca-a; e em ondas
Fulvas
derrama-se em torno
De
suas formas redondas:
E,
depois de apaixonada
Beijá-la
linha por linha,
Cai-lhe
às costas, desdobrada
Como
um manto de rainha…